Capítulo 46

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Acordei com a luz do sol no meu rosto, e dessa vez sem tonturas ou náuseas, estava em um quarto com paredes cor pêssego repletas de boiseries, deitada em uma cama confortável e com dossel, como nos filmes de princesas.

Quando me mexi senti uma dor na mão, tirei o lençol que me envolvia até o pescoço e vi um acesso no meu dorso esquerdo. Segui o tubo e estava conectado uma bolsa com um líquido claro, o tirei de mim apavorada.

Eu tentei me lembrar do que aconteceu mas não consegui e minha cabeça começou a doer pelo esforço, só me lembro da conversa com Nora e Heron e de sair do restaurante em seguida, nada mais. Minha mão começou a jorrar sangue, eu deveria tê-la pressionado, que burrice, sujei a cama e o piso de madeira. Me levantei e procurei por algo que poderia usar para estancar a perfuração, peguei uma blusa que estava dobrada junto com várias outras roupas em uma mesa próxima a enormes portas duplas.

- Que porra é essa?! - minha roupa foi trocada, eu estava usando uma blusa branca e um short de malha preto, onde está o vestido que minha tia me deu?

Pressionei bem a blusa na mão e fui em direção a porta, mas está trancada então dei uma série de chutes e murros, por serem de madeira maciça se quer tremeram.

- socorro! - gritei batendo com os punhos na porta - me deixe sair! -

Nada, nenhum barulho, então continuei gritando.

- alguém me ajuda, por favor - lágrimas começaram a rolar, esse não pode ser meu fim - socor... -

A porta foi destrancada, corri para a lateral da cama e procurei por algo que pudesse ser usada como arma, peguei a única coisa disponível, um abajur, e me abaixei esperando quem quer que fosse entrar.

Demorou um pouco mas a porta se abriu, quem entrou foi uma moça vestindo um uniforme de empregada, ela olhava pelo quarto à minha procura.

- quem é você? - gritei me levantando com o abajur estendido - me deixe sair agora! -

- oi Elizabeth, eu me chamo Irene - era a voz que escutei quando acordei passando mal - sinto muito minha querida... - sua voz estava embargada como se quisesse chorar

- por favor! - saí de trás da cama pronta para atacá-la se necessário - eu não quero te machucar -

- eu não posso ver isso - a tal Irene saiu do quarto

Aproveitei a brecha e corri em disparada mas tive que parar no meio do caminho, um homem enorme, careca e todo de preto entrou no quarto apontando uma arma para mim.

- solta esse abajur - disse o brutamontes e eu tive que colocar o abajur no chão - entra Irene, você tem cinco minutos -

- por favor Elizabeth, deite-se - pediu a mulher

Me sentei na cama abraçando as pernas, Irene olhou para o homem que saiu do quarto fechando a porta atrás de si, ela caminhou até a cama e se assustou com a sujeira que eu fiz.

- não deveria ter tirado o acesso você precisa deste medicamento - disse desenrolando a blusa da minha mão que entreguei com relutância - um momento que eu vou fechar esse machucadinho -

Ela tirou do avental um rolo de esparadrapo e uma pequena tesoura, cortou um pedaço e colocou na minha mão. Com a blusa, ela limpou brevemente o chão.

- o que está acontecendo? - perguntei entre lágrimas - Heron me trancou aqui? - eu temia a resposta mais que qualquer coisa no mundo

- pelo contrário! o senhor Carlini é um bom homem - ela sussurrou olhando em direção a porta antes de continuar - foi a senhora Eleonora quem te sequestrou para negociar com seu pai e o senhor Heron -

- o que? - chorei ainda mais

- você só teve efeitos colaterais, dormiu por volta de três dias, o médico disse que a substância que te dopou foi usada em grandes quantidades mas que em breve esse mal estar vai passar - ela segurou minhas mãos com delicadeza - se comporte e faça tudo que pedirem, as negociações já começaram e você vai sair daqui. Eleonora em breve vai chegar então deite-se e finja que está dormindo, eu te conto tudo com calma quando for seguro -

Socos nas portas nos fizeram saltar de susto, ela rapidamente pegou a armação de metal onde ficao medicamento intravenoso e a camiseta ensanguentada.

- fique tranquila, minha querida! o senhor Heron vai tirá-la daqui - antes de sair ela colocou o abajur em uma mesa próxima a porta

Eu tenho um pai, aparentemente, e Heron sabia disso, a decepção que sinto não se compara à raiva que cresce dentro de mim. Eleonora me enganou, eu a considerava uma amiga, como pude ser tão ingênua?

Não posso desistir sem lutar, preciso dar um jeito de escapar desse lugar, sai da cama e avaliei o quarto em busca de alguma ideia. Fui até a janela, a única do quarto, ia do teto ao chão, toda em madeira com vidros quadriculados, mas também estava trancada. Não! Isso não pode estar acontecendo, olhei para fora procurando por alguém que pudesse me socorrer mas sem sinal de vida nesse lugar, e pela vista arrisco dizer que me encontrava no segundo andar, não é perto do chão para que eu pudesse pular mas em compensação não é muito longe para uma corda de tecido.

Contei quantas camadas de tecido essa cama tinha, cinco no total, ótimo, retirei todos e fui ligando um ao outro com várias amarrações, testando a resistência de cada um. Estiquei a corda improvisada pelo quarto mas ainda não era o suficiente. Parti então para o tecido que envolvia o dossel da cama e por ser uma espécie de cortina o tamanho era perfeito, já estava próximo do que eu preciso.

Agora só resta a cortina, tinha que dar certo, usei uma cadeira para removê-la em silêncio, amarrei tudo e ainda não foi o suficiente, mas eu preciso tentar. Eu pensei em quebrar a fechadura com o abajur, mas se o brutamontes estiver lá fora e ouvir não vou conseguir pular a tempo. Caminhei devagar até a porta e me abaixei para olhar embaixo, pelos sapatos ele estava de guarda e de costas para a porta.

Andei de um lado para o outro tentando pensar em alguma coisa, enquanto nenhuma ideia vinha decidi então amarrar a corda ao pé da cama, tentei movê-la para mais próximo da janela mas sem sucesso, é muito pesada, com isso perdi por volta de um metro de tecido. Voltei para a janela e a empurrei com toda força que consegui, pude ouvir estalos como se estivesse se partindo, a madeira estava muito bem pintada, como se fosse nova, porém parecia ser muito fraca. Continuei empurrando com cautela para não chamar a atenção, mas ela só ficou frouxa nada mais que isso.

Antes de pôr meu plano em ação preciso ganhar um tempo, tive a ideia de prender a porta com a cadeira, assim ele vai ter dificuldades antes de conseguir entrar. Peguei a mesa que estava com as roupas e a carreguei até a janela sem fazer barulho, não vejo outra saída senão usar esse móvel para atravessar os vidros e descer com a corda em seguida.

Céus, isso precisa dar certo, eu só tenho uma chance.

Minha - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora