Capítulo 1

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Com o celular despertando, acordo atordoada. Desligo o despertador e deito a cabeça no travesseiro novamente, enquanto suspiro. Mais um dia de trabalho, mas hoje era um pouquinho diferente: era sábado, e nos finais de semana aquele bar virava um inferno. Fecho os olhos, tentando me preparar psicologicamente, e em poucos segundos me levanto. Depois de fazer minha rotina diária, olho para o relógio e percebo que, mais uma vez, estou atrasada. 

Me visto rapidamente com uma calça preta e pego qualquer blusa que vejo pela frente. Calço minha sapatilha e pego minha bolsa, que estava em cima da pequena cômoda. Desço as escadas em passos rápidos e vou à cozinha. Despejo café em uma xícara e, mesmo sem ter colocado açúcar, bebo em grandes goles. Logo depois de deixar a xícara na pia, saio do apartamento e, enquanto o tranco, ouço uma voz ecoar do fundo do grande corredor. Era a minha vizinha, Cindy.

— Clark! — ela grita.

— O que foi? — respondo, parada ainda em frente à minha porta.

— Joga esse lixo fora pra mim. — Ela levanta a mão, mostrando a sacola.

Eu poderia dizer não, pois já estou atrasada, mas a Cindy não consegue andar. Ela tem uma doença (diz ela) que faz com que a perna fique inchada e dolorida o suficiente para não conseguir nem se levantar da cama às vezes. Correndo pelo corredor como uma doida, pego a sacola em sua mão, e ela agradece.

Na esperança de que o elevador estivesse funcionando, vou até ele, mas ao chegar lá... bem de cara me deparo com um papel enorme colado na porta do mesmo: "Em manutenção, por favor, dirija-se às escadas." Repetindo em ironia cada maldita palavra, desço. Não é a primeira vez que ele fica assim. Desde as últimas três semanas está nessa situação, e o que me leva a crer é que ninguém vai consertar essa porcaria.

Corro até o ponto de ônibus e, por graça, não esperei muito. Aquele ônibus sempre estava lotado, o que me fez acostumar com o calor e a agitação de outras pessoas enquanto passavam de um lado a outro em um espaço extremamente curto. Isso me fez lembrar uma vez em que, depois de subir no ônibus e procurar um lugar onde eu pudesse segurar, achei, mas ainda tinha um pequeno espaço para que outra pessoa pudesse ficar. Foi então que uma senhora que havia acabado de entrar fez questão de ficar atrás de mim, como se ela fosse me abraçar. Aquilo estava estranho, então, de forma dócil, me virei lentamente e disse onde ela podia segurar. A próxima parte é de enlouquecer.

— E se eu não quiser? Você acha mesmo que só por ser mais novinha sabe o que é melhor? — ela fechou a cara.

— Senhora... eu só quis dizer que é melhor para você se segurar aqui — falei, tentando ser paciente.

— Escute aqui — ela empinou o nariz. — Eu vou ficar onde eu bem entender.

— Ok, ok... aproveite e pare de roçar os seus peitos nas minhas costas, isso está esquisito pra caralho — falei em um tom grosseiro.

— O quê? Mas eu... eu... — ela gaguejou.

Graças a Deus, o ônibus já havia chegado ao ponto em que eu iria descer. Então, dizendo uma frase, a deixei: "Olha só, agora você tem um lugar, aproveite o privilégio." Outras pessoas que ouviram a conversa riram, e eu também acabei rindo depois de descer do ônibus. Aquela senhora com certeza já estava amargurada o suficiente, mas eu também ficaria, já que, depois de uma certa idade, tudo fica difícil e chato.

Depois de um tempo, o ônibus chegou ao ponto. Sempre saltava uma rua antes do bar, então, nos dias em que eu saía atrasada, eu corria pela rua como uma doida, e dessa vez não foi diferente. Assim que cheguei em frente ao bar, parei, tentando procurar ar para respirar enquanto estava com as mãos apoiadas nos joelhos. A Emma, minha colega de trabalho, me viu de lá de dentro e começou a rir, zombando de mim. Recuperando o fôlego, empurro a porta, que estava entreaberta, e entro. Passo pela segunda porta, que é a entrada dos funcionários, e já estou na grande cozinha.

Meu horário era sempre o mesmo: das 9:00 até as 22:00 da noite, com horário de almoço livre e descanso durante a tarde. Eu não podia dizer que era ruim, mas também não podia dizer que era bom, já que já trabalhei em lugares mais difíceis.

— Preparada para hoje? — Emma pergunta.

— Por que? O que tem hoje?

— O estresse de todo final de semana — responde, revirando os olhos.

— Sério, eu não aguento mais ter que ficar aguentando aqueles nojentos — Cassie diz.

— Quais deles? — pergunto.

— Sabe, são todos, é tudo uma porcaria só. Enchem a cara, brigam, quebram garrafas e depois somos nós que limpamos a merda toda.

— Uhum, e o pior... flertam sempre, até os mais velhos — eu digo.

— São uns nojentos, se pelo menos fossem ricos — Emma diz, fazendo com que eu e as outras garotas riamos.

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