Vamos com calma

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Júlio César estava na cafeteria, sentado no canto do banco e encostado no vidro que dava vista para a rua. Ele via os carros passarem e pessoas em todas as direções. Uma mãe empurrava o carrinho de seu bebê, enquanto falava no celular, despreocupada com o risco que seu filho corria ao atravessar o sinal. Dois idosos iam conversando quando um cara passou correndo e bateu os ombros em um deles, nenhum pedido de desculpas. Ele somente seguiu em frente.
Um bando de pombos brincava sobre os fios da rede elétrica logo acima, vez ou outra um punhado de caca caia como artilharia na calçada, e esperto era os que conseguiam se desviar a tempo. Os cachorros amarrados por coleiras já tinham uma técnica diferente para causar problemas, quando depositavam suas fezes em qualquer canto que encontravam. Seus donos deveriam parar e limpar, mas para quê? Outro viria e limparia, e logo depois o cachorro de rua cagaram novamente sem um dono para se importar.
Porque em todo lugar havia alguém tão mal, algo tão ruim e indiferente, que jamais seria capaz de pensar que suas ações influenciam diretamente na vida de um outro ser. A maldita ignorância, o infeliz ego.
_ Júlio, tome seu café! Vai esfriar…
O menor tornou sua atenção à Felícia, e pegou o copo, o levando até sua boca seca.
_ Porque está tão pensativo hoje?
_ Não é nada Felícia…
_ Desde ontem você está distante. Quando saímos de perto, o que conversou com ele?
_ Porque se eu tenho um problema, você associa diretamente a ele?
_ Porque desde que nos conhecemos, a única pessoa que tira sua paz e você não consegue disfarçar, é ele. Podem te tacar uma pedra na cabeça que você não reage, mas de ele grita com você… automaticamente seu dia acaba.
Ela foi cirúrgica em sua colocação, e ele odiou isso.
_ Wesley tem um poder de influência enorme sobre mim, é tão perceptível…
_ Júlio eu vou te perguntar mais uma vez, não minta para mim… - Ele tomou mais um gole do café. _ Você está apaixonado pelo Wesley?
_ Não, não mesmo! - Ele mentiu. _ Ele é como um irmão para mim.
_ Então porque essa guerra entre vocês? Tudo o que você faz é controlado por ele…
_ Wesley não me controla! - Ele interrompeu.
_ Só falta ele começar a decidir qual roupa você vai usar, sinceramente! E por outro lado, ele perde a cabeça e o motivo é sempre você, você Júlio!
Um breve filme começou a passar na cabeça do jovem.
_ Um dia, Felícia… eu estava sozinho na sala de aula sem amigos, ou qualquer pessoa que desse importância para quem eu sou. É claro que eu vejo que você se importa, minha mãe, mas… Não é como ele faz. - Felícia repousou as mãos sobre a mesa e se concentrou em não interromper.
“ Desde que ele se sentou ao meu lado naquele dia, não saiu de perto. Crescemos e compartilhamos nossa intimidade um com o outro, como dois adolescentes malucos e irresponsáveis. Mas ninguém nunca soube do que fazíamos, porque estamos reservadamente os melhores amigos do mundo. “
_ Eram? Não são mais?
Pausa para respirar fundo.
_ Eu já nem sei o que somos teoricamente. Quer dizer… Sendo sempre mais racional do que ele, eu sei que somos só amigos e temos uma irmandade inabalável. Mas entendo quando você questiona isso, porque até mesmo eu fico confuso em alguns momentos.
_ Você diz sobre todas as vezes, em que agem como se estivessem namorando e vivendo o romance mais abusivo que eu já vi na vida?
_ Sei lá… pode ser.
_ Eu sou amiga de vocês desde sempre, estou acompanhando esses anos todos as curtições, loucuras, risadas, brigas, choros… Júlio César eu sou a única que pode dizer com firmeza de que isso, não é amizade.
_ O que seria então?
_ Se vocês não estão vivendo um amor. Isso é doentio.
O menor a olhou assustado.
_ Você sempre tenta me alertar…
_ Já faz meses que eu estou te falando; Júlio para de ceder tanto às vontades dele, e digo o mesmo para aquele gigante burro, que dê um tempo de tentar acabar com a vida dele, por você… - Ela suspirou e viu que o amigo estava chateado.
_ Se um dia eu perder o controle… segura a minha, por favor.
_ Eu estou sempre com vocês, porque os amo. É claro que eu também já fui louca para cair naqueles braços fortes dele, e ele sabe disso. Mas ainda bem que consegui separar as coisas e definir nossa relação como amizade.
Júlio sentiu a indireta, e ficou em silêncio até terminar o café.
Quando saíram o menor acompanhou a amiga até sua casa, e ela convidou sem sucesso para entrar.
_ Preciso terminar a atividade da aula de hoje, a professora já está me marcando porque tirei nota baixa na última prova.
_ Tudo bem, nos vemos amanhã.
_ Obrigado pela conversa de hoje, eu precisava ouvir aquilo.
_ Mas tenta praticar de vez em quando, faz bem tá bom!?
Eles riram e se abraçaram. Logo depois ele seguiu para casa, de afundando nos livros.

