Capítulo 1

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Hoje completam seis meses desde que minha tia Margot morreu e eu me sinto completamente apavorada. Todas as nossas economias se foram com o seu tratamento e o funeral, a pequena reserva que minha mãe me deixou para a faculdade já está chegando ao fim.

Acabei assinando o convênio médico como fiadora e colocando o apartamento como garantia, assim que ela morreu eu descobri que a dívida passa para o meu nome e se eu não pagar, perco meu apartamento.
Desabrigada em Nova York, isso daria um livro.

- Céus, vocês comem muito, se continuarem assim não vou ter grana para comprar a minha própria comida -

Atena e Artemis comem como duas monstrinhas e estão sempre miando pedindo por mais, mas eu não as culpo, no ponto que cheguei só posso alimentá-las no máximo três vezes ao dia, o que é pouco para quem está acostumado a ter comida sempre a disposição.

Minha tia Margot era uma dançarina profissional e ganhava muitíssimo bem, já eu trabalhava meio período na livraria para manter o que chamava de dignidade, sempre gostei de me sentir independente e hoje vejo que estava brincando de ser adulta.

Adorava estar entre os livros, com exceção a parte de tirar o pó, deixei o emprego para cuidar dela e após a sua morte pensei que poderia voltar a trabalhar lá, mas imagine só, minha vaga já havia sido preenchida.
O mundo conspira a favor da minha ruína.
Já enviei milhares de currículos, fiz algumas entrevistas e nada, ninguém quer uma jovem de vinte e dois anos, sem experiências e de estopim curto no quadro de funcionários.

Certa vez, uma recrutadora me oferece uma excelente oportunidade, trabalhar por sete dias em teste, não remunerados, com a possibilidade de ser contratada.
Descobri da pior forma que na vida real todos querem nos passar para trás. Passo horas do meu dia em frente a enorme janela da sala que dá para a avenida, tentando pensar em alguma solução, alguma coisa que me tire dessa situação, mas olhando para esse apartamento que posso não conseguir manter me sinto cada vez mais perdida.

Minha mãe viveu aqui antes de morrer e eu a minha vida toda, não posso perder todos esses anos de lembranças.
Me pego pensando nela que, assim como eu, passava horas debaixo dessa mesma janela. Infelizmente nunca a conheci, ela morreu quando eu era bem pequena, sequer me lembro de seu rosto, e sobre meu pai não sei absolutamente nada, minha tia apenas dizia que ele foi embora e que falar dele era perda de tempo.

Dizem que puxamos muito do temperamento de nossos pais, como personalidade, manias... não conhecendo os dois me dá a sensação de que não conheço a mim mesma. Do que eles gostavam? Qual a comida favorita? Nunca irei saber. Não sobrou ninguém vivo que possa me responder.

Sentei no chão e abracei as pernas, olhando o movimento da rua e me perguntando, quando as coisas vão mudar.

Minha - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora