É Hora de Partir

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Ainda na madrugada, enrolado no calor do lençóis, Jimin murmurou suado e delirante. O prato de sopa pela metade ainda estava na bandeja de prata, em cima da escrivaninha. A serva que deveria vigiar seus movimentos se encontrava dormindo na cadeira ao lado. Recebeu a ordem de cuidar da saúde do rapaz, mas a verdade é que ela temia tanto o Arsênico que passou boa parte do dia fechada no banheiro.

No entanto, um estalo em seu ouvido esquerdo a despertou bruscamente. Na penumbra do quarto ela se ergueu de súbito e observou com espanto o príncipe apontar para fora. A porta já estava aberta e correu constrangida e temerosa por ter sido pega dormindo em serviço.

Jeon não estava interessado em qualquer coisa além dos murmúrios insistentes e gotas de suor rolando pela testa de Jimin:

— O que há com você? – inquieto, ele levou o dedo indicador até a testa úmida e a sentiu queimar, notando ainda os dedos trêmulos agarrando a barra do lençol. — Essa estúpida não serve nem mesmo para lidar com uma febre. Guardas, larguem de covardia e venham ao menos até a porta para que me ouçam com atenção.

— Alteza! – três dos homens se espremeram na porta, mas não ousaram realmente entrar.

— Oh, por Deus – irritado, ele prosseguiu. — Mandem a minha mensagem para sua Rainha. O convidado da princesa está queimando em febre, ele precisa de cuidados mais sérios e… também precisa da princesa agora mesmo. Vão logo, não há tempo para conversas.

Assim que ficou sozinho outra vez, observou a cadeira desconfortável e decidiu se sentar na extremidade da cama, próximo de Jimin.

Também com um mau estar, Jeon agitou a cabeça e esfregou a própria testa. A culpa caiu duramente sobre suas costas.

— Eu as puni – como que para se livrar daquela sensação ruim, Jeon falou ao encarar o rosto corado e angustiado. — Você está me ouvindo? As enviei para o trabalho duro nos campos de algodão, dei-lhes uma punição realmente severa. E vou mandar que cuidem da sua alimentação a partir daqui, para que você fique mais forte, franguinho.

Com toda atenção presa na face de Jimin, o príncipe retirou o lenço de seda do bolso frontal do paletó e observou receoso os dedos trêmulos junto à barra da colcha de cama. Ele teve todo o cuidado possível quando passou a seda sobre a face suada algumas vezes, limpava-a cheio de culpa e espanto por notar que o ômega era realmente frágil.

Freou o gesto quando curvou os lábios num sorriso de canto, pois percebeu que o cheiro de rosas em seu lenço — ao tocar o nariz vermelho de Jimin — foi absorvido pelas narinas mínimas.

— Park Jimin – aquele nome escapou dos pensamentos de Jeon, se mostrando discreto como a sombra de um segredo por pouco não revelado. — Você não deve ter dependência dos feromônios de quem lhe causa infortúnios. Não é sensato.

Jeon se viu curioso com a calmaria que dominou o antes agitado corpo de Jimin. O olhar se manteve fixo na face corada e semblante carregado, o lenço em sua mão não foi movido outra vez. Parecia loucura pensar que um homem ômega pudesse encantá-lo com seus traços únicos e angelicais, mas Jeon tinha a vaga noção de que estava diante de um fato.

E aquilo o assustou:

— Temo que você não seja uma fada, como bem ouvi por aí, mas sim um bruxo. Veja só o que estou fazendo, oferecendo cuidados a outro homem. Que desastre, rapaz.

"Permita-me", tal pedido não foi proferido novamente, embora Jeon se recordasse de repente e de modo bastante vívido. Se estivesse em condições de falar algo, este seria o pedido de Jimin?

— Preciso que compreenda isto, franguinho: Nenhum de nós tem empatia suficiente para tratá-lo com decência. Eu mesmo não sou de dar qualquer importância para ômegas, considero perda de tempo.

Ômega De Valor - Jikook (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora