Capítulo 25

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Voltamos pra casa meio casal apaixonado. De mãos dadas e apenas respirando e vivendo isso. Não vou negar que foi incrível. Desde o que vivi com Rodrigo, não me permiti sentir nada com mais ninguém, e estar com uma pessoa carinhosa e sensível como Lucas me faz pensar que talvez isso pode ser real. Que o amor pode ser real.

- Meu Deus! - Lucas disse e sibilou meio em choque. Quando meus olhos miraram o que ele observava o susto foi tanto que quase cai ali mesmo e cavei um buraco no chão.

Azuki havia destruído a casa. Não, destruir é um elfemismo, ele simplesmente conseguiu fazer uma casa maravilhosa e aconchegante parecer uma casa de filme de terror.

As cortinas estavam rasgadas, as almofadas esfiapadas, o sofá todo arranhado, e ele havia destruído alguma coisa que não identifiquei, mas os restos mortais estavam por todo o chão.

- Eu vou descontar do meu salário, se isso for possível, porque tudo parece muito caro - então enquanto tentava por a cabeça no lugar e pedir um milhão de desculpas para Lucas ele começou a rir muito enquanto pegava Azuki no colo e o acariciava com gosto.

- Eu adorei esse gato, de verdade. Acho que ele poderia passar férias na minha casa as vezes, como uma guarda compartilhada já que estamos nos divorciando.

- Adorei a ideia! Quando eu não aguentar mais esse maluco, mando pra sua casa - e rimos em uníssono enquanto tentava arrumar toda a bagunça.

Depois de tudo ajeitado, fiz uma macarronada para dois, Lucas acendeu velas e serviu um vinho para acompanhar.

- Eu vou tomar apenas uma taça - eu disse impondo limite para eu mesma.

- Isso aí, eu também.

- Pensando bem, eu não sei muito de você né? - eu vi seu rosto descontraído mudar em um segundo.

- Eu não gosto de falar de mim. É monótono.

- Mas eu gostaria de saber um pouco mais sobre você, se não fosse incômodo - falei transmitindo um pouco de tranquilidade para ver se seu humor voltava ao normal.

- Sou filho único. Perdi meus pais em um acidente de carro onde eu estava junto. A partir daí fui criado por minha tia e é isso, como eu disse, monótono - eu senti que ele não gostava daquilo, senti que ele ficava mal. O clima no ar dizia tudo, então tentei dar uma de Lucas e por divertimento no assunto.

- Nada de ex maluco nem nome sujo no Serasa? Realmente, bem monótono - e quando vi aquele sorriso eu soube que havia conseguido.

- Nem ex tenho, imagina maluca.

- Como assim? Você é bonito e inteligente, como não tem ex? - falei de supetão, e só depois fiquei constrangida. Acabei de me entregar não foi?

- Ah então você me acha bonito, hein? - falou com divertimento no olhar.

- Achei que você soubesse.

- Na verdade nunca alguém sequer me disse, mas obrigada por me deixar informado - riu se divertindo com meu desconforto.

- Depois do incidente com meus pais não tive muita vontade de viver, quanto menos de me apegar a alguém que poderia me deixar novamente. Apesar de muito tratamento eu ainda não me sinto seguro para me envolver e chegar a me apegar as pessoas. Já é difícil aceitar que posso perder meus tios, e sempre acho que estou pagando por algo que fiz ou que não sou merecedor de ter alguém por perto muito tempo. Como um azar eterno - aquilo doeu. Eu meio que pensava assim também com relação a Rodrigo, mas ver alguém dizendo isso de si me dava raiva, raiva do mundo por fazer essa pessoa incrível se sentir assim. Será que era assim que as pessoas ao meu redor se sentiam?

- Você é bom de mais pra receber punição, não acha?

- Ainda acredito que fui o responsável pelo acidente. Estávamos indo comemorar meu aniversário, então não sei, as coisas poderiam ser diferentes se eu não tivesse implorado para ir comer bolo de morango.

- Também acho que as coisas teriam sido diferentes se eu não tivesse conhecido um cara popular na escola e mesmo não tendo nada do que ele gostava, eu o persegui para termos um relacionamento. A culpa foi mais minha, até por continuar com aquilo, mas não acho que merecia ser tratada daquela forma, e não acho que se culpar por um acidente vai voltar atrás. É brega e irritante ouvir isso, mas sério? Eles iriam querer você vivendo exilado? Acho que eles iriam querer você sorrindo com essas covinhas amostra e conhecendo lugares e pessoas novas para ocupar um pouco do espaço que eles não puderam - eu falei tudo sem poder olhar nos seus olhos. Por sentir algo parecido com o que ele sentia, eu meio que disse tudo o que já tinha escutado e foi como se estivesse absorvendo aquelas palavras pela primeira vez.

Levantei meu rosto de qualquer coisa que estava observando enquanto falava, e vi aqueles lindos olhos caramelo me fitando com lágrimas embaçando sua visão. Eu senti que ele precisava de um abraço tanto quanto eu, então levantei e fui em sua direção. O vinho já fazendo efeito, já que em meio a tanto papo terminamos com a garrafa inteira.
O abracei assim mesmo, em pé, enquanto ele permanecia sentado enroscando seus braços na minha cintura. Ficamos assim um tempo.

Não precisávamos de palavras mais.
Quando aquele contato abrandou os ânimos, ele levantou seus olhos para mim e pude ver que o clima havia mudado. Ele não transmitia mais gratidão, e sim, desejo. E eu soube que a partir daquele momento as coisas iriam mudar.

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