Capítulo 42

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{ ESTE CAPÍTULO CONTEM GATILHOS. SE VOCÊ NÃO SE SENTE BEM COM ISSO, PULE-O.}

















Seguimos o caminho do mercadinho do bairro. Comprei algumas poucas coisas para fazer um macarrão com cogumelos, meu preferido.

Lucas, como sempre, se prontificou a pagar. Voltamos tendo uma conversa tranquila, até que vi uma pessoa de longe que me fez lembrar uma semelhança no andar. Na mesma hora congelei. Comecei a tremer e senti um arrepio correr minha espinha. Lucas percebeu e veio a meu encontro, olhando na mesma direção que eu.

Haviam dois homens se afastando a duas quadras de distância, mas eu senti novamente uma semelhança que não via a muito tempo.

- Fernanda! Olha pra mim! Nos meus olhos. Está tudo bem, eu estou aqui. Fique calma, respire - eu não entendi porque ele estava falando isso até perceber que estava tendo uma crise de pânico.

Quando minha respiração voltou ao normal, percebi que Lucas estava esfregando meus braços e minhas mãos, respirando devagar enquanto olhava nos meus olhos. E como uma enchurrada, a vontade de beijá-lo simplesmente veio. Eu me desprendi e larguei a sacola que me restava, segurei os dois lados do seu rosto entre minhas mãos e o beijei.

Assim que o fiz, o sentimento de culpa me veio. Eu não queria usar ele para meus problemas íntimos, mas ele simplesmente parecia o ar puro e gélido após muito tempo debaixo d'água.

Senti braços me rodear e tudo ficou quente. Nosso beijo cessou mas vieram as palavras de conforto.

- Eu estou aqui! Apenas respire fundo. Não vou deixar você. Me use de ponto de apoio. Aguente firme. Respire comigo - ele disse enquanto me acalmava e respirava, e me abraçava.

Quando dei por mim estávamos como dois pássaros, aninhados um ao outro. Me senti segura. Já não sabia mais se aquele homem que vi realmente era tão parecido como pensei, se realmente tinha os trejeitos.

Quando a crise vem, nem sempre consigo ter noção do real e do imaginário. Tudo está bem em um momento e no outro desaba. Começo a achar que vi coisas que as vezes não estavam lá. O medo me consome. E apesar de muito tempo tratando meu corpo e minha mente para esquecer aquilo tudo, quando essas crises acontecem, eu percebo que ainda não foi o suficiente.

Chegando em casa me senti mais segura, sentei no balcão da cozinha enquanto Lucas me trouxe um copo d'água. Após o choque a vergonha veio com tudo.

- Lucas, me desculpe.

- Pelo que? - ele disse lavando as coisas para cozinharmos.

- Como pelo que? Por fazer você passar vergonha comigo na rua, e por beija-lo sem permissão.

- Eu não passei vergonha nenhuma, e beijos seus estão sempre permitidos - ele respondeu sem olhar para mim, pondo o macarrão na panela.

- É sério, não seja bobo - e então ele se virou.

- Também tenho crises, e sei do que são capazes. Isso controla você por uns minutos, mas você não se deixou ser controlada. Você lutou, a procura por algo real para te cortar desse transe foi o beijo, e não me arrependo de ter correspondido. Até onde sei, somos casados então não vejo problema nisso - disse comendo um pedaço de cenoura crua enquanto levantava as sobrancelhas, dando um ar de "tanto faz, está tudo bem".

- Ainda estamos casados?

- Então... eu meio que queria falar com você sobre isso hoje. Vamos comer algo e falamos depois, pode ser?

Concordei mesmo não querendo. Eu não tinha forças para discutir nesse momento.

- Aonde está Azuki? Não o vi desde que chegamos.

Quando fomos procurá-lo, lá estava ele todo enrolado no terno de Lucas, fazendo o casaco de tóca e enchendo-o de pêlo. A risada veio preenchendo os cômodos, e eu soube que com ele tudo sempre seria mais leve.

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