Eu nem tinha reparado a hora passar, quando fizemos uma pausa no mural policial que colocamos em frente a estante de livros. Era minha primeira vez fazendo isso, e tudo foi muito empolgante e divertido.
Lucas era mesmo um gênio de livros de crime, isso foi ficando mais explícito enquanto ele ia colocando imagens e situações interligadas no mural. E isso tudo era apenas o rabisco, digamos assim. Ele ia ligando situações e pessoas e falando ao mesmo tempo, e o livro já estava todo pronto na cabeça dele. Cá entre nós, ele poderia ser um ótimo policial.
Quando reparei que minha ajuda já não era necessária, meu estômago deu um alerta, e eu corri para a cozinha preparar algo para comermos. Então olhei a hora e já passava das 23:00.
Como não reparei que ficamos tanto tempo fazendo aquilo? Fiz um sanduíche caprichado e coloquei uma nota na porta da geladeira me lembrando que precisava sair para comprar coisas no dia seguinte. Fiz um suco com a laranja que vi na fruteira e segui caminhando para o quarto de escrita. Lucas estava a mil, deixando observações sobre pontos importantes com post it em todo o mural, quando cheguei e o chamei para comer.
- Eu sei que tudo está na sua cabeça agora e que você está a mil, mas vamos fazer uma pausa para um sanduíche? - ele me olhou de soslaio e disse:
- Não tenho tempo pra isso! Olha como tudo está fluindo! - ele disse animado.
- PAUSA AGORA! - eu disse firme, e fiquei chocada comigo mesma pela forma como me passei novamente com esse garoto. Ele me olhou com olhos arregalados e disse:
- Ok!
Sentamos ali mesmo no chão e comemos nosso lanche enquanto discutíamos o que mais faltava pra acrescentar.
- Acho que eu poderia fazer uma série sobre isso, poderia me aprofundar mais na hestória, dar mais detalhes, acho que ficaria legal. A primeira série de Akagi, acho que daria certo - ele disse tão animado que passou a animação pra mim, é claro.
- Poderíamos fazer detalhes em cada livro onde o leitor pudesse tentar desvendar o crime junto. Capas com spoilers, peças separadas de investigação, assim como montamos o mural, isso seria muito divertido e diferente de qualquer outro livro. - Lucas me olhou sério e disse:
- Isabel tinha razão, você é muito boa nisso! Porque nunca ouvi falar que trabalhou como editora em outros livros? - o fato de receber um elogio aleatório me deixou em êxtase e envergonhada ao mesmo tempo.
- Bom, para ser sincera, entrei na empresa a três anos, e assim que recebi meu primeiro trabalho tive o azar de ser escolhida para lidar com alguém que resolveu parar de escrever.
- Como assim?
- Conhece Maria Vasconcelos? A escritora de romances clássicos?
- A que fugiu com o namorado para desbravar o mundo?
- Exatamente! Me designaram como editora dela e quando cheguei em sua casa ela estava vestida com roupa havaiana bebendo uma piña colada, e me informou, assim sem mais nem menos, que estava desistindo da carreira para viajar pelo mundo.
Isabel quase me jogou do 10⁰ andar - eu disse dando uma risada.- Não, Isabel não é cruel assim - ele disse sorrindo.
- Não é cruel? Não sei que Isabel você conhece mas na empresa ela é a mais cruel que existe. Trabalho lá a três anos e sabe o que ela disse hoje pra mim? - ele arregalou os olhos e fez sinal pra eu continuar.
- "Ei, você! Como é mesmo o seu nome?" - falei tentando imitar a voz dela.
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A um livro de distância
RomanceFernanda era uma editora de livros que não teve lá muita sorte desde que entrou na Orbe, a empresa mais badalada do país. Devido a um percauso ela teve uma oportunidade única que vai mudar sua vida de ponta cabeça. Um livro louco, divertido e cheio...