CAPÍTULO 26

11 5 1
                                    

Confiar ou Não no Diabo?

"Então no fundo, de nada valerá tanto esforço. Viver vai muito além de respirar e você, no fundo, nunca teve uma vida. És ainda só um perdido, que só respira e nada vive."

Carlo, digitando as últimas palavras, se fixou nesta em especial. Algo dentro dele mudou a partir daquele pequeno detalhe. Pensou, afastando o corpo da mesa e, olhando para a janela:

"Será que eu também, todo este tempo só respirava e deixei de viver? Quanto tempo fiquei longe e nem percebi que minhas filhas estavam crescendo? Qual foi a última vez que abracei meus pais? E, no fim das contas, foi uma das vítimas daquele psicopata que indiretamente me alertou! Sim... preciso mesmo de umas férias..."

Pegou a folha seguinte e se aprumou diante do notebook:

FOLHA DOIS, CARTA NOVE:

" Fiquei por pouco tempo, andando pelas ruas desertas, pensando no que fazer e como pôr em prática o destino final de Oliver. Eu teria de me livrar dele, antes que a polícia surgisse, para investigar a morte da Doroty. No meio do caminho, lembrei-me que havia deixado ele totalmente solto! Dei meia volta e apressei os passos, mas sem chamar atenção. Como pude falhar desta forma? Jamais iria me perdoar, caso ele tenha escapado!

Ao chegar, entrei rapidamente e não o vi deitado, como de costume e, pela primeira vez, senti meu coração acelerar. Não teria como ele fugir! Eu o tranquei pelo lado de fora! Corri até o banheiro e, lá estava ele, tomando banho.

- Por que não fugiu?

- Síndrome de Estocolmo. Você já ouviu falar?

- Estou falando sério. Por que não fugiu, Oliver?

- Porque estava tudo trancado. Eu tentei, mas pensei ser uma armadilha sua. Procurei meu celular, mas é claro que você se livrou dele. Agora, me deixe tomar minha ducha em paz! Depois me mate!

Fiquei ali, parado. Por um momento pensei que ele seria um bom parceiro, mas este pensamento logo se desfez como fumaça e retornei ao princípio de tudo aquilo.

Saí de lá, trancando-o no banheiro e arrumando tudo que pudesse me ligar à Oliver. Coloquei tudo numa mochila e junto duas garrafas de água e barras de cereal. Olhei em volta e peguei o rolo de fita e os curativos. Pronto. Não havia nada que me ligasse a ele, agora. Ouvi seus protestos e batidas na porta, mas ignorei.

Peguei o borrifador de água com álcool e dei algumas borrifadas, para aliviar qualquer cheiro que ele tenha deixado e me sentei, olhando a cama desarrumada.

"Sentirei falta...". Pensei, sorrindo.

Mas a insistência dele, me arrancou de meus devaneios e fui lá, libera-lo.

- Você, vem cá! Senta aqui! – Disse, rispidamente

Ele foi até onde eu mandei, completamente nu, segurando os ombros com as mãos para tentar se proteger. Fiquei um tempo assim, observando os poros do corpo dele se dilatar, eriçando os pelos, causado pelo frio. As cicatrizes já bem saradas, porém ainda visíveis tanto nos pulsos quanto nos tornozelos A mancha de queimadura causada pela fita sintética na pele sensível do rosto e as olheiras profundas. Tudo me chamou atenção. Me pareceu uma obra de arte:

- Olhe para mim, Oliver. – Ordenei

Ele levantou os olhos e me encarou.

- Não vai pedir piedade pela sua vida, Oliver?

- Não.

- Ok! Levante e vista-se! Vamos sair daqui, agora!

O ÚLTIMO CAPÍTULOOnde histórias criam vida. Descubra agora