Os piores pesadelos

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   A mesa estava recheada e bem colorida, com a variedade de alimentos para o café da manhã.
  Em uma extremidade os pais, e na outra o jovem e seu amante. Todos tensos e sérios.
  _ Ainda estamos aguardando, podem explicar o que houve dessa vez?
  _ Eu só bebi um pouco e me descontrolei. É difícil entender isso?
  _ Então está dizendo que não tem nada haver com aqueles caras…?
  _ Juro mãe.
  O loiro se remexeu na cadeira, e Júlio o cutucou com o pé, discretamente.
  _ Tudo bem… Vou continuar falando sobre o porque acordei vocês hoje, tão cedo. - Dora relaxou os ombros, olhou para Omar, em seguida para o filho. _ Amanhã seu pai já estara de volta com a gente, tudo bem?
  Júlio riu.
  _ Tudo bem? E por acaso algo que eu fale, te faria mudar de ideia?
  _ Filho, eu…
  _ Não dirija a palavra à mim. Por favor! - Omar se conteve ao ouvir isso. _ Eu não sou a favor disso, porque um homem que é capaz de largar a esposa e filho por conta de outra qualquer… é capaz de tudo!
  _ Não seja tão duro com seu pai, Júlio César. - Wesley disse, e foi repreendido com um olhar cortante do outro.
  _ Eu compreendo sua revolta, mas em algum momento vai ter que entender…
  _ Sim mãe. Mas vou estar bem longe, quando ele te largar novamente!
  _ Para de agir assim, Júlio César! - Dessa vez Omar gritou mais alto, e Dora suspirou fundo. _ É uma droga isso tudo, eu sei! Mas estamos tentando, então vê se nos ajuda um pouco!
  _ Meu deus! Eu quero morrer! - Júlio se revoltou. _ Foda-se o que estão planejando, eu não quero mais esquentar minha cabeça com os problemas de vocês.
  _ Então seja mais receptivo, filho.
  _ Mãe… - Ele pensou um pouco antes de continuar. _ Que se dane, eu vou voltar a dormir!
  Se ergueu irritado, e quase derrubou Wesley da cadeira ao sair para o quarto.
  _ Porque está sendo tão chato com ele? - O maior disse, fechando a porta.
  _ Eu não consigo entender o motivo de ela ainda o aceitar aqui… Sério! Minha mãe é linda, independente, pode ter o que quiser, e fica correndo atrás dele.
  _ Ela é linda, é independente, e o ama. Você não pode tentar controlar isso!
  _ Vou deixar eles tranquilos agora, sem me envolver. Até mesmo quando ele se cansar e querer dar uma de adolescente novamente.
  Wesley começou a mexer no celular, e ficaram calados.
O menor o encarava, bem impaciente.
  _ Não vai me dar atenção?
  _ Júlio, estou dando atenção para Felicia. Você acordou tão bravinho hoje, que nem se lembrou de procurar saber como ela está.
  _ Verdade… Me desculpa! Tem alguma notícia?
  _ Estou conversando com a Sara. Ela disse que a Felicia já estava bem melhor, e que foi para casa dormir um pouco.
  _ Mas ela está sozinha?
  _ Não. Ravi foi a encontrar, e deve estar lá com ela.
  _ Deveríamos ir até lá…
  _ Sério Júlio? Tínhamos é que avisar aos seus pais.
  _ Eu vou conversar com ela. Podemos ir?
  _ Vou para casa. Preciso estar bem para trabalhar mais tarde…
  _ Então vá.
  _ Júlio, está bravo comigo também?
  _ Não… Mas tem uma coisa dentro de mim, que não me dá paz.
  _ Me diz o que é!
  _ Wesley, depois.
  O maior não insistiu, foi até o outro e o deu um beijo, em seguida saiu sem se despedir direito.
  Júlio César se arrumou, e pegou o ônibus para visitar a amiga, um tempo depois.

  _ Oi!
  Ele entrou no quarto e quase tomou um susto. Felicia estava sentada na cama, aí seu lado sua mãe, e sentado em uma cadeira Ravi o olhava aflito.
  _ Oi, Júlio. - A amiga o respondeu.
  _ Vim ver como está, não imaginei que a senhora já estivesse aqui… - Ele disse para a mãe da garota.
  _ Cheguei faz pouco tempo, mas gostaria de ter sido comunicada bem antes.
  _ Desculpa eu…
  _ Relaxa Júlio! Mãe eu já te expliquei que foi uma escolha minha! Não queria te preocupar…
  _ Não interessa! Eu devia estar aqui quando chegou. - Sua mãe parecia bem irritada.
  _ Mas Felicia, então já contou tudo o que aconteceu? - Júlio perguntou.
  _ Sim! Estávamos naquela festa e eu fiz a burrada de beber demais, nunca vou me esquecer da sensação de ter overdose de bebida.
  _ Be-bebida? - O menor não entendeu bem.
  _ Isso, Júlio! Muita bebida! - Ravi se levantou e foi o empurrando para fora. _ Mas vamos deixar que elas conversem, e se resolvam agora.
  Eles saíram, e Ravi puxou a porta.
  _ O que está acontecendo?
  _ Cala a boca, cara! Ela não quer que a mãe saiba!
  _ Mas Ravi, eu achei que…
  _ Que ela iria contar tudo? Talvez um dia, mas por enquanto é segredo e você precisa respeitar.
  _ Eu não estou entendendo, o que Felicia está pensando…
  _ Depois vocês conversam melhor. Estou indo embora, daqui a pouco ela tem alta e vai poder ir para casa.
  _ Certo… Acho que vou me despedir então, e torcer para que esteja tudo bem mesmo.
  _ Faça isso, e vamos dar um fim a toda essa loucura.
  Júlio não respondeu, e em seguida retornou ao quarto sem o outro.
  _ Desculpa incomodar… É que o Ravi me disse que vai poder ir para casa logo.
  _ Ah sim! Já estou bem melhor… Não precisa mesmo se preocupar.
  O jovem não estava satisfeito, e falhava em disfarçar isso.
  _ Felicia, gostaria muito de poder conversar contigo… a sós.
  _ Minha mãe está me ajudando agora. Podemos nos falar depois?
  Ele percebia a certeza em suas palavras, e se deu por vencido.
  _ Claro. Fico feliz que esteja bem, e nos vemos em breve.
  Quando saiu do pronto socorro, o menor não sabia o que pensar. Para uma pessoa que havia e sabia, ter sofrido um assédio sexual e só não se tornou coisa pior porque ele pode chegar à tempo… Ela estava tão determinada em esconder, ao invés de tomar uma providência. E a calma em seu rosto…
  “ O que está pensando, garota? “ - Ele pensou, enquanto retornava ao ponto de ônibus.
  Parado ali, ele colocou os fones de ouvido que carregava no bolso da calça, e deu play à sua playlist pop. A música era agitada, movimentava seus pensamentos o desafiando a entender coisas que nem estavam diretamente sobre seu alcance.
  “ Felicia, não quer falar com a mãe, nem nos quer por perto… Ela não é assim. O que está acontecendo?“.
  O ônibus chegou, e ele entrou indo se sentar no fundo. Ainda pensava nos problemas, agora a união de seus pais, quando começaram a andar.
  Sua intuição o pediu para dar uma última olhada para o pronto socorro, e ele espremeu a cabeça para caber na pequena janela. Viu algumas pessoas entrando, e um senhorzinho encostado na parede.
  “ Você está imaginando coisas… Pare com isso! “
  Quando chegou em casa, sua mãe e pai estavam na sala sentados bem próximos, ele passou correndo para não ser convidado a se juntar. Pegou o celular e começou a mexer na tela aleatoriamente, até que chegou uma notificação.
  _ Como ela está? - Wesley perguntou.
  _ Muito bem, ao que pareceu… - Ele pensou a respeito, enquanto escrevia. _ Sua mãe estava lá, então me senti confortável em voltar quase que assim que cheguei.
  _ Mas… Como a mãe dela soube? Sara não contou que eu sei.
  _ Não sei Wesley. Ela só estava lá, e inventou uma mentira de que teve uma overdose por bebida… Não contou nada sobre o que realmente aconteceu, e faltou pouco me expulsar novamente do quarto.
  _ Meu deus! Ela deve estar nervosa com tudo… Vamos dar um tempo também.
  _ Wesley, eu é quem preciso de tempo. Não descansei bem, e tô me sentindo estranho…
  _ Já pedi para me dizer o que está acontecendo, mas você prefere ser grosso…
  _ Vamos nos encontrar na faculdade amanhã e eu vejo se acordo melhor.
  _ Descansa um pouco. Até logo…
  Júlio César não respondeu à última mensagem. Se aconchegou no travesseiro e apertou a mão no peito.
  Tudo o que conseguia se concentrar agora, sozinho, era em todas as vezes em que ele fora agredido, ofendido, e discriminado, pelas mesmas pessoas que agora, tentaram abusar de sua amiga em um momento de fraqueza. Ele não entendia como uma pessoa conseguia ser tão ruim assim para com os outros, e se deitar em paz na cama esperando por belos sonhos.
  Ele esperava do fundo do coração, que os piores pesadelos possíveis, visitassem os seus inimigos.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora