016 café da esquina

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• Narrativa de Mariana • 

Claro que eu sabia das intenções de Charlotte. Desconfiava até que ela havia me encontrado ali de propósito, julgando pela situação em que a encontrei. Mas não me julgava tão especial a ponto dela fazer isso. Procurei pela vitrine os bolinhos de canela que ela havia citado e obviamente não tinha. Pedi apenas um café, assim como ela e nos sentamos numa mesa perto do vidro. Eu gostava de observar o movimento da cidade pelo reflexo. 

- E como estão as coisas? O contrato? - Charlotte puxava simpaticamente assunto comigo enquanto ajeitava seu corpo e sua enorme bolsa no banco acolchoado. Mexia o café vorazmente como se uma ansiedade gigante a consumisse. 

- Estão bem. Eu vou ter que me mudar para cá, então já estou me preparando para isso. - Dei de ombros deixando clara a importância do assunto em minha vida. Já estava preparada para que aquilo acontecesse há tanto tempo que tinha cada coisa minimamente planejada em minha mente.  

- E já esta procurando imóveis então? - Charlotte realmente havia se interessado pelo assunto por alguns momentos. Engolia seu café em mini goladas enquanto ele ainda estava quente demais. 

- Estou sim, na verdade queria achar algo por aqui mesmo. Manhattan é sempre tão linda. - Suspirei observando a cidade do lado de fora me perdendo em tantos sonhos que havia tido com tudo aquilo. Sai de meu devaneio e observei Charlotte ainda bebericando concentrada em seu café. - Charlotte, o que você quer comigo? - Os olhos da ruiva se arregalaram ao escutar minha pergunta. Entendeu que sua sutileza e esforços para simular um encontro não haviam obtido tanto sucesso assim.

- Você sabe sobre o que quero conversar com você. - Desistiu do fingimento e prosseguiu empenhada no que havia para dizer. - Mariana, há tantos casos de famosos que mantem tudo no sigilo, não precisa ser assim. - Ela colocou o corpo para frente, quase se debruçando sobre a mesa. - Não me diga que você não gosta dele porque vi em seu olhar! - Sussurrou em um tom de desafio para mim.

- Não é isso, ok? - Me recusei a aceitar o que Charlotte insinuava. Claro que eu gostava de Joseph, se fosse por esse motivo que eu havia desistido de tudo a minha vida estaria melhor do que qualquer outra. Mas pelo contrário, eu gostava dele até demais e isso era o que mais me assustava. - Olha Charlotte, é muito complicado ok? Talvez você não entenda...

- Te assusta gostar dele, não é? - O tom da mulher mudou totalmente. De repente na frete de meus olhos havia uma Charlotte a qual eu jamais tinha visto. Seu olhar era vagaroso e sua postura era calma e séria. - Não parece, mas eu posso entender muito bem. Reconheço outro bloqueio emocional a distancia. - Não podia disfarçar minha cara de surpresa. - É, eu sei, mas pode apostar que se eu vivo afundada no meu trabalho é para não precisar pensar nesse tipo de coisas. - Charlotte agarrou minha mão sobre a mesa e prosseguiu. - Mas vai por mim, esse não é o caminho certo. Sei muito bem disso. - Ela então se perdeu em memórias e pensamentos.

- Charlotte, eu... - Eu não sabia nem o que falar naquele momento. Ela havia me acertado em cheio com aquelas palavras. Me fez bambear e perceber de fato o quão amargurado poderia ser o caminho que eu estava escolhendo. - Me deixa pensar ok? Eu prometo que dessa vez dou notícias para você, ou para ele. - Um sorriso invadiu o rosto de Charlotte.

- Muito obrigado Mari, eu prometo que as coisas não são assim de fato como você pensa. Tem muita coisa boa nisso tudo também e ele realmente gosta de você. Tenho certeza que ele está disposto a fazer de tudo para convencê-la e até eu se quiser. - E lá estava ela de volta, a Charlotte assessora, metralhando palavras sem ao menos poder respirar. Agora era triste em perceber como aquela ansiedade que a consumia era exatamente o que ela necessitava para talvez tentar ser feliz a sua maneira. Eu não queria aquilo para mim e tinha acabado de enxergar isso.

o conceito do amor »  joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora