Motivações

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   Alguns poucos dias se passaram. Dias em que muito se foi comentado em toda a faculdade sobre os novos casais. Mesmo que desde sempre estivessem próximos, a notícia de que o namoro entre Júlio César e Wesley estava oficializado pareceu gerar um certo burburinho.
  Mas nada que chegasse a ser ofensivo, e principalmente porque o histórico de brigas em público de Wesley, os davam essa segurança em relação aos outros garotos. Já as meninas, vez ou outra comentavam com Sara, sobre o quanto Júlio tinha a sorte de ter enlaçado um homem como o loiro. A amiga parou de os contar sobre isso depois de um tempo, para não ficar de leva e trás…
  Até porque, eles estavam bem ocupados vivendo um momento diferente na relação. Júlio César recebeu em uma sexta feira, uma flor branca na porta de casa, junto de muitos beijos apaixonados.
  _ Amor! Me deixa respirar! - Júlio se esquivou dos beijos calorosos do outro.
  _ Me deixa te beijar, até secar toda a sua boca!
  _ Gente, o que aconteceu com você!?
  _ Só estou feliz. Gostou da flor?
  Júlio César olhou para ela em sua mão, e sorriu.
  _ É uma “copo de leite” ?
  _ Sim! Achei que não entendia de flores. Dizem que trazem tranquilidade e paz, estamos precisando muito disso, não é!?
  _ Claro! É sempre bom… - O menor forçou um sorriso.
  _ Está tudo bem?
  _ Sim, Wesley. Vamos sair?
  O menor entrou em casa rapidamente para colocar a flor branca em um copo grande com água no seu quarto, e então retornou. Seguiram caminho para a pizzaria da família do maior, se falaram pouco, no entanto não deixaram de segurar a mão um do outro.
  Ao chegar na pizzaria, foram recebidos pela mãe do maior que basicamente fingiu não estar vendo o genro.
  _ Vamos jantar aqui hoje, tudo bem?
  _ Sim, Wesley. Mas se seu pai precisar sair, já sabe…
  _ Eu vou para a cozinha, relaxa!
  Ela saiu em direção ao caixa de onde controlava cada centavo que entrava e saia, uma mulher de personalidade com toda certeza.
  Os namorados se ajeitaram em um mesa dentro do salão mesmo.
  _ Ela não parece gostar de mim, não ainda…
  _ O quê? Minha mãe? Claro que gosta! - Afirmou o loiro.
  _ Fingindo que não me vê, e nem me cumprimentando.
  _ Só de ela não te botar para correr, já é um bom sinal.
  _ Dá para entender o porquê, você não é muito de carinho comigo.
  _ Como não sou? Júlio eu te dei uma flor, isso é o mais brega e romântico que já consegui ser e só fiz, por você.
  _ Eu sei vida, desculpa! Foi só uma observação.
  _ Do que me chamou?
  _ De vida, Wes.
  O maior sorriu, e Júlio pode perceber algo que não havia se preocupado em reparar até o momento. Wesley o encarava com olhos românticos, brilhando e contentes. Talvez por todas as confusões, ele nunca tivera tempo o suficiente para observar um detalhe tão importante quanto esse, ele tinha ao seu lado um homem que sem sombras de dúvida o amava.
  _ Eu te amo, sabia?
  Aquilo saiu de forma inesperada.
  _ Também te amo, Ju. - Wesley respondeu, ainda com os olhos verdes marejados de carinho, e o sorriso largo de sempre.
  Quando o pedido chegou,  começaram a devorar os pedaços da pizza.
  _ Você pode perceber, que eu não estou mais cheirando a calabresa?
  _ Realmente! O que aconteceu?
  _ Fui promovido a aprendiz de dono.
  _ Aprendiz de dono?
  _ É! Quer dizer, minha mãe começou ontem a me ensinar algumas coisas sobre fechamento de caixa,e como funciona as entregas de mercadorias.
  _ Nossa, isso parece ser um saco!
  Wesley não riu, e o menor notou o erro.
  _ Não é para ser divertido… Esse vai ser o meu empreendimento em breve.
  _ Não quis dizer isso…
  _ Olha Júlio, ultimamente você está soltando cada vez mais essas frases desnecessárias, e eu juro que estou tentando ter paciência contigo.
  _ Wesley me desculpa! Só me expressei mal.
  _ Você tá ligado, de que em menos de 2 meses eu vou ter um lugar para chamar de minha casa, uma empresa para administrar…? E já te disse, que isso também vai ser seu.
  _ Você sabe que não poderei te ajudar, porque preciso investir nos estudos e depois, começar a dar aulas.
  _ Sim! Só não faz essa cara de bosta, quando eu falar sobre as minhas coisas.
  Júlio César se sentiu envergonhado e preferiu se calar.
  Depois de comerem, o maior chamou um carro no aplicativo para levar o namorado em casa, mas sem prolongar na despedida.

  Chegando em casa, Dora o interviu, antes de sumir dentro do próprio quarto.
  _ Se divertiu?
  _ Sim, mãe. Foi ótimo!
  _ Que bom! Nós acabamos pedindo pizza também, então se der fome mais tarde, pode comer o que deixamos na geladeira.
  Seu pai chegou na sala, onde sua mãe estava, segurava uma lata de cerveja.
  _ Bebendo uma hora dessas?
  _ É só uma cerveja para relaxar.
  _ Vai relaxando aí, até sumir novamente…
  _ Júlio! - Dora o repreendeu.
  _ Tudo bem, já estou me acostumando com os ataques dele. - Disse Omar.
  _ Não é ataque! É a verdade.
  _ Júlio César, porque todo esse rancor? Relaxa um pouco!
  _ Relaxar mãe? E ficar igual a esse cara? Não obrigado.
  Ele escutou algumas ameaças da mãe, até se trancar no quarto e se esconder.
  Um peso se desprendeu de suas costas, e ele conseguiu respirar com mais facilidade. Manter as aparências o custava energia, e ele já não tinha tanta para esbanjar.
  Toda aquela história, de Wesley estar se esforçando para ser mais romântico e pacífico o embrulhava o estômago. Era impossível que ele conseguisse chegar ao seu objetivo, sem a ajuda de Wesley Albuquerque, mas o outro, impiedoso, irreverente, e preparado para agir sem ter de analisar mil questões antes.
  “ E se eu terminasse com ele novamente? “
  “ Não. Ele precisa mudar, mas não posso o perder. “
  Os pensamentos em conflito não o ajudavam muito, a se decidir. O tempo passava, e se tornava cada vez mais distante o seu desejo de vingança.
  Júlio César todos os dias antes de dormir, se concentrava no rosto de Bruno e Dilan, o fazia para que não perdesse o foco, e por algum motivo besta, deixasse de querer revidar. Nos últimos dias não havia sofrido nenhum ataque deles, mas muito disso se devia ao fato de ela estar lá, com eles.
  Felicia havia se tornado invisível para os amigos, e mesmo estando juntos em sala de aula, a sua indiferença era tão grande que a própria se passava despercebida. Todos os dias ela se juntava a Dilan e a turma, e lá riam e pareciam se divertir, enquanto Júlio se corrói de raiva por ter perdido a amiga. Não que ela parecia triste, pelo contrário, mas era difícil para o jovem concordar com a situação, e ficava observando disfarçado, aguardando qualquer sinal de ajuda vindo dela.
  Aquele relacionamento não iria durar muito, e se dependesse dele nem teria começado. Tudo porque sua amiga parecida perdida demais em seus sentimentos, colocando suas amizades à prova para beijar a boca daquele peruano metido a besta.
  “ Ele tem cara de que tem bafo, e deve suar muito…” - Ele se divertiu pensando nisso.
  E toda noite era a mesma história, minutos, horas, justificando o injustificável. Ele queria tanto ter sua revanche, que era somente no que se concentrava.
 
  O dia raiou, e o jovem despertou logo cedo. Tomou café com os pais, que estavam silenciosos demais e foi para a sala assistir a um programa de entretenimento. Uma manhã calma e bem fresca de sábado.
  _ Filho, podemos conversar?
  Disse Dora, quando já estavam prestes a ir almoçar. Ele viu que não iria ser uma conversa agradável, então se endireitou no sofá, atento.
  _ Pode dizer, mãe!
  Ela se sentou meio sem graça, estava nervosa, e ele a observava.
  _ Então… - Ela começou, depois de respirar fundo. _ Nós estamos tentando muito entender uma forma de, consolidar essa nova fase em nossa vida…
  _ Está falando do meu pai, e você!? - Ele interrompeu.
  _ Sim. Júlio, eu entendo perfeitamente o seu posicionamento defensivo em relação a vinda dele para cá, depois de tanto tempo… Mas, está ficando muito difícil para a gente continuar sem ter o seu apoio. Você não tem se esforçado muito.
  _ Eu deveria? Porque você sabe bem como disse, as minhas motivações, e ainda acredita que meu julgamento deveria ser outro.
  _ Filho você sabe o quanto te amo, e seu pai também o ama. Mas porque não podemos esquecer essa fase ruim, e seguir em frente?
  _ Porque se eu seguir em frente, vou estar basicamente fingindo que não te vi sofrer, ao ponto de ter de se medicar para estar bem, e que fui abandonado por anos como sem ter nenhuma consideração…
  _ Você acha que ele não te considera?
  _ Pergunte ao próprio, ou melhor… Analisa suas ações.
  Nesse momento, Omar entrou na sala, cabisbaixo e pronto para se defender.
  _ Júlio César… - Ele disse.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora