Capítulo 41

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- esse carro é lindo, é um Corolla? - perguntei enquanto ele abria a porta para mim

- pelo amor de Deus, Liz! - ele me olhava como se eu tivesse dito algo absurdo - esse carro é um Volvo -

- eu não entendo de carros - respondi com um sorriso amarelo

- percebi -

Ele deu a volta e entrou, já no carro pôs a mão na minha perna pensando antes de falar

- não se assuste com o local ou com as pessoas que o frequentam, esse restaurante é o que chamamos de zona neutra. Onde as máfias e as gangues de toda a cidade e região pode frequentar sem serem incomodados pela polícia ou por rivais, como se fosse uma zona segura -

- você é de alguma máfia? - perguntei morrendo de curiosidade

- já fui da máfia siciliana, Cosa Nostra, mas não como membro de verdade, eu só acompanhava meu pai em algumas reuniões mas saímos por conflitos de interesses - ele passou a mão nos cabelos e começou a observar o estacionamento do prédio - um exemplo de como é seguro, é o respeito entre as organizações, as máfias italianas são inimigas declaradas das máfias alemãs porém lá eles convivem sem conflitos -

- tipo o hotel Continental de John Wick? -

- exatamente - ele gargalhou da minha comparação - se arrumarem confusão lá dentro são só expulsos permanentemente -

- o Blue's também é uma zona segura? -

- Sim, o Steven por exemplo é da máfia napolitana, a Camorra, ele me provoca sempre que pode mas nunca arranjou confusão no Blue's, nem comigo e com ninguém - ele parecia adorar me revelar os segredos do seu mundo, ele dava um sorriso encantador vez ou outra, ele fica tão lindo quando sorri - comer e trepar é algo sagrado, Liz! todo bandido preza pela segurança de um lugar que oferece as duas coisas -

- entendi - muito complexo mas estou começando a entender

Ele ligou o carro e fomos em direção ao restaurante misterioso, ficamos em silêncio o caminho todo e eu pude perceber o quanto ele estava preocupado, tentei reconforta-lo passando a mão em sua coxa.

Entramos em um bairro bem estranho, meio sujo e mal iluminado, ele virou a direita por duas vezes e entrou em um beco extremamente estreito parando em frente a uma enorme porta de metal, um prédio alto com toda a fachada em tijolinho aparente, sem nenhuma janela. Me senti uma idiota por ter me arrumado demais.

- chegamos, espere aqui dentro - ele desligou a carro e saiu

Levei um puta susto, um cara baixo e todo tatuado saiu das sombras pelas costas de Heron, quando ia gritar para avisá-lo o homem disse algo e ele se virou sorrindo para o estranho, aparentemente se conhecem porque apertaram as mãos. Enquanto conversavam, Heron fez um sinal para que eu saísse, tirou dinheiro do bolso e entregou para o homem que o reverenciou em agradecimento.

- boa noite, madame - disse me reverenciando também - tenham um bom apetite! -

- obrigada! - agradeci, pude ver que ele vestia uma camisa branca com um colete de alfaiataria risca de giz por cima

Heron entregou a chave do carro para ele e veio na minha direção

- é o manobrista - o cara tinha tatuagens ate no rosto, estou começando a entender a vibe do local

Heron me pegou pela mão me conduzindo até a porta de metal batendo três vezes, uma pequena janelinha se abriu e eu pude ver os olhos azuis de uma pessoa

- Heron Carlini e acompanhante - ele falou com imponência

- senha! - disse um homem com rispidez

- 217047 -

Após dizer esses números a porta se abriu, entrei primeiro e fiquei chocada com o quão luxuoso é o lugar, uma loira de olhos azuis nos esperava com duas pastas de couro na mãos, o cardápio eu imagino. Ela vestia uma camisa social branca dobrada até os cotovelos, saia lápis scarpins pretos. Seus braços e pescoço estavam cobertos de tatuagens e olhando com mais atenção pude ver uma em seu rosto, uma gota bem abaixo do olho esquerdo. Agradeci ao universo por ter me arrumado o suficiente.

- boa noite sr. e sra. Carlini, me chamo Lilian e irei levá-los até a mesa, me acompanhem por gentileza -

Eu e Heron trocamos olhares risonhos, mesmo sem dizer uma palavra eu sei que ele percebeu o que acabou de acontecer, a moça se dirigiu a nós como se fossemos casados. Seguimos por um estreito corredor e entramos em um salão, o pé direito é imenso com lustres belíssimos, as paredes são de tijolinhos, gastos devido ao tempo, mas sou apaixonada por esse tipo de acabamento.

Do lado direito as janelas davam para um pequeno jardim com mesas externas e as da esquerda davam para um outro salão com mais mesas e um bar no fundo. Lilian nos conduziu até a última mesa no fundo do restaurante, Heron puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar e se acomodou na minha frente, de costas para as outras pessoas.

- aqui estão os cardápios - entregou um para mim e o outro para Heron - façam uma boa refeição! -

Observei a moça se afastar e percebi um número considerável de pessoas nos observando, me remexi desconfortável na bela cadeira acolchoada.

- ignore os olhares, eu não frequento esse restaurante a muito tempo e nem todos sabem que eu retornei -

- menos mal, estava preocupada com toda essa atenção -

- não se preocupe minha gostosa - ele esticou o braço para pegar a minha mão - está segura comigo -

- eu sei disso - respondi apertando sua mão, se ele soubesse o quão lindo fica quando sorri - você não tem nada para me contar? -

- ah sim, eu tinha dito que consegui descobrir algumas coisas da sua família mas antes já escolheu o que vai pedir? - disse abrindo o cardápio fingindo desinteresse na conversa

- viemos para comer Risotto, você mesmo disse quando me convidou - ele fingia ler o cardápio como se fosse a coisa mais interessante - será que pode parar de me torturar? -

- não vai pedir mais nada? - continuou falando sem tirar os olhos do cardápio

- Heron eu nem sei o que pedir em um restaurante como esse, peça para mim o mesmo que for pedir para você -

Um garçom se aproximava e seguia o mesmo padrão dos demais funcionários, bem vestido e todo tatuado.

- boa noite, senhor Carlini e madame - ele fez uma reverência com a cabeça para cada um de nós - já decidiram o que vão pedir? -

- sim, dois Risotos ao vinho do Porto com filé mignon extra e uma garrafa desse vinho -

- ótima pedida! - o rapaz recolheu o meu cardápio e o dele - deseja o vinho antes do prato? -

- sim - Heron disse com um ar autoritário

O rapaz se afastou rapidamente e eu pude notar que as pessoas continuavam nos observando.

- não se espante com a forma que eu trato as pessoas aqui - ele franziu o semblante encarando fixamente nossas mãos dadas - eu não posso ser quem sou nesses lugares, não posso abaixar a guarda -

- eu entendo - acariciei a palma de sua mão para reconforta-lo, para demonstrar que comigo ele pode ser ele mesmo.

Minha - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora