Capítulo 6

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- princesa, pode entrar o Bill só deu uma saída - Mindy está agitada, achei meio estranho mas entrei mesmo assim

Me sentei nas cadeiras que ficam de frente para a grande mesa, olhando para aquela sala me veio as descobertas de ontem sobre a verdadeira profissão da tia Margot, meus olhos começaram a marejar, respirei fundo e me recompus, é tarde demais para chorar. Comecei a observar a sala para me distrair, acima da cadeira do Bill tinham várias fotografias de várias garotas e até de artistas.

- caramba! É o Michael Jackson? - sussurrei, esse lugar é mais antigo do que imaginei

Olhando mais vi uma foto da minha tia com o seu body de renda preferido, ela era tão sexy e não precisava fazer esforço algum, era naturalmente assim. Dançando ela não se apoiava em ninguém, ela ia lá e fazia, foi forjada para aquilo. Continuei olhando, do lado esquerdo da sala pude observar a enorme estante que ia do chão ao teto repleta de livros velhos, tomavam a parede inteira, eram de colecionador a julgar pelas capas.

Do lado direito um sofá de couro marrom com um frigobar ao lado, acima mais fotografias de garotas, umas até em p&b. Tentei observar o que elas vestiam para pegar umas referências e então eu vi uma coisa.

- puta merda - disse saltando da cadeia

Um retrato em A4 da minha mãe, me levantei para ver mais de perto mas ouvi vozes vindo do corredor

- esse babaca tá querendo me foder - droga o Bill voltou

- cala a boca! Ela está aí dentro - ouvi a voz da Mindy

- foda-se eu quero é que se foda - disse dando uma porrada na porta que tremeu com o impacto.

Me sentei na hora completamente apavorada, mas eu precisava ver aquela foto.

Esperei um pouco e saí da mesa bem devagar sem arrastar a cadeira, dei a volta e corri com passos silenciosos até o sofá, e então pude ver melhor

"Georgia como Meg, 1997"

Sem dúvida era a minha mãe e um pouco antes de me ter.

- tem que se acalmar, ele é intocável! e a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco - ela tentava acalmá-lo mas sem sucesso

Quando ouvi as vozes se aproximando eu corri para a mesa e me sentei, foi a conta da porta se abrir.

- preparada para o grande dia, garota? - disse dando um aperto forte no meu ombro

- nasci pronta -

- assim que eu gosto, um incentivo para a sua estreia - ele abriu a gaveta e me passou um envelope - o acerto é no final do expediente, por transferência -

Abri o envelope e contei cinco notas de cem dólares, quis chorar de alívio.

- obrigada Bill - agradeci com um sorriso largo

- vai lá garota, arrasa -

Sai da sala o mais rápido que consegui

- fecha essa porra, Mindy - ordenou e Mindy obedeceu

Fui ao banheiro e vesti a lingerie escolhida, passei mais um pouquinho de óleo entre os seios e mais uma borrifada de perfume próximo a orelha. Retoquei a maquiagem e fui conferir tudo no enorme espelho atrás da porta, nada mal para uma descendente de strippers.

Travei ao segurar a maçaneta, mas eu tinha que fazer isso, não sou mais uma garotinha indefesa, eu preciso crescer e encarar a realidade, não me restaram muitas opções. Abri a porta devagar morrendo de vergonha e dei de cara com uma garota.

- oi! Lizie ne? - era a garota da fantasia de colegial mas agora ela vestia um body de renda vermelho com mangas longas, ela tem olhos tão azuis que parecem ser de mentira

- só Liz, por favor -

- prazer, sou a Jess - disse - quer colocar sua bolsa no armário? -

- por favor - respondi

A segui até uma sala com vario armários e um banco no meio, parecia um vestiário de colégio

- pode escolher qualquer um -

- todas tem nome de guerra? - perguntei girando o segredo

- sim, não temos o costume de falar nossos nomes de verdade, algumas garotas ficam até mascaradas para não serem reconhecidas - disse colocando o pé no banco para puxar melhor a meia de renda - já escolheu o seu? -

- Liz é bom? -

- é lindo e combina com você - disse com um sorriso - vem vamos achar uma máscara para você -

- você conhece minha tia? - sondei

- sim! Ela me ensinou muitas coisas, ela usava o nome verdadeiro sem receio algum - isso é a cara da Margot

A segui até às araras e pude ver melhor todas as peças disponíveis, agradeci aos céus por ter trago as lingeries de casa, só consegui ver conjuntos minúsculos, dezenas de vestidos em tecido arrastão e alguns bodys extremamente cavados.

- são horríveis! te aconselho a ter suas próprias peças - disse me entregando uma máscara branca bem delicada

- é perfeita, obrigada -

- por nada! deixa eu amarrar -

Naquele momento me senti tão mais aliviada que dançar para aqueles caras me pareceu um pouquinho mais tolerável

- combinou perfeitamente - ótimo! nem eu me reconheço

- você é a cara da sua mãe -

- conheceu ela? - perguntei falando alto demais

- claro que não! Sou mais jovem do que pareço - fiquei em silêncio para que ela continuasse - ela era famosa aqui no Blue's -

- era? -

- se relacionou com um milionário e saiu daqui como uma princesa, mas não deu muito certo -

- minha tia não me falava muito sobre ela, para me poupar eu acho, sobre meu pai ela nunca me contou nada - eu não menti mas fiz uma cara de dó digna de um prêmio, é sobre o meu pai que tenho mais curiosidade

- o que sabemos é que seu pai era casado e se divorciou para ficar com sua mãe - disse nitidamente desconfortável com a situação - a mulher abandonada não se conformou e os perseguiu por um bom tempo, ele acabou voltando para ela e abandonou sua mãe grávida de você -

- não sabia disso - e realmente não sabia - sabe quem é o meu pai? -

- infelizmente não sei, desculpa tocar no assunto logo hoje -

- sem problema - respondi - já superei isso, não dá para sentir saudade de alguém que não conheceu -

- sinto muito sua perda, sua tia era uma mulher incrível, ela sempre fez tudo que pode para ajudar a todas aqui - disse tentando mudar de assunto

- mortes trágicas parecem ser de família - dei de ombros - se eu der sorte posso morrer atingida por um raio -

- você é ótima, Liz - disse entre gargalhadas, Jess tem um sorriso lindo e me pergunto o que uma garota tão bonita faz em um lugar como esse

- vou demorar a me acostumar com essas roupas -

- o primeiro dia é sempre o mais difícil mas a insegurança passa rápido - disse passando carinhosamente a mão no meu ombro - aproveite esse dinheiro fácil mas suma daqui assim possível é o meu conselho para você, isso aqui não é vida -

- esse é o plano - respondi rindo

- merda está quase na hora - praguejou olhando para o relógio na parede - o que você vai fazer? -

- vou ficar na pista - disse conferindo tudo mais uma vez no espelho

- eu também, Mindy já te explicou sobre a entrada? -

- não, o que diabos é essa entrada? -

Céus! A cada hora uma surpresa.

Minha - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora