Capítulo 45

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Assim que chegamos na casa, me senti abraçada. Parecia que cada cantinho me fez falta. Azuki como sempre, saiu em disparada para conhecer todos os cômodos e já enfiou as unhas em um tapete na sala. Lucas apenas ria enquanto eu pensava em uma forma de matar meu gato.

- Íamos comer pipoca, mas sei que talvez agora você pode não querer..

- Claro que não! Estou faminta. Essa situação deve ter gasto todas as energias que me restavam. Preciso recarregar. Ainda bem que lembrei de trazer as sobras do jantar.

- Que bom, porque também estou morrendo de fome. Vou por suas coisas no seu quarto e já venho te acompanhar - essa frase cutucou lá no cantinho do peito. Meu quarto. Parecia tão natural, tão familiar. Nem consegui fazer piada para acalmar meu coração derretido.

Cinco minutos depois e ele estava lavando as mãos para me ajudar.
Em pouco tempo estávamos comendo e tomando um bom vinho do Porto para acalmar nossos ânimos. Azuki já estava confortavelmente dormindo no sofá de onde tomou posse.

- Posso pedir algo estranho? - levantei meus olhos do segundo prato que já havia servido.

- Acho que nada pode ser mais estranho que qualquer coisa que já nos aconteceu.

- Você pode dormir comigo hoje? Acho que não vou conseguir dormir tranquilo depois de tudo que vi, se você não estiver por perto.

Alguém chama o SAMU? Tô infartando aqui!

- Que bom que você propôs, porque eu estava com vergonha de pedir e não conseguiria dormir sozinha também.

Após essa frase, as covinhas dele deram o ar da graça, e eu só pude sorrir de volta, sem saber como cargas d'água eu tinha tanta sorte.

Comemos, bebemos, tomamos nossos banhos, então deitamos. Estávamos frente a frente, nos olhando. Não víamos desejo, ou malícia naqueles olhares. Apenas carinho, respeito, bem querer. Foi o momento mais íntimo que já tive. Parecia que ele conseguia ver tudo dentro de mim. Eu não conseguia mais esconder meus sentimentos, e nem sei se realmente quis isso em algum momento.

- Você acha que poderíamos realmente ter alguma coisa sem atrapalhar nosso trabalho? - Soltei uma bomba assim, sem ninguém esperar, nem mesmo eu.

- Acredito que somos profissionais o suficiente pra não misturar as coisas, mas quero tentar se você também quiser.

- Eu quero! Mesmo sabendo que Isabel vai me esfolar viva e me demitir a qualquer momento se descobrir, eu gostaria de tentar.

- Ela não vai fazer isso, na verdade ela pareceu feliz quando dei a entender que estávamos tendo algo.

- O QUE??? - pulei na cama assim que ouvi essa informação bombástica.

- Você contou pra ela? Lucas! - ele também sentou na cama após chamá-lo de forma brava.

- Ei ei, já te disse. Nada de ficar com estresse antes da hora. Conversamos porque ela queria saber o que estava rolando, e no fim deu tudo certo. Fui sincero, o mais sincero. E ela pareceu feliz. Percebeu que as coisas aconteceram gradualmente. Óbvio que exclui a parte da bebedeira, casamento, macarena e afins - disse rindo ao olhar pro lado.

- Ela ficou tranquila? Sério? - falei mais calma depois do primeiro choque.

- Você não reparou como ela te olhou? Eu percebi a diferença na hora.

- É mesmo! Eu vi que ela me olhou com carinho, achei estranho, mas com Isabel tudo é estranho de uma hora pra outra.

O olhei e ele estava me observando de novo. Nos deitamos, ele segurou minha mão.

- Obrigado por mudar a minha vida monótona - assim que ele disse isso, eu senti que eu é que tinha mudado por causa dele.

- Obrigada por tudo e ponto.

Sorrimos em meio ao cansaço, e com o calor dos nossos corpos pegamos no sono. E eu pude sentir a tranquilidade que emanava dele e relaxar, pela primeira vez em muito tempo.

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