Capítulo 70

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Ao chegarmos no hospital, Isabel já estava lá. Como? Eu não sei. Minha cabeça doía de mais para pensar ou perguntar qualquer coisa. Me sentia destroçada. Se eu soubesse que isso poderia acontecer, jamais teria feito-o sair de casa. Agora entendia o motivo do seu enclausuramento. Ele se sentia mal de poder passar por aquele lugar de novo. O lugar que tirou sua família. Nunca tínhamos falado muito sobre isso, mas eu o entendia.

- Fernanda, sei que está abalada, mas vai ficar tudo bem. Fique tranquila - disse Isabel ao se aproximar, me cobrindo com uma manta ao me ver ensopada.

- Aquele lugar... - foi o que eu disse sem conseguir terminar.

- Sim, é o local de onde Lucas foi salvo - após esse comentário meus olhos se grudaram em Isabel esperando por mais. Por mais da história do homem que estava lá dentro recebendo socorro. Do homem que mudou minha vida através de nosso encontro pela edição de um livro.

- O que você quer dizer? Eu achei que fosse o local que ele perdeu seus pais.

- E foi. Mas foi também o lugar onde meu sobrinho renasceu através das mãos de um bem feitor. Um caminhoneiro dormiu ao volante e colidiu com o carro de minha irmã. O choque foi muito grande, infelizmente ela e Hiroshi, meu cunhado, ficaram inconscientes. Porém, mesmo com a chuva, uma boa alma que viu o acidente parou para ajudar. Ele viu Lucas chorando no banco de trás do carro. Tirou seu cinto, colocou-o em um local seguro, e voltou para resgatar minha irmã e seu marido. Mesmo com a chuva, o caminhão pegou fogo devido a batida e explodiu. Infelizmente tirando a vida do seu salvador além de sua família. Até hoje, sempre na data do ocorrido, eu e Lucas vamos deixar flores e agradecer o homem generoso e de bom coração, que se colocou em risco para salvar a vida de uma criança e sua família.

Isso não pode ser verdade! Por isso aquele lugar era tão familiar.

- O nome do homem que salvou Lucas, era Alberto Dias?

- Era sim! Como você sabe?

- Esse homem é meu pai - disse Felipe ao ouvir a conversa de longe.

Quando me virei ao seu encontro pude ver seus olhos marejados, que sorriram em minha direção.

- Era a cara dele salvar alguém em meio a um caos. Quem diria que no fim ele teria salvo a criança que num futuro próximo salvaria sua filha? Se isso não é destino, o que mais pode ser?

Desabei. Ali mesmo onde estava, molhada e despedaçada, senti meu coração aquecer.

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