Pronto socorro

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   Júlio subia as escadas seguido pelos outros, e então começou a vasculhar cada quarto daquele andar. As pessoas se incomodavam quando passava, mas ele não dava a mínima.
  Chegou na última porta do corredor, e a abriu sem pensar. O que encontrou o deixou bem chocado.
  Três pessoas estavam no quarto, e o olharam assustadas quando entrou. Dilan estava à beira da cama, sentado em uma cadeira confortável, em uma de suas mãos um cigarro e na outra uma garrafa de bebida.
  Já na cama, uma presença inusitada. Bruno estava apenas com uma cueca e meias brancas, segurando uma cerveja em uma das mãos, isso porque a outra mão estava ocupada, apalpando as nádegas de um corpo que praticamente estava imóvel sobre o colchão e lençóis amarrotados.
  Bastou ver os longos cabelos pretos, e não o restou dúvidas. Felicia estava desacordada, e sendo molestada pelo loiro, que agora encarava o menor com medo.
  Júlio César não pensou duas vezes antes de entrar no quarto e com um único pulo, arremessar o corpo de Bruno para longe depois da cama. Dilan se levantou em seguida para segurar o menor, mas nesse momento Ravi entrou no quarto correndo e não exitou antes de começar a socar o rosto do irmão, que caiu no chão desarmado.
  O barulho dos golpes, dos gritos, fez com que Felicia acordasse, e então Sara que já estava chegando na cama a pegou pelos braços, e a ajudava a se levantar ainda zonza.
  Bruno nesse meio tempo se ergueu, e foi para cima de Júlio, ele era mais forte, mais cruel. Pegou a garrafa de vidro que segurava e a bateu com força na cabeça do menor, que saiu cambaleando para depois da cama.
  Ravi, olhou para trás e viu o menor caindo. Se levantou de cima do irmão e foi para Bruno o dando um chute certeiro no estômago, que o fez perder a respiração e cair novamente.
  Sara já havia passado da porta com Felicia, e o moreno ajudou Júlio a se levantar e também deixar o local.
  As pessoas não dançavam mais, apenas os viam com pavor, tentando entender toda a confusão, e todo o sangue que escorria da cabeça do menor.
  Desceram rapidamente as escadas, e saindo da casa Ravi pediu para que os outros três os esperassem na lateral da casa, escondidos entre os arbustos, para o caso de os outros dois sairem.
  Um pouco depois ele retornou, mas chiando os pneus de seu carro quando estacionou.
  _ Entrem, logo aqui!
  Júlio ajudou Sara a carregar Felicia, até entrarem no carro, mas ele mesmo não estava tão bem.
  _ Porra! Porra! Que está acontecendo com esses caras!? - Ravi estava extremamente assustado, assim como todos ali.
  _ Precisamos… Precisamos ir para um hospital.
  Júlio César tinha a voz fraca. Sua cabeça latejava muito, e o sangue começara a manchar sua blusa de frio.
  _ Ravi, o que vamos dizer? - Sara perguntou.
  _ Eu não sei, porra! Meu deus!
  _ Vamos dizer que foi uma briga de bar, e que ela usou alguma coisa…
  _ Mentir, Sara? Eles não vão acreditar nisso!
  _ Para de chorar, seu bundão! Dirige essa merda e deixa que eu resolvo o resto! - Até Júlio que estava enfraquecido, se assustou com o grito de Sara.
  Ravi se calou e começou a chorar em silêncio, estavam desesperados.
  Correndo como nunca antes, ele estacionou finalmente ao pronto socorro mais próximo. Ajudou Sara a descer Felicia do banco, e a pegou no colo. O menor foi andando bem de vagar para dentro até Sara  o ajudar a se firmar.
  _ Boa noite! Por favor, precisamos de um atendimento com urgência!
  A atendente olhou com preguiça para Ravi.
  _ Boa noite. O que aconteceu?
  _ Minha amiga… - Ela ainda estava em seu colo. _ Ela está sobre efeito de alguma substância, seu corpo não está respondendo. E o meu… amigo, acabou se metendo em uma briga com um cara e se machucou.
  Ela ainda o olhava desatenta.
  _ Você pode por gentileza, preencher esse formulário? - Uma calma na voz que deixava qualquer um irado. _ Eles estão com documentação?
  _ Acho que sim… mas eu me responsabilizo!
  _ Senhor, somente os pais podem se responsabilizar por pacientes…
  _ Minha filha, você está tirando onda com a nossa cara!? - Sara tornou a gritar, deixando de lado aquele semblante neutro de sempre. _ Chama alguém agora para os atender, eles estão morrendo! - Ela exagerou.
  A atendente tentou pedir calma, mas Sara pegou a mão de Júlio mostrando o quanto estava suja de seu próprio sangue. E só então ela resolveu trabalhar de verdade chamando um enfermeiro para ajudar Ravi a levar Felicia para dentro, e acompanhar o menor para a sala de curativos.
  Sara ficou preenchendo o formulário de Júlio ao menos, que conseguiu a sua carteira com documentos antes de entrar pela porta.
  Ravi se sentou em uma cadeira frente à maca onde Felicia fora colocada, o enfermeiro já preparava o soro para aplicar em sua veia.
  _ O que aconteceu com ela? Sua amiga é usuária?
  _ Não.
  _ Então como teve acesso a toda essa droga?
  _ Cara, eu não faço a mínima ideia! Provavelmente alguém colocou na bebida, e deu a ela.
  O enfermeiro o olhou com desaprovação. Com certeza eles não eram os primeiros jovens a chegar naquela situação, pedindo por atendimento por conta de substâncias nocivas.
  Um pouco depois, Sara chegou na porta da pequena sala que estavam.
  _ Ela está bem?
  _ Parece que sim… - Ravi a respondeu.
  _ Vai precisar dormir aqui está noite, vamos fazer o possível para limpar o sangue e amenizar os efeitos. - O enfermeiro completou.
  _ Onde esta, Júlio?
  _ Sala de curativos.
  Após Ravi a direcionar, Sara seguiu para a sala, encontrando o menor sentado em uma cadeira. Uma enfermeira separava alguns objetos em sua mesa, e a viu se aproximando, sem dizer nada.
  _ Júlio, como você está?
  _ Estou bem. Vão dar dois pontos na minha cabeça, eu já tive mais…
  _ Não brinca com isso. Felicia terá de ficar sob observação essa noite.
  _ Mas ela está bem?
  _ Está descansando agora, e no soro… Eu estou completamente perdida.
  _ Obrigado por tudo, Sara! Você foi muito incrível hoje.
  _ Eu não sei nem o que dizer. Ainda não acredito no que vi…
  _ Não vamos falar disso aqui, por favor. Eu… - O menor começou a chorar. _ Eu jamais vou os perdoar!
  Ele se encostou e a enfermeira se aproximou com uma fase para limpar o ferimento, e depois começou a passar a linha com a agulha. Não conseguiu expressar a dor, porque sentia o sangue quente correndo nas veias.
  Depois de receber o cuidado, o menor e Sara foram para a sala, onde Felicia ainda dormia, tranquila agora.
  _ Está tudo bem? - Júlio perguntou a Ravi.
  _ Sim. Ela vai descansar um pouco, e amanhã estará bem.
  _ Será que… Ela vai se lembrar? - Sara indagou.
  _ Vamos pensar no melhor, independente do que aconteça. - Júlio disse, e saiu andando em direção à recepção.
  Ele se sentou sozinho nas cadeiras e ignorou totalmente a presença da atendente, que estava bem focada em algo na tela de seu celular. O jovem fechou os olhos e se concentrou a acalmar os nervos.
  _ Podemos conversar um pouco?
  Ravi já estava se sentando ao seu lado quando notou.
  _ Por favor…
  _ O que vai fazer?
  _ Sobre?
  _ Sobre ela… Aquilo foi criminoso!
  _ Como disse à Sara, acho melhor não falarmos disso aqui. Além do mais estou bem exausto.
  _ Está bem. - O moreno olhou para frente e se confortou na cadeira.
  _ Ravi, posso voltar rapidamente naquele assunto?
  O outro o olhou, e Júlio ficou tímido.
  _ O que vai mudar, se você ficar falando e falando…?
  _ Não precisa mudar. Eu sei que errei, mas ao menos gostaria de ter a oportunidade de te pedir desculpas, e te mostrar que é sincero.
  _ Eu nunca vou me esquecer dos momentos que tivemos. Não sei como foram para você, mas para mim significaram muito!
  _ Você é um cara incrível! O que eu fiz não diminui esse fato.
  _ Mas Júlio… Em algum momento, você conseguiu se apaixonar por mim?
  O menor movimentou a cabeça negando. Eles gostava da atenção que recebia do outro, mas Ravi jamais conseguiu ocupar qualquer espaço em seu coração.
  _ Eu juro que tentei. Mas sempre foi ele…
  _ Torço por vocês. Mas ele não vai te fazer feliz, como eu quis tanto…
  Ravi se levantou e voltou a entrar para estar junto à Sara. E Júlio César voltou a fechar os olhos, agora deixando uma lágrima de tristeza escorrer.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora