CAPÍTULO 03

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CHEIRO DE SANGUE E MEL

Lá estava ela. Olhos esbugalhados, demonstrando todo o pavor na certeza que viria em seguida, pele enrugada pelo tempo exposta na água fria e imóvel. Me olhava como uma ovelha no abate.

Uma jovem e suculenta ovelhinha.

- Que bom ver você desperta! Assim, irá participar da brincadeira! Vamos brincar de médico? Sempre quis ser médico, sabia?

Enquanto falava com ela, arrumei meus instrumentos cirúrgicos, devidamente furtado de um dos estudantes do prédio dois. Lá ficavam os futuros médicos do país! Não foi difícil pegar uma das maletas, já que elas ficavam lá, largadas de qualquer jeito, pelos móveis das fraternidades ou armários destrancados.

- Sabia que eu tinha uma vizinha com uma gata com seu nome? Natalie. Eu adorava ver a bichana subir meu telhado e comer os farelos de cereal ou biscoito que eu depositava no beiral da minha janela. Um dia, como este, consegui pega-la no colo.

Me ajeitei bem próximo da banheira, num banquinho e alisava a pele arrepiada. Senti o corpo dela se debater de medo e pavor, quando mostrei o bisturi. Verifiquei se a mordaça estava bem firme, se a fita não estava descolando e retomei meu ritual. Alisava o peito, procurando o externo e imagina a minha satisfação quando achei sem demora.

- Natalie, seu coração está tão acelerado! Está com medo?

Ela assentiu, com desespero e lágrimas. Ela sabia o que eu ia matá-la.

Levantei do banco, tendo uma ideia do que ia fazer em seguida.

- Eu já volto, ok? Não me demoro, Natalie! Não saia daí!

Saí do quarto, rapidamente e me dirigi até a cozinha de Doroty. Encontrei-a na pia, lavando sua louça

- Que foi, meu querido? Precisa de algo?

- Sim, dona Crowlow. A senhora por acaso tem mel?

- Me chame de Doroty, sim? Eu tenho, claro! – Sorriu, com benevolência. Me irritou um pouco a demora em ir até o armário e pegar o pote de vidro em forma de urso. Minhas mãos estavam coçando para arrancar dela logo e descer com o vidro. "Me dá logo esta merda, sua velha idiota! "

- Tome, querido. Precisa de pão ou panquecas?

- Não, muito obrigado! Vou colocar em alguns sanduiches, pois tenho que estudar muito para meu mestrado e não quero perder tempo. Se a senhora não se importar, gostaria de não ser importunado. Sabe como é. Quem estuda muito, acaba se focando e não pode perder o ritmo. A senhora ficaria chateada se eu ficasse com o vidro? – Sorri, como um menino de dez anos

Ela retribuiu, dando batidas leves em minhas mãos, respondendo que o mel era para mim. Me despedi dela, beijando sua face enrugada e corri de volta. Estava excitado demais e não queria perder aquela sensação no meio do processo.

Me tranquei no quarto e olhei para a jovem. Estava desacordada e por alguns segundos entrei em pânico, pois pensei que ela estava morta. Não iria perdoar a velha desgraçada! Se ela não fosse tão lenta, eu estaria já realizando minha obra de arte!

Me aproximei com uma agulha e cutuquei sua pálpebra esquerda, perfurando a pele fina, fazendo sangrar. Ela pulou, se agitou, jorrando água pelo piso.

- Ei! Olha só a bagunça que está fazendo, Natalie!! Pare quieta, vadia! – Dei alguns tapas, até que ela parou, enquanto o sangue se misturava à agua e lágrimas

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