Cartas e Feromônios

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Com o passar dos dias de outono, a temperatura começou a cair de modo severo muitas vezes, mas nenhum floco de neve se viu no vilarejo. A chuva não dava trégua, impedindo os homens de trabalharem no campo e armazéns, e as ruas de terra batida se encontravam enlameadas e escorregadias. Não foram poucos os acidentes com caixas de cebolas e batatas que rolavam junto com seus donos. Porém, encharcados ou não, era preciso seguir com suas vidas.

No palácio, o mensageiro se aproximou rígido da friagem e com olhos inquietos. Freou seus passos na sala dos tronos e se curvou diante da princesa, a única nobre disposta cedo da manhã.

As cartas em suas mãos foram protegidas por sua bolsa de couro de boi, embora seus dedos trêmulos de frio as deixasse um tanto amassadas e mal jeitosas:

— Eles pedem mais – ele as entregou à Jaehye quando esta se aproximou incomodada com sua imagem bagunçada. O homem estava congelando, mas firme em seu propósito. — Estas são exigências particulares, cada carta foi escrita por um Park. Jamais presenciei tamanha urgência! Mandaram-me mesmo por debaixo desta tempestade, alteza, e disseram-me  que podem levar o ômega a qualquer momento para casa. Alegam o mesmo motivo da semana anterior: eles podem vir a sentir saudades repentinas.

— Oportunistas imorais! – Jaehye abriu as cartas com fúria, ágil e ansiosa para jogá-las fora. — Oh, uma nova carruagem, pois a anterior não foi grande o bastante. Grande o bastante! E pediram mais terras ao seu redor? O que esperam? Que eu lhes entregue a casa de seus vizinhos? Inadmissível! Omma, fico contente que tenha vindo até aqui tão cedo. Aproxime-se e leia comigo as exigências dos Park enquanto pensamos numa maneira de nos livrarmos deles.

A Rainha observou intrigada as cartas estendidas em sua direção, mas não tocou em nenhuma delas:

— E pensar que o ômega se recusa a receber sua marca.

— Três semanas não são o bastante, é claro – Jaehye respondeu com afinco, seu despreparo com a situação não passou despercebido pela mãe. — Eu mal tive tempo de mostrar a Jimin os jardins da ala oeste, pois não para de chover. Temos pouco tempo próximos, omma, e devo ser paciente com o jeito introvertido do meu ômega. Porém, isto não significa que ele está alheio aos meus esforços. Oh, mas isto não importa agora! O que devo fazer para que esses imorais cessem com seus pedidos exorbitantes? Jimin não é uma mercadoria!

— Ora, não seja hipócrita, Jaehye – a Rainha foi para o seu trono depois de assistir a reverência solene do mensageiro encharcado. — Não reclame do modo ao qual aquela gente vê um dos seus. Ainda que os Park tivessem algum afeto pelo ômega tenho certeza de que você não hesitaria em oferecer-lhes uma gorda oferta.

De ímpeto, Jaehye exclamou horrorizada com o modo que a Rainha falou consigo, no entanto, se viu sem argumentos. Certamente, caso os Park se recusassem a enviar Jimin ao palácio, ela teria que usar seus meios parar conseguir o que queria. Aquele era o único ômega de todo o reino! Como abrir mão de sua sorte?i

— Omma!

— Já basta deste drama, Jaehye. Estou farta de ouvi-la reclamar por horas a fio. Se você ofereceu algo aos abutres, tome cuidado com sua própria carne. Eles não vão embora; eles sempre querem mais. De todo modo, faça com que o jovem Park compreenda que sua decisão está tomada: Não é como se este ômega tivesse alguma escolha afinal de contas.

— Jimin é sensível, não vou forçá-lo de maneira nenhuma. E o que devo fazer com estas malditas cartas? – Jaehye balançou as cartas no ar, furiosa por estar nas mãos daquelas pessoas. — Eles sequer perguntam sobre o Jimin. São terríveis!

— Oh, minha querida – respondeu ela. — Tenho certeza de que o ômega não espera tanto de quem o vendeu. Quanto às cartas, faça o que eu disse. Arque com a sua carne, alimente os abutres até conseguir o que quer; a tal marca. Mensageiro, há algo mais? Tem notícias do príncipe?

Ômega De Valor - Jikook (ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora