Capítulo 4

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Após um dia exaustivo lidando com as chateações do Scott, finalmente chega ao fim do meu expediente. No entanto, antes de ir embora, tenho que varrer e passar pano no chão. Caso contrário, amanhã de manhã serei bombardeada com reclamações, e isso é exatamente o que eu não quero no momento.

Quando sou eu quem fecha o bar, sou sempre a última a sair. Então, observando ao redor e percebendo o silêncio da meia-noite, pego a vassoura e começo a varrer o chão enquanto canto uma música aleatória. De repente, ouço vozes do lado de fora e levanto a cabeça. Ao olhar para a porta de vidro, vejo um grupo de homens. Suspiro, abaixo a cabeça novamente e continuo varrendo. Mas, de repente, a porta se abre, e eu já me preparo para dizer que o bar está fechado. Porém, paro no meio da frase ao ver quem está em minha frente...

— Senhores, por favor, já estamos... 

— Ah, então é aqui que trabalha... E ainda se acha boa demais pra mim? — diz sarcasticamente 

— É... — afirmo, olhando-o nos olhos, sentindo a raiva começar a tomar conta de mim. Respiro fundo e continuo falando.  

— Já estamos fechados.

— A porta estava aberta, então essa merda também está. Me sirva a porra de um whisky — ele diz com uma expressão séria.

— Está fechado, eu já disse — ele se aproxima, ficando perto de mim, e eu falo rapidamente. 

— Se você chegar mais perto, vou quebrar essa vassoura batendo em você!

— Vamos ver — ele me desafia, se aproximando lentamente e olhando nos meus olhos.

Não posso negar que a maneira como ele me olha é estranha, mas também não posso negar que a forma como o estou olhando também é estranha. Nesse momento, poderia me afastar e reafirmar que o bar está fechado, ou poderia simplesmente pegar a vassoura que está em minhas mãos e deixá-la pronta para atacar. No entanto, fico paralisada. Ele continua se aproximando, e eu não consigo fazer nada. Até que, de repente, ele desvia o olhar para o meu crachá...

— Fechado, não é... Clark? — diz, segurando meu crachá e tentando ler.

— É — digo, esperando ansiosamente que ele se afaste para que essa sensação desapareça de uma vez.

Ele volta a me olhar nos olhos, e eu, já me sentindo desconcertada, desvio o olhar. Ele se afasta, assentindo com a cabeça, e logo sai pela porta com seus amigos. Solto um suspiro profundo, tentando entender o que acabou de acontecer... Depois de terminar de limpar o bar, vou ao vestiário, tiro a camisa do uniforme e coloco minha blusa normal. Em seguida, pego minha bolsa e a chave do bar. 

Devido ao horário, não há mais ônibus circulando, então pego meu celular e chamo um Uber, que não demora muito para chegar. Ao chegar em casa, jogo a bolsa na cama e vou direto para o banheiro. Depois de um banho longo, visto meu pijama e me deito. Meu corpo está implorando por descanso.

Assim que fecho os olhos, acabo adormecendo. No dia seguinte, acordo com o celular despertando. Desligo o despertador e sigo minha rotina matinal habitual. Dessa vez, chego ao trabalho cedo. Assim que abro a porta do vestiário, vejo a Emma e começo a conversar com ela sobre o que aconteceu ontem.

— Sabe quem apareceu aqui antes de fechar ontem?

— Não enrola, conta logo — ela se aproxima.

— Thom, Thomas, sei lá, algo assim...

— O que ele queria aqui?

— Beber, só sei que foi estranho. Lembro que ele ficou me olhando de um jeito estranho, e eu não conseguia fazer nada...

— Espera, ele fez o quê? — Emma solta uma risada.

— Sim, ele ficou parado na minha frente me encarando, e eu disse que se ele chegasse mais perto, bateria nele com a vassoura. Mas eu mal conseguia me mover...

— Coitado, sério mesmo? — ela ri.

— É sério! Mas aquilo foi estranho. Por um momento, pensei que ele fosse tentar algo, mas era como se ele também estivesse travado, assim como eu...

— Acho que ele ficou encantado com você — ela diz rindo. 

— Eca! é claro que não. Mas aquilo me deixou desconcertada, fiquei torcendo para ele ir embora...

— Ah, Naomi... não se faça de boba, rolou uma química, confessa!

— O quê?! Não! — falo, desacreditada com o que acabei de ouvir. — Não tem nada a ver, eu só fiquei sem saber o que fazer!

— Se você diz... não está mais aqui quem falou — ela sai andando enquanto amarra o avental.

Depois de sair do vestiário, vou para a cozinha e verifico se tem gelo. Isso é essencial, já que quase todo mundo que bebe aqui pede algo com gelo. Encho algumas cubas vazias e vou até o balcão. Nas segundas, sou eu quem fica no caixa. Sempre odiei, é entediante. Me sento no banco alto e espero o movimento começar. Em um intervalo curto de tempo, olho para fora e vejo a Cassie chegando de moto com um cara. Fico de boca aberta, pois nunca a vi com alguém antes. Mas, logo franzo a testa quando ele começa a tirar o capacete... ele me lembra alguém, alguém conhecido... A Emma se aproxima e fica ao meu lado, e então ela diz...

— Olha só, alguém finalmente se acertou! — ela ri.

— Tenho certeza de que já vi ele em algum lugar, só não consigo me lembrar...

— Como assim? Ele é um dos amigos do Thom.

— Eu sabia! De qualquer forma, boa sorte para ela — dou um sorriso fraco.

A Cassie é mais do que uma colega para mim, é uma amiga. Tenho um carinho especial por ela, por isso me preocupo. Vê-la saindo com esse cara não me deixou muito animada, mas não posso julgar. 

Quem sabe ele não é melhor do que aquele cara que vi no restaurante? Aquele que olhou para todas nós como se fôssemos pedaços de carne em uma vitrine... é... é bizarro! Mas talvez eu tenha julgado errado. De qualquer forma, o preço que pago é ver a Cassie chorar quando quebram o coração dela. 

Mas como amiga, sempre tento consolá-la e aconselhá-la. Mas a verdade é uma só: se você não se valoriza, ninguém mais o fará! Se você não reconhece o seu valor, então está dando permissão para ser tratada de qualquer maneira, e no final, a culpa ainda será mais sua do que do outro.

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