A M É L I A;

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Amélia não conseguia contar nos dedos quantas vezes teve sua paz tirada por racistas e homens idiotas com síndrome de Deus. 

Ela poderia começar essa história contando que teve uma vida feliz, mas tudo lentamente começou a desmoronar quando perdeu seu irmão mais novo para uma injustiça do sistema. Mas ela não queria se prender ao tópico de luto, não por agora, pois a coisa mais importante a ser contada foi como ela se envolveu com a Família Todoroki.

Amélia definitivamente não lembra se aquela tarde foi fria ou quente, mas lembra que havia saído para comprar algumas coisinhas que o resto do salário atrasado que conseguira arrancar do seu patrão lhe permitia. Desde que ela havia pedido demissão da delegacia as coisas ficaram difíceis. Atuar como policial e então detetive foi um de seus maiores feitos em sua carreira, ela amou cada segundo enquanto agente, mas tudo acabou por culpa de Castro. Ou como ele se auto nomeava, Sargento Castro.

Castro foi o motivo da ascensão de Amélia como policial, e depois o motivo de sua queda. Foi até engraçado pensar que o amor realmente podia te levar às alturas e então te jogar no chão em uma fração de segundos. O fato era que antes de ser sargento, ele era maravilhoso, um esposo ótimo, mas de um dia para o outro ele mudou. Brigas, segredos, traições, risadinhas com os amigos da delegacia. Já era do saber de todos que pessoas podres se revelavam quando achavam seus semelhantes, e naquele caso não foi diferente, bastou apenas uma brecha para que seu ex esposo mostrasse quem era de verdade. E Amélia odiava mentiras. Ela era mulher o suficiente para cair fora quando via que ali não lhe cabia, sua mãe sempre lhe ensinou a não implorar por migalhas, a não abaixar sua cabeça. E foi exatamente isso o que ela fez, não abaixou a cabeça e caiu fora. Preparou o divórcio, perdeu todos os seus bens para aquele homem patético e se demitiu da agência. Bastou ela juntar suas coisas para ver o que tanto lhe escondiam, puro racismo e machismo, parte dele vindo de seu ex esposo.

Foi uma época desgastante para ela, mas isso não a abalou. Sua antiga casa chique foi reduzida a um apartamento apertado e quente, seu antigo emprego que era visto como algo para se ter orgulho foi trocado por um emprego meio merda de meio período e tudo ficou assim até que aquilo aconteceu.

Amélia lembra de chegar na porta de seu apê e notar que alguém havia o arrombado — o que não se era muito difícil de fazer, na verdade —, a maçaneta da porta era meio solta, então se você a girasse, ela ficaria na mesma posição que você a virou, e não na posição original. E era essa a situação que Amélia havia encontrado.

Poderia ter sido alguma criança que tenha feito aquilo? É claro que sim, mas não haviam crianças no prédio.

Ela segurou suas sacolas e abriu a porta, a empurrou com força e a ouviu bater contra a parede. Não tinha ninguém atrás da porta. Com passos lentos ela entrou na sala e deixou as compras no chão, tudo estava em seu devido lugar, suas mãos rápidas tiraram o canivete com formato de chave do bolso, e então, ela começou a andar silenciosamente. Seus olhos captavam cada movimento, cada detalhe. Sua atenção parou em suas fotos com a família, não tinha nada ali para se checar.

A cozinha estava vazia e os corredores também, sua intuição a levou até os quartos, ela pensou bem em qual porta abriria primeiro, quando guiou sua mão para abrir a maçaneta, seu corpo se virou para trás e ela parou o canivete na traqueia do pescoço daquele indivíduo, que sorriu tão calmo quanto um psicopata em cadeira elétrica. 

— Você é boa — ela disse, seu sorriso pequeno e seus olhos azuis lhe davam uma feição doce, mas seu terno e sua postura impecável deixava notável que aquela mulher era uma agente da inteligência ou do governo. — Eu não esperaria menos de você, Detetive Amélia.

— Quem é você e o que porra você está fazendo na minha casa?

— Eu fui enviado.

— Isso era pra ser uma novidade?

sugar daddy; tododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora