Aquela era uma manhã rotineira de segunda-feira para Akk. Khanlong e Wat conversavam entre gritos e xingamentos em suas carteiras e os outros alunos pareciam cansados demais para gastar as forças restantes participando da conversa, então para quem passava no corredor era como se houvesse apenas duas hienas descontroladas em uma sala cheia de adolescentes. As cortinas estavam abertas e o sol já queimava parte do braço exposto de Akk, mas não havia o que fazer, ele não podia simplesmente pedir para que todas as cortinas fossem fechadas. Afinal, o verão estava a todo vapor e os quatro ventiladores de teto quando ligados serviam apenas para proliferação de poeira. No final das contas, Akk teria que aguentar o calor e a marca de sol em seu antebraço, caso contrário todos morreriam asfixiados.
A professora de matemática entrou na sala como um gato sorrateiro e os olhos de Khanlong ficaram tão grandes em surpresa que fez todos segurarem uma risada, suas orbes castanho escuro pareciam prestes a saltar de seu rosto. Percebendo o clima icônico da sala, Thua, o representante de sala, puxou a saudação da manhã e todos os alunos engoliram suas risadas e o acompanharam:
- Bom dia, professora! - Suas vozes eram tão finas que podiam ser capazes de cortar o ar em pequenos pedaços, as gargalhadas ainda descendo pela garganta. - Por favor, nos transmita todo o conhecimento!
A mulher fingiu não notar a face avermelhada de Khanlong e o lábio torto de Wat, que ao tentar esconder a risada parecia segurar um vômito.
- Algo de errado, Khanlong? - Ela ergueu a sobrancelha em uma expressão tão medonha que até o diabo recuaria. - E quanto a você, Wat, está passando mal?
Os dois abaixaram a cabeça e torceram os dedos embaixo das carteiras, era óbvio que suas brincadeiras não ficariam em pune.
A razão do divertimento dos alunos era a própria professora. Segundos antes da senhora de meia idade adentrar a sala, Khanlong imitava-a com performances e expressões faciais exageradas, como se fosse membro de uma companhia de teatro. Tudo teria sido perfeito e as gargalhadas garantidas se o motivo do riso não tivesse entrado na sala na mesma hora.
"Espero que agora eles aprendam e não façam mais isso!"
Era impossível controlar esse pensamento na mente de Akk, diariamente ele via os dois amigos imitando os professores ou pregando peças nos colegas e se perguntava quando eles enfim cresceriam. O rosto de Khanlong já mostrava os primeiros vestígios de uma barba grossa e delineada, mas sua mente parecia estar presa no primário. Um sorriso frouxo deixou seus lábios finos e ele abaixou o rosto, não podia evidenciar que estava feliz pelos amigos terem sido repreendidos.
- Enfim, não vou perder meu tempo com vocês dois... - A mulher deixou sua bolsa na mesa retangular localizada no centro da sala e apontou para a lousa. - Tenho uma aula para dar e vocês dois parecem...
Nesse momento, um batucar de dedos ecoou sob a madeira da porta e todos os olhares foram para a pessoa que causou o som, até a professora, que interrompeu bruscamente seu discurso.
Havia um garoto de aparência jovial parado ali e pela sua feição não estava aguardando ser notado pela mulher há pouco tempo. Sua pele brilhava como o sol do fim de tarde. Era bronzeada como cobre e seus cabelos escuros como petróleo. Ele não esperou até que a professora lhe desse permissão para entrar na sala e com a feição incrédula que ela fez, Akk percebeu que o novato era um causador de problemas.
- Alunos atrasados devem esperar até o sinal tocar, não é permitido entrar depois do professor na aula... - A professora o encarou de cima para baixo, como se pudesse medir o tamanho do descaramento do rapaz apenas com os olhos. - Volte depois!
- Sinto muito, mas é meu primeiro dia aqui! - Ele ignorou o comando e caminhou até ela lentamente, como se cada um de seus passos reafirmasse o fato de que ele não iria obedecê-la. - Ninguém me ajudou a achar a sala, por isso me atrasei. E a senhora pode constatar que também não fui avisado sobre essa regra, me desculpe.
O garoto colocou o papel que segurava na mesa e afastou os cabelos de seu rosto. Havia alguns alunos que ainda se recuperavam da resposta que ele havia dado a professora, outros mal piscavam, esperando pelo que a mulher diria em seguida. Akk, por outro lado, observava aquela cena tão chocado quanto a professora. Afinal, quem era aquele recém chegado para falar daquela maneira com ela? Quem o ensinou a afrontar os mais velhos daquela forma?
Ela olhou uma última vez para o rosto do rapaz e ele ergueu uma das sobrancelhas, o clima era tão denso na sala que os alunos conseguiam ouvir o som de suas próprias respirações. Se um lápis caísse no chão poderia causar um dano permanente nos ouvidos de todos ali. As unhas bem feitas e pintadas de nude da professora pegaram o papel que ele havia colocado anteriormente em sua mesa e levou a altura dos olhos.
- Ayan... - Ela leu o nome na ficha por entre os dentes - Certo, como hoje é o seu primeiro dia e eu ainda não havia iniciado, vou permitir que faça parte da aula.
Os olhos felinos dela percorreram a sala procurando por um lugar vazio para instalar Ayan e a íris de Akk encontrou a carteira ao lado da sua ao mesmo tempo que ela. Seus olhos se arregalaram com a possibilidade de ter o novato se sentando ao seu lado e suas mãos se juntaram embaixo da mesa para iniciar uma prece.
"Por favor, comigo não! Por favor, comigo não!"
Como se os Deuses estivessem entediados no plano espiritual e o sofrimento de Akk fosse a nova fonte de entretenimento deles, ele ouviu os passos do recém chegado cada vez mais próximos de sua mesa. Havia receio em levantar o olhar para checar se ele estava certo, não queria constatar que o ele realmente sentaria ao seu lado, era azar demais.
Assim que o barulho forte da cadeira sendo arrastada alcançou seus ouvidos, Akk percebeu que não adiantaria adiar aquela comprovação, então levantou os olhos até alcançar o rosto de Ayan e assim que sua íris encontrou o rosto bronzeado, percebeu que nos lábios carnudos de Ayan havia um sorriso descarado e malicioso.
- Posso me sentar aqui, professora?! - Ele dizia mais como uma afirmação do que como pergunta e seus olhos sequer olhavam para a mulher, estavam ocupados demais tomando toda a atenção de Akk para si.
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O Novato | Akkayan
FanfictionTudo seguia conforme os planos de Akk em Suppalo; suas notas, suas amizades e suas mentiras, todos em uma harmonia milimetricamente forjada para o seu bem-estar. Mas a chegada repentina de Ayan pode ameaça revelar tudo o que Akk levou dois longos an...