A madeira estalava com suavidade sob as chamas da lareira. Poucas pessoas circulavam fora das casas naquela noite gelada. Ellie estava sentada no sofá velho, curvada, esfregando as palmas das mãos, os olhos fixos no fogo.
A porta de vidro se abriu com um leve estalo. Max entrou, o rosto ainda rosado pelo frio, e fechou atrás de si com cuidado.
— Você não apareceu pro jantar de novo — disse ela, caminhando devagar até o centro da sala.
— Tava sem fome — respondeu Ellie, sem desviar o olhar do fogo.
— Você também não fala com ele há dias. E não é por falta de tentativas.
— Não vim aqui pra falar sobre o Joel, Max.
Max sentou do outro lado da lareira. Sua voz soava firme, mas não agressiva.
— Mas é só isso que você evita. Toda vez que toca nesse assunto, você muda de assunto ou some.
— Talvez porque eu não tenho nada a dizer — rebateu Ellie, seca.
Max respirou fundo, sem recuar.
— Você tem. Só não quer encarar. Você acha que se manter fria vai apagar tudo o que aconteceu.
Ellie finalmente virou o rosto para ela. Seu olhar era duro, mas vulnerável.
— Você sabe o que ele fez.
— Sei. E também sei o porquê. — Max pausou, escolhendo as palavras com cuidado. — Ellie... ele te ama. De um jeito que eu nunca vi. E eu sei que você ama ele também. Só tá com raiva.
Ellie afastou o olhar de novo. Sua voz saiu baixa.
— Raiva não cobre o que eu sinto, Max.
— Então me explica. Me ajuda a entender por que você prefere se enterrar nessa dor do que tentar reconstruir o que vocês tinham.
Ellie se levantou, andando em círculos pela sala, nervosa.
— Porque tudo que eu faço... tudo... volta pra aquele hospital. — Ela se virou abruptamente. — Você entende o que é carregar a culpa de estar viva? De saber que sua existência custou a chance de salvar milhares?
Max também se levantou, mas não se aproximou.
— Você carrega essa culpa como se fosse o único jeito de honrar os mortos. Mas e os vivos, Ellie? E ele? E eu?
— Ele mentiu pra mim, Max. Me tirou uma escolha. Me fez viver com um peso que não era dele decidir se eu devia carregar — sussurrou Ellie, quase pra si mesma.
— E mesmo assim, ele te escolheu. Todos os dias desde então. — A voz de Max era baixa, firme. — Não pra ser perfeita. Não pra ser um símbolo. Mas pra viver. — Ela deu um passo mais suave. — E eu tô aqui... porque eu também escolhi você.
Ellie encarou Max por um longo momento. Havia dor, medo, cansaço — mas também algo abrindo espaço entre os escombros.
— Eu tô tentando, Max — disse ela com a voz embargada, quase num sussurro.
— Tentando o quê?
— Tentar... perdoar o Joel.
Atrás delas, a porta da lareira rangeu discretamente. Joel e Tommy haviam vindo buscar lenha e pararam ao ouvir a conversa. Permaneceram ali, imóveis, sem serem notados.
— Isso já é um começo, El — disse Max, com um sorriso frágil, mas genuíno.
Ellie hesitou por um instante, como se lutasse consigo mesma. Então, impulsionada pela emoção crua, ela se aproximou de Max. Sem palavras, sem aviso, a beijou — breve, intenso, contido. Um momento onde o mundo pareceu suspenso.
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𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞, 𝚊𝚗𝚒𝚖𝚎𝚜
Fanfiction𝙸𝚖𝚊𝚐𝚒𝚗𝚎/𝙾𝚗𝚎-𝚂𝚑𝚘𝚝 𝚍𝚎 𝚊𝚗𝚒𝚖𝚎𝚜 𝚏𝚊𝚖𝚘𝚜𝚘𝚜. 𝙻𝚎𝚖𝚋𝚛𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚑𝚊́ 𝚎𝚡𝚌𝚎𝚜𝚜𝚘̃𝚎𝚜 𝚚𝚞𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚏𝚊𝚕𝚊𝚖𝚘𝚜 𝚍𝚎 𝙾𝚗𝚎-𝚂𝚑𝚘𝚝, 𝚌𝚘𝚗𝚝𝚎𝚗𝚍𝚘 𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘𝚜 𝚎𝚜𝚙𝚎𝚌𝚒𝚊𝚒𝚜 𝚌𝚘𝚖 𝚌𝚘𝚗𝚝𝚒𝚗𝚞𝚊𝚌̧...
