Capítulo 17

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AVISO IMPORTANTE:
ESSE CAPÍTULO CONTEM GATILHO SOBRE ABUSO PSICOLÓGICO E PERSEGUIÇÃO. SE VOCÊ NÃO SE SENTE BEM COM ISSO, PULE O CAPÍTULO.















No caminho lembrei que devíamos passar para fazer compras. Lucas não me deixou pagar nada com o cartão da empresa, mesmo eu explicando que era a empresa que bancaria.

- Agora que sei que sou podre de rico vamos comer do bom e do melhor, nada mais de lamen, e sabe de uma coisa? - olhei incrédula.

- Vamos viajar! Isso mesmo! Vamos viajar para um lugar legal que nos dê ideias. O que acha de um chalé? Ou uma casa na beira de uma praia? - ele estava animado, e eu que não ia negar uma viajem no meio do trabalho.

- Como você é podre de rico, vou aceitar - dei risada.

- Quer dizer, eu não vou precisar pagar né? Porque, se sim eu estou completamente quebrada, não vai acontecer - tagarelei desesperada. Ele deu aquela risada gostosa e concordou. Perai? Risada gostosa? De onde saiu isso?

- Não se preocupe! Tudo por minha conta.

- Ok, mas vou precisar passar em casa, ver se meu irmão não matou meu gato em apenas um dia, e pegar umas roupas já que eu pensei que viria a casa de um senhor e só trouxe pijamas.

- Você tem um gato? E um irmão? Quantas informações em apenas uma frase. Mais algo que eu precise saber?

- Tipo o que? Nome sujo no Serasa? Uma mãe baba ovo do irmão que não faz nada, e um ex psicopata? É, basicamente é isso.

- Como assim ex psicopata? Ele te perseguiu ou algo assim?

- Exatamente isso! Você estava lá? - dei risada tentando aliviar a tensão que havia visto em seus ombros com o assunto.

- Explique-se.

- Namoramos no fim do ensino médio, ele era legal mas o bambambã do bairro. Todos queriam ser seu amigo ou namorada. Eu era nerd, alguém bem invisível nessa época, não que tenha mudado muito - ri de mim mesma. Ele continuou com os olhos em mim me dando entender que deveria continuar.

- Eu vi algumas vezes ele me traindo, tentei terminar mas ele fazia aquele psicológico barato, "ninguém vai te querer, você não é ninguém, nem é bonita". Eu fui empurrando com a barriga. Até hoje não sei como deixei isso acontecer por tanto tempo. Me sinto idiota vendo a situação de fora. Minhas amigas da época tentavam me alertar, mas meus olhos estavam vendados. Passei a faculdade toda assim, e no fim resolvi terminar. Fui firme e grossa e coloquei um ponto final. Foi o que acreditei - suspirei com a lembrança inoportuna de tudo o que passou.

- Ele começou a me seguir, aparecia nos lugares e fazia escândalo, me fazia passar vergonha em frente a amigos, pessoas do trabalho. Tive que fazer um B.O. contra ele. Não adiantou. Ele entrou na minha casa, até hoje não sabemos como. Depois disso meu irmão resolver viver comigo, ele é um encostado mas me sinto muito mais segura de ter alguém em casa - senti ele pegar na minha mão, me dando apoio mesmo com um leve toque.

- Nós mudamos de cidade, e mesmo assim não conseguia dormir. Qualquer barulho era motivo para surtos. Nunca mais tive notícias dele, ainda bem, fiz muita terapia, mas não posso dizer que me sinto totalmente segura. Ainda tenho medo, ainda tenho preocupações. Fico com receio de me relacionar e passar por isso de novo - escutei as sacolas e em seguida veio o abraço. Foi a atitude mais doce que já recebi de alguém.

- Você não vai passar por isso de novo, sabe porquê? Porque você é forte, é competente, é obstinada, é inteligente e independente. Até sustenta seu irmão encostado, lembra? - dei risada com o comentário bobo em meio a tantos elogios que nem sabia que eram meus. Foi a primeira vez depois da mudança que eu falei sobre isso, e confesso que foi reconfortante, tanto quanto esse abraço.

Ele me soltou devagar, olhou nos meus olhos e disse:

- E sabe o que mais? Agora você tem outra pessoa além do seu irmão e do gato que estou curioso para saber o nome. Eu sou ótimo em instalar câmeras de segurança e alarmes. Você vai sim se sentir segura, é sua casa, pelo amor de Deus! - sorri com os olhos marejados do carinho enorme que estava sentindo por esse homem nesse exato momento.

Como podemos errar tanto sobre alguém a primeira vista? Com Rodrigo eu achei que seria incrível, achava ele incrível pelo que transmitia, e no fim foi tudo um grande erro. Não, um aprendizado, definitivamente um aprendizado.

Já com Lucas, achei ele grosseiro e olhe só, está se oferecendo para me deixar segura na minha própria casa.

Um, me corroeu aos poucos durante anos, o outro em apenas um dia me trouxe paz .
Agora, alguém me diz? Porque estou comparando meu chefe com meu ex?

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