Flash dourado

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A respiração ofegante delatava seu crescente nervosismo. Ele ia andando pelo salão sem olhar bem para onde estava indo, apenas mantinha a cabeça baixa e se divertia em pensamento com o que havia acabado de acontecer.
Aquele sabor, os lábios quentes e macios, os toques mais quentes ainda. Ele ficou excitado só de lembrar da cena, e se concentrou em não pensar mais para controlar a ereção. Até que uma onda de água fria o atingiu.
Distraído, o jovem sem querer esbarrou em alguém e com impacto fez a pessoa derramar seu copo com refrigerante, e também um pacote com pipocas que voaram para longe. Júlio pensou em pedir desculpas no automático, mas ficou parado em quase transe quando ergueu o olhar.
_ Seu filho da puta!
Bruno se virou e mostrou sua blusa de frio com uma mancha enorme causada pela bebida que o atingira. Seu olhar ao se virar e ver que se tratava do menor foi de extrema fúria.
Antes que qualquer ser humano com reflexos comuns pudesse reagir, antes que o pequeno dissesse qualquer coisa, e antes que ele se quer entendesse o que estava acontecendo, uma mão fechada e bem localizada encontrou seu nariz e boca.
O soco foi tão forte que Júlio jurou ter ouvido seus ossos da mandíbula se estalando. Com o impacto ele foi caindo para trás em uma queda demorada, pois ia se escorando nas pessoas que estavam atrás dele e que agora gritavam assustadas com a violência que se seguiu.
Ao cair no chão ele tentou se segurar, mas teve seu braço de apoio recebido por um chute certeiro, que o fez bater a testa no piso. Vários golpes de um sapatênis marrom e que com certeza fedia por dentro o tomaram de assalto. Ele gritava com a dor.
Cerca de 6 chutes, um no braço, um nas pernas, e restante na região da barriga. Até que Bruno tomou um empurrão de alguém que chegou como um fleche dourado, tão rápido que nem seu cheiro amadeirado pode ser farejado se jogando para cima dele.
Wesley urrou, antes de descer a mão fechada de cima para baixo e atingir a lateral do rosto do outro loiro que saiu tropeçando para trás em seus amigos.
Antes do próximo golpe, Felícia e Ravi surgiram do nada segurando o maior pela blusa e braços.
_ Pelo amor de deus, Wesley para!!! - A amiga desesperada gritou.
_ Eu vou te quebrar todo, seu lixo! Eu vou acabar com você!!! - Ele vociferou, ainda segurado pela amiga.
Bruno foi puxado pelos amigos pelo braço, e levado para fora do salão. A festa havia acabado.
_ Júlio!
Wesley correu para erguer o amigo do chão, mesmo que ele reclamasse a dor que sentia.
_ Me solta, está doendo! Por favor!
_ Ju, o que fizeram com você? Porque fizeram isso?
Júlio riu, com a boca toda ensanguentada.
_ Eu fiz o babaca se molhar de bebida.
_ Que merda! Eu vou arrancar uns dentes daquele otário!
Wesley saiu correndo pela multidão que ainda os olhava com julgamento, e Ravi saiu correndo atrás dele.
Agora de pé e mancando, o menor se escorou nos ombros da amiga, Sara surgiu também e o ajudou a se manter de pé. Elas o levaram para fora do salão, estavam procurando por Wesley, mas sem sucesso.
_ O que diabos aconteceu ali?
_ Felícia, eu estou cansado!
Júlio se sentou na beirada do meio-fio, já distantes do local da festa. A noite estava fria, mas o sangue que escorria da boca do menor era quente, e ele o cuspia sem sucesso fazendo escorrer por seu queixo.
_ Porque ele estava te batendo, cara? Estávamos indo na barraca de churros e do nada todo mundo começou a correr na direção de vocês.
_ Eu estava andando e sem querer esbarrei nele, o fazendo derramar o refrigerante na roupa e quando vi, ele já estava me dando um soco na boca. Meu nariz também dói…
_ Você parece tão calmo, porque não voltou rápido do banheiro?
_ Porque eu não estava no banheiro! - Júlio gritou, Sara deu um saltinho para trás. _ Estava na porra dos fundos de uma barraca, beijando a boca de outro homem!
_ Calma, Ju. Não precisa ficar nervoso.
_ Não é nervosismo Felícia, é ódio! Que desgraça essa vida, onde eu tomo um soco na cara por gostar de colocar a porra da minha boca na de outro homem.
Felícia se sentou ao lado do amigo, e Sara ficou em silêncio, provavelmente pela informação que acabara de receber.
_ Está tudo bem. Estou aqui com você. - Ela o abraçou de lado.
Júlio repousou a cabeça em seus ombros e começou a chorar, mas ao mesmo tempo que lágrimas desciam, ele ria. Era quase sádico aquele sensação, mas ele começou a prestar atenção no gosto do sangue, era ferroso.
Não tinha dado atenção à sua costela esquerda, mas ela doía os ossos. Ele levantou com cuidado a blusa e viu que a região estava bem avermelhada.
_ Você precisa ir em um médico.
_ Para quê, Sara? Não tem como fazer curativo em marcas de chutes.
_ Mas ela está certa, amigo. Sua boca está sangrando muito…
_ Acho que cortou minha gengiva, vai passar logo. Eu quero sentir isso, a dor.
_ Do que está falando?
_ Preciso aprender a conviver com essa dor, já que esse é o meu destino. Viver apanhando dos outros nas ruas, por ser diferente delas.
_ Você não é diferente de ninguém.
_ Sim, eu jamais imaginei que fosse gay…
Júlio César olhou para Sara e até pensou em questionar aquilo, mas não queria dar atenção a ela.
_ Você pode registrar um boletim de ocorrência.
_ Não quero.
_ Mas você não entendeu o que o Wesley te disse? Precisa aprender a se defender!
_ Felícia, relaxa. Wesley disse para eu me defender de outra forma, com certeza não era envolvendo polícia nisso. Tanto que ele saiu que nem louco para pegar Bruno.
_ Estou com muito medo disso.
_ Onde será que eles foram? - Sara esfregou os braços tentando os esquentar mais um pouco.
_ Só espero que eles não tenham se encontrado. Da última vez Wesley se machucou muito.
Eles ficaram em silêncio.
Alguns carros passavam pelo local, e as pessoas os viam ali parados na beira da rua iluminada por uma luz fraca do poste. O clima parecia esfriar cada vez mais, a medida que o sangue do jovem começava a coagular no queixo e mãos, e ele parava de tremer os nervos, e começava a tremer de frio.

Quase uma hora depois uma silhueta surgiu de uma esquina. Vinha andando calmamente e com as mãos nos bolsos.
Júlio pensou em se erguer, mas suas pernas doíam na região dos joelhos.
_ Vou levar vocês para casa, venham.
Ravi se colocou em frente ao menor, e eles se olharam de baixo para cima, e vice-versa. Aquela visão era com certeza muito atrativa.
_ Onde está Wesley?
_ É Felícia, certo? - Ela afirmou com a cabeça. _ Eu o segui até uns dois quarteirões, e depois paramos para conversar. Agora deve estar chegando em casa.
_ Quê? Mas o que aconteceu?
_ Júlio ele só saiu correndo e quando chegamos aqui fora, seu amigo foi para cima dos outros e meu irmão defendeu Bruno. - O menor visualizava a cena. Da outra vez foram os amigos que seguraram Wesley para que Bruno o agredisse, e Dilan era um deles. _ Depois saíram correndo e o Wesley os seguiu até bem lá na frente.
_ Mas ele está bem?
_ Acredito que sim. Nunca corri tanto na vida, mas consegui o alcançar e após conversarmos ele se acalmou.
Júlio ergueu os braços e Ravi o segurou, foram andando em direção ao salão de eventos e perceberam que a música havia parado.
_ Provavelmente destruímos com o evento beneficente.
_ Devemos ser as piores pessoas do mundo nesse momento. - Felícia brincou com Júlio, e ele riu.
_ Vamos aqui.
Ravi indicou um carro preto que estava do outro lado da rua, quase em frente à entrada do salão. Eles se aproximaram e Júlio perguntou.
_ Alguém vai nos levar? Seu pai?
_ Não. Esse carro é meu.
Felícia não se conteve ao olhar para o amigo e fazer uma expressão de satisfação, ao perceber que o amigo iria andar no banco da frente do veículo.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora