Capítulo 39

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Subi no palco suando a bica. Eu sentia minhas bochechas queimarem, e ouvi de longe, o mesmo roteiro que o apresentador passou para Gabi. Engoli em seco, e pensei no que eu poderia falar sem parecer muito estranha.

- Meu nome é Fernanda Dias, tenho 34 anos. Nas horas vagas.. - o que eu fazia nas horas vagas? Nada além de ler e trabalhar. Meu pai, o que eu poderia dizer para parecer interessante? Me lembrei de súbito dos momentos que passei com Lucas, e que tudo me fez muito bem. Porque não numerá-los?

- Nas horas vagas gosto de ler, escrever, criar coisas novas, caminhar pela praia, desfrutar de um bom jantar com uma conversa suave, olhar pássaros no parque, brincar com meu gato e estar perto de pessoas interessantes e misteriosas.

- Ok. Isso foi bem específico - disse o apresentador me deixando um pouco constrangida.

- Eu dou 5.000,00!

Todos ficaram em choque, incluindo eu. No meu caso, o choque não foi pelo valor, e sim pela pessoa que estava comprando minha companhia.

Lá estava ele, me vendo passar essa vergonha descomunal. E quando nossos olhos se encontraram, meu coração deu um tropeço. Porque ele estava fazendo isso? Achei que não queria mais me ver nem pintada de ouro. Será que era para me fazer passar vergonha? Pagar e não me querer como companhia?

- Os homens essa noite estão me tirando do roteiro. Senhor, nem começamos os lances.

-10.000,00 e não se fala mais nisso!

- Não vou mais retrucar, fique a vontade para vir buscar sua acompanhante por 10.000,00. Dou- lhe uma, dou-lhe duas e vendido, para o cavalheiro alto no fundo do salão!!!

Ele foi passando por entre as pessoas que abriram espaço, andando com uma tranquilidade irritante. Eu fiquei congelada lá, escutando apenas burburinhos e meu coração ascelerado. Quando ele chegou perto esticou a mão em minha direção e disse em um tom que apenas eu pude escutar:

- Você me concede sua companhia essa noite, Sra Blackbarry?

E nesse momento eu só queria me agarrar a ele e não soltar mais. Porém, o que fiz foi esticar minha mão em sua direção e segui-lo para um local mais afastado. Quando chegamos a um lugar sem muitas pessoas por perto, mesmo todos nos encarando, perguntei ríspidamente:

- Isso é algum tipo de brincadeira? - pelo seu semblante ele parecia envergonhado.

- Eu soube o que realmente aconteceu. Isabel me falou sobre o lance do grupo da empresa, que haviam roubado o celular da sua amiga. Me desculpa ter dito todas aquelas coisas horríveis a seu respeito. Você sabe que não é verdade. Eu realmente não sei o que fazer para ter seu perdão. Vim hoje, nesse evento, desesperado para vê-la, e por um fim a essa situação que eu mesmo criei. Se você não quiser passar o restante da noite comigo, eu vou entender. Eu mesmo me odeio por tudo que disse. Mas espero que você ao menos possa perdoar minha atitude - ele falou tudo de supetão me deixando sem reação.

- Eu também vim hoje ao evento para por um fim nessa situação. Fui atrás de todos os fatos, pegamos filmagens da câmera de segurança do bar. Eu não queria que você tivesse essa visão horrível sobre mim. Apesar de toda a loucura que fizemos juntos eu te juro que não sou uma pessoa ruim. Eu jamais casaria com você por dinheiro. Me desculpe se tudo pareceu dessa forma, e me desculpe por te por nessa posição.

- Não! Me desculpe você, de verdade. Eu deveria ter confiado mais na sua palavra. Eu devia ter ouvido seu lado. Eu já perdi tantas pessoas que amei, que fiquei com medo de você ser mais uma pessoa que me deixaria, e que o que vivemos não fosse real.

- Foi real para mim! - eu disse olhando em seus olhos e vi seu sorriso lindo se abrir ao dizer:

- Foi real pra mim também!

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