Askeladd • filho de outro pai

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Ponto de vista da Sn

— Thorfinn, querido, vá chamar o Askeladd para jantar. E aproveite para lavar suas mãos e as dele. — pedi apontando para meu filho, Loki, que estava ao lado do mais velho, todo sujo de terra.

Apesar de Thorfinn não ser meu filho, eu o considero um. Após a morte de seu pai — infelizmente por responsabilidade do meu marido — sua família ficou vulnerável, sofrendo diversos ataques da vizinhança. Durante um deste estes ataques, sua mãe biológica e irmã acabaram sendo violentadas e mortas por um... soldado aliado de Askeladd. É isso que acontece quando se é mulher em meio a selvagens.

Obviamente que Aske o matou assim que descobriu sua responsabilidade pelo o que houvera com a família de Thorfinn. Esses acontecimentos são recentes, coisa de três ou quatro meses, no máximo. Nosso Thorfinn ainda está muito abalado, embora eu tente animá-lo com brincadeiras, fazendo sua comida favorita ou até mesmo o levando comigo para fazermos compras na cidade; sinto que não esteja dando muito certo.

Já em nossa sala a mesa de jantar estava posta. Como estávamos no inverno, aproveitei para acender a lareira, para deixar o ambienta o mais confortável possível. A mesa é larga e de madeira, dando um espaço mais que o suficiente para nós três. Me sentei a mesa e orei, agradeci aos deuses pelos alimentos enquanto aguardava os rapazes, que não demoraram muito a chegar.

— mamãe, mamãe — Loki correu até mim pulando em meu colo animado ao encarar a comida à sua frente.

— amor — Askeladd deixou um beijo rápido nos meus lábios antes de se sentar à mesa. Thorfinn se sentou ao lado do mais velho, e com Loki em meu colo nós começamos a comer.
— como foi seu dia? — questionou levando um pedaço de carne a boca.

— chato. — falei simples, atraindo o olhar curioso de todos.
— não me levem a mal, eu amo vocês, mas... esse negócio de ser dona de casa... argh, decepcionante. — uma risada saiu dos lábios do jovem, que até então estava em silêncio.

— o que foi, garoto?

— era óbvio que a Sn não suportaria levar uma vida assim. Ela é uma guerreira, velhote. Não nasceu para cozinhar ou passar. — o garoto proferia de forma simples enquanto se entupia de comida. Esse menino é mais astuto do que eu imaginava.

— fala direito comigo, eu que banco sua comida, muleque! — ele olhou raivoso o menino, que riu enfiando mais comida na boa, afim de afrontá-lo, quando na verdade ele conseguiu arrancar um sorriso singelo do meu velhote.

— oshe, se está querendo uma mulher para fazer seus caprichos era melhor ter comprado uma escrava. — argumentou.

— vocês dois, parem. Vamos comer. — resolvi me meter antes que os dois discutissem sérios. Por mais que Askeladd o ame de todo o coração, esses dois quando discutem deixa todos de cabelos em pé.

O silêncio se instalou de forma instantânea no ambiente, mas Askeladd logo o quebrou. Me olhando cabisbaixo ele perguntou:

— eu não fazia ideia que você ficava triste de ficar em casa o dia todo.

— amor, eu não fico triste, fico entediada. — lhe ofereci um sorriso fraco.

— eu prometo tentar passar mais tempo em casa, com você e as crianças...

— quem você está chamando de criança, seu velho?! — o encarou incrédula. Aske o ignorou e prosseguiu.

— sei que sente falta da adrenalina, mas... eu espero que entenda, é mais seguro aqui. Não quero vocês em perigo, muito menos esses dois idiotas.

— boiola — Thorfinn disse, recebendo o dedo do meio do velho como resposta.

— e eu o que tenho haver? — Loki olhou o pai surpreso.

— eu entendo... — afirmei, meio triste. Ele é apenas um pai que está lutando para proteger suas crianças deste mundo cruel, mas... acabou me privando da vida sem sequer perceber.

— é temporário. Eu juro. Quando o novo rei da Inglaterra for nomeado... poderemos voltar e lutar como antigamente. Taças, joias, ouro... tudo que você gosta será seu de novo. — sua mão tatuou-se pela mesa até pegar na minha, alinhamos nossos dedos e sorrimos bobos. Falta alguns dias para os dois irem a guerra, eles lutaram para o príncipe assumir o trono... eu terei de ficar e proteger Loki. Fico preocupada a cada dia que se passa... só de imaginar qualquer coisa acontecendo com um deles... me embrulha o estômago.

— nossa senhora — murmurou Thorfinn, encarando Askeladd com se o estivesse zoando por essa cena, mas pude notar um sorriso em seu rosto. Ele sempre me dizia — escondido de Askeladd — o quanto adorava nossa relação e a admirava.
— Sn, eu te prometo trazer esse carcaça velha que você chama de "amor" vivo da guerra.

— obrigada, querido — sorri gentil para ele.
— e trate de voltar inteiro também, é uma ordem.

— sim, senhora. — afirmou.
— é uma promessa, não é velhote? — o garoto deu um cutucão na costas do mais velho o fazendo se engasgar de leve com a carne.

— sim, sim, sim. — sorriu.
— afinal, que tipo de homem eu seria se abandonasse a família que eu sempre zelei? — todos trocamos olhares felizes, mesmo que por um instante.
— e como pai, meu dever é lutar pelos meus filhos. Então te prometo trazer esse bostinha vivo.

— tava demorando, ahh... pera, filhos? — Thorfinn o olhou meio tímido, mas sorriu. Pude sentir no olhar dele que ouvir aquilo o deixou se sentindo amado, acolhido e cuidado. E é bom que ele se sinta mesmo, pois esse menino é amado por todos nós. Loki também não vive sem ele. Para mim ele sempre será nosso filho.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞, 𝚊𝚗𝚒𝚖𝚎𝚜Onde histórias criam vida. Descubra agora