Capítulo 24

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Odiava contos de fadas desde a infância. A ideia de que um príncipe encantado se casaria com a plebeia era ridícula para mim, como se colocasse a plebeia como indefesa e coitada, a fazendo ser inferior e incapaz de mudar a própria vida, ficando apenas na espera da chegada do príncipe.

Cresci ouvindo a maioria das amigas que tive desejarem isso, e me sentia como uma idiota e diferentona no grupo, porque era a única que achava isso uma tolice.

Mas, se me dissessem que um dia eu encontraria alguém com as mesmas características, seria capaz de estapear a cara da pessoa. Parecia mesmo uma piada. Me sentia até mesmo incomodada com a ideia de alguém me ajudar em qualquer coisa que fosse, porque cresci fazendo tudo sozinha, e a ideia da independência soava muito mais doce do que a ideia de companheirismo.

Quando acordei na manhã seguinte, encontrei café e uma mesa cheia de comida que nem mesmo eu fazia para mim. E agora, eu tinha alguém que se importava com o que eu iria comer e a quantidade disso. Ainda não estava acostumada...

— O que você está fazendo?!

— Eu já terminei, e agora vou tomar banho. Quantas vezes tenho que te lembrar que eu trabalho?! — tento parecer o menos grossa possível.

— Senta aí, você só vai se levantar dessa mesa quando terminar de comer tudo o que eu coloquei nela.

— Ai meu Deus, você quer me engordar ou o quê?

— Eloisa vai saber que a filha dela não está comendo direito, e eu vou fazer questão de dramatizar isso — empurra a tigela de morango pra mim, depois a de pão de queijo.

— Você não pode me manipular, sabia? Isso é feio, Thom.

— Sabe o que é feio? Você esquecer que pra aguentar aquela merda daquele bar tem que estar bem fisicamente e mentalmente.

— Argh — reclamo desistindo — já entendi, tá bom, tá bom — ele abre um sorriso de lado como quem conseguiu o que queria.

Quando finalmente termino tudo, e já estou saindo de casa com ele ao meu lado, o silêncio se quebra.

— Você sai hoje no mesmo horário?

— Uhum.

— Vou te buscar.

— Não.

— Não? Por quê não? Por acaso você já enjoou de mim, Clark? — pergunta irônico.

— Você não tem que fazer isso sempre, Senhor Miller.

— É verdade, eu vou tirar você de lá.

Ah, meu Deus, que ideia ridícula é essa de herói? Onde eu me meti? Deus, como odeio isso.

— Pare — peço.

— Não! Eu estou falando sério, Clark! Não quero ver você lá por muito mais tempo.

— Você nem sabe quanto tempo tenho lá.

— Dois anos.

O quê?! Como diabos ele sabe disso? Eu nunca contei.

— Como você sabe se eu nunca falei isso pra você? — franzo a sobrancelha.

— Só chutei.

Fico calada, me sentindo desconfiada com a ideia.

— Eu mesmo vou mudar isso, não quero ninguém fazendo nada por mim — pego meu celular, e antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa nele, sinto o mesmo sendo puxado da minha mão.

— Ai ai... — ele diz.

— Você quer parar?! — ele abre a porta do carro para que eu entre, e eu fico emburrada.

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