Os dias passaram, e era sexta-feira a tarde.
Júlio arrumou o quarto, colocou as roupas sujas para lavar, e ajeitou a casa. Depois tomou um banho quente e se perfumou todo, vestindo uma roupa leve.
Hoje iria receber uma visita nova, Ravi havia dado a ideia de se verem em sua casa, e ele aceitou guardando só para ele o encontro.
O interfone do portão de entrada tocou e ele abriu para que o outro entrasse.
Ravi esta bem mais 'fresh' que o comum. Usava chinelos brancos, uma bermuda jeans e regata branca. Em seu pescoço uma corrente de prata, e os cabelos cacheados molhados de gel.
_ Que bom que está aqui! - Júlio o recebeu com um abraço, sentindo aquele perfume adocicado em seu pescoço.
_ Estou feliz em te ver, longe daquela loucura da faculdade…
_ Sim… Vamos entre!
Júlio César o acompanhou até o quarto, pedindo para que ele se sentasse na cama, e ele sentou ao seu lado.
_ Como está indo seu dia?
_ Ah, tá tudo bem… Quer dizer, a gente se viu hoje de manhã e já está tudo bem.
_ Olha, quer dizer que não mudou nada para agora a tarde?
_ Bom, sim! Você está aqui agora e isso é bom.
Ravi sorriu e foi indo para cima do menor, segurando em seu rosto.
_ Vamos com calma?
O moreno se afastou.
_ Você sempre é tão esguio…
_ Só sei lá… preciso respirar um pouco, e relaxar.
_ Certo, vamos conversar sobre algo.
_ O quê, por exemplo?
_ Me diz aí, qual teu filme favorito?
Júlio riu.
_ Bom… Eu sou muito apaixonado por Harry Potter.
_ Um clássico!
_ Sim! Mas… Na verdade, um dia sai com Wesley e fomos assistir invocação do mal, não que eu seja fã de terror, só que eu achei o máximo!
_ É mesmo? E o que gosta de comer?
_ Quase tudo! Wesley e eu amamos donuts, por isso quase todo dia estamos na cafeteria.
_ Entendi… E tem alguma coisa que você ame, que não envolva ele?
Júlio César ficou sério ao entender a pergunta.
_ Ah… Foi mal, eu não quis…
_ Imagina! Vocês são amigos isso é comum.
_ Mas você não gosta muito dele, não é!?
_ Sinceramente eu não tenho nada contra… Mas não posso dizer o mesmo dele para mim. Sempre tenta me tirar dos assuntos, nunca puxou papo comigo…
_ Ele é um pouco complicado, eu sei. Não foram fáceis esses anos todos de amizade, porque eu sempre tinha que acalmar aquela fera, e ele sempre se metendo em confusões…
Ravi suspirou.
_ Aham… Júlio, peço perdão se parecer grosseiro da minha parte. Mas se pudermos não falar dele, eu agradeceria.
_ Nossa… Pensei que estávamos nos conhecendo.
_ E estamos. Mas você fala dele a cada 5 palavras, e parece que estou saindo com ele e não você.
_ Certo. - O menor se entristeceu.
_ Olha, eu sei que acabei de chegar, mas se estiver rolando alguma coisa, eu não quero atrapalhar nada…
_ Não! Claro que não. Bom… vamos esquecer isso e, se quiser me beijar…
Ravi pensou por alguns segundos, ao menos beijando Júlio se manteria calado.
Ele tomou a atitude e voltou a puxar o rosto do menor com os dedos, até que iniciaram um beijo delicado.

NOSSO PRIMEIRO ASSASSINATO - Parte 1 (Drama Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora