Quermesse

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A semana ia passando bem vagarosamente, os jovens estavam ocupados e não se viam muito, já que Júlio terminava seu trabalho para ser entregue na quinta, enquanto os outros estavam bem envolvidos com a arrecadação de alimentos e agasalhos para a doação.
Sara estava se aproximando mais do trio, e agora os acompanhava toda manhã nas pausas, sempre jogando os cabelos de lado. O que tinha de bacana mesmo, era o fato de que Bruno e os amigos estavam bem ocupados com os preparativos da festa, e com qualquer outra coisa mais interessante do que perturbar ele.
  Quando chegou o momento de entregar finalmente o trabalho, Wesley agradeceu ao amigo.
_ Não precisa agradecer. Ou você me paga um sorvete depois.
_ Pago quantos quiser! Ajudou muito, e deu tempo de a gente juntar bastante coisa para a doação.
_ Você é bruto assim, mas agora ajudar os outros né?
_ Claro! Sempre fiz isso. E te ajudo sempre Júlio.
_ Você é tóxico.
_ Eu? Porquê?
_ Você não me ajuda a caminhar, me coloca nas costas e me leva até onde tenho de ir.
_ Nunca pensei por esse lado. Foda-se!
Eles riam, e Júlio deu um leve chute no amigo, por debaixo da mesa.

Aquela tarde estava quente, e como Júlio César não era muito fã de ficar exposto ao sol, recusou o convite de ir na última caminhada dos amigos atrás de doações. Sara foi, e ele sabia o que ela estava planejando no entanto, não podia impedir.
Wesley e seus 1,80 de altura, cabelos loiros e olhos verdes, um corpo bem trabalhado e aquela barriga durinha e cheia de gominhos, sua voz era grave e quando falava parecia só ter ele no ambiente. Seu cheiro era tão único quanto sua mania de não pisar na cor branca da faixa de pedestres ao atravessar a rua.
Ele gostava de ler quando estava sozinho, muitos livros em PDF e sempre coisas fantasiosas, não falava de relacionamentos afetivos com ninguém a não ser que estivesse bêbado e sem filtro.
Um grande bobão, como o menor gostava de pensar, lindo desde a adolescência quando se conheceram, e irritantemente grudento.
Júlio César gostava dele tanto como amigo, que tinha medo só de imaginar criar algum outro tipo de sentimento e estragar toda a intimidade entre eles, ou no pior dos casos, perder sua amizade.
Sexta-feira tinha uma brisa mais fria na manhã, e o sol estava coberto por nuvens. O menor chegou a faculdade e foi entrando como de costume.
Ao passar pelas primeiras salas, algo que o deixou curioso. Um garoto conversava com Dilan, e quando se virou ele teve a certeza do que tinha visto.
Era Ravi. Magro e de cabelos grandes ondulados quase tapando os olhos, tinha estilo demais para ser hétero.
_ Eu o vi.
_ Viu quem? - Felícia perguntou, quase cochichando.
_ O garoto… Ravi. Ele estava na sala do laboratório com o Dilan.
_ Dilan? Já vi que não presta só pela companhia.
_ Eu não sei, mas parece que estavam conversando e, havia outros garotos lá.
_ Será que ele fez aquilo, só para ver como você iria reagir?
_ Pode ser que sim. Talvez seja por isso que ele tenha tido tanta segurança para tentar me … Você sabe.
_ Dilan deve ter comentado com ele então, e por isso ele foi te provocar. Cara eu odeio esses meninos.
_ Do que estão falando? - Wesley interrompeu.
_ Ah nada! - Júlio respondeu prontamente.
_ Sei… Vão ficar de segredinho agora?
_ É algo meu, depois eu te conto. - Felícia retornou, para fugir do assunto.
Júlio César estava bem chateado por saber que caiu quase em mais uma cilada daquele grupo de homofóbicos, mas ao mesmo tempo aliviado por ter sido inteligente o bastante para não cair de fato.
Ele intimamente gostou de ser abordado e, o garoto era lindo, mas seu medo o precaveu como sempre de ter mais dores de cabeça.
No intervalo ele teve a ideia de ao invés de sentar se com os amigos na grama para lanchar, andar um pouco pelo terreno, mas foi no refeitório que ele o encontrou.
Ravi estava junto a Bruno, e Dilan novamente. Eles riam, e pareciam bem próximos.
“ Como você é ingênuo, Júlio César. “ - ele pensou.
No restante do dia o jovem não teve ânimo para mais nada.
Sábado era o dia em que podia acordar mais tarde, e ele aproveitou para limpar seu quarto e depois assistir a alguns episódios de anime.
_ Vamos nos encontrar e ir juntos para o salão? - Wesley perguntou, durante a chamada de vídeo que os agora quatro amigos fizeram.
_ Por mim tudo bem, posso me encontrar com você Wesley. - Sara foi rápida. _ Depois vamos até Felícia e Júlio.
_ Porque ele iria até você Sara? - Júlio questionou.
_ Porque o pai dela vai nos levar. Felícia não vai conseguir andar de salto até lá, e dessa vez não quero ficar carregando o sapato de ninguém.
_ Certo, tudo bem.
Quando encerrou a chamada o menor correu para tomar seu banho, queria ter tempo para se depilar e ficar bem limpo, como sempre fazia.
“ Um virgem que não pega ninguém… pareço meio idiota fazendo isso. “ - Ele disse a si mesmo, enquanto via a espuma do shampoo descer pelo seu corpo liso.
Ao terminar, foi para o quarto se vestir, e escolheu uma camisa branca com estampa, e a calça jeans escuro, usou também uma jaqueta jeans em tom parecido ao da calça para combinar. Calçou seu tênis e passou seu perfume, um cheiro cítrico, mas nada muito doce.
O interfone tocou às 19:30 hrs, e ele se despediu da mãe, a qual insistira para o acompanhar, mas se recusou. Quando saiu, pode ver que Wesley o aguardava em pé, frente a um carro prata, as meninas estavam dentro dele o aguardando, e o pai de Sara no volante.
Wesley estava usando uma camisa preta, e a blusa de frio também. Tinha um brinco maior que o outro nas orelhas, e os cabelos sempre bagunçados sobre a testa. Sua calça branca deixava bem visível a cor vermelha de sua cueca, e o menor fingiu não ter percebido.
_ Vamos logo, seu molenga!
Entrando no carro o nariz do menor foi inundando por uma quantidade de perfumes, que desmaiaria qualquer um. Mas o cheiro do loiro era amadeirado, e não fedia a pizza.
_ Trocou aquele casaco fedorento hoje?
_ Qual é Ju? É de estimação.
_ É bom ver você, não fedendo a calabresa e mostarda.
_ Vai se ferrar! Eu trabalho em casa com minha mãe você deveria é arrumar um emprego para ficar fedendo também e ganhar dinheiro.
_ Nossa, desculpa! Só brinquei com você…
_ Para de cheirar o meu cangote, seu… - Wesley olhou para os outros no carro, e desistiu de terminar a frase.
Júlio César para provocar puxou o maior pelo braço, e lhe deu uma cheirada no pescoço fazendo o outro reclamar pelo arrepio.
Após se despedirem do pai de Sara, eles foram caminhando até a entrada do salão que já tinha muitas pessoas andando e conversando. Em sua maioria senhoras mais velhas.
_ O que é isso? Uma quermesse? - Debochou Felícia, ao ver a decoração do local e as barraquinhas de comidas típicas.
Havia um palco bem em frente à entrada, onde estavam tocando uma música e provavelmente fariam alguma espécie de rifa.
Quem cuidava de toda a organização ali era as professoras e professores da faculdade, algumas senhoras da igreja católica local, e as responsáveis pela instituição que abrigava e alimentava moradores de rua. Todos pareciam estar bem felizes e sorridentes.
Andando pelo local, Felicia viu uma barraca que estava vendendo pipoca amanteigada, e refrigerante. Ela correu para comprar uma.
_ Gente eu vou falir essa barraca, se me deixarem aqui.
_ Que isso Felícia, parece que nunca comeu pipoca na vida.
_ Cala a boca Wesley!
_ Quero ver quando for beijar alguém, com esse gosto de manteiga na boca…
_ Não estou aqui para beijar, e você também vai comer pipoca comigo.
_ Vou mesmo! Já que Júlio disse que não estou fedendo a calabresa, hoje vou cheirar a manteiga.
_ Que horror! - Júlio respondeu. _ Não vou beijar essa boca aí…
Wesley riu e pegou seu saquinho de pipoca também, já tacando algumas na boca.
_ Eu não me importo com o gosto de manteiga, sabe… - Sara soltou no ar, e o menor já começou a se estressar.
_ Se não se importa, pode começar a comer bastante pipoca, está uma delícia! - Wesley respondeu, e saiu rindo.
A garota não pareceu ter gostado muito, mas sorriu, e se aproximou de Felícia.
_ Quero dar uma volta, e tirar vocês daqui.
_ Porque Julinho?
_ Não me chama assim, Wes. Só quero fazer vocês gastarem as calorias que vão ganhar, comendo tanta manteiga.
Eles riram e concordaram em andar um pouco.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora