CAPITULO 03: O CAUSADOR DE PROBLEMAS PT. 02

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O sinal do intervalo para o almoço tocou depois do que pareceu uma eternidade para Akk. Felizmente Ayan não tentou mais nenhuma gracinha após o início da aula, era como se a barreira que sua mente criou entre os dois tivesse se materializado no meio de suas carteiras. Mas isso era bom, depois de todo aquele reboliço, Akk almejava por um tempo em silêncio, mesmo que fosse apenas durante aquele curto espaço de tempo.

Porém, assim que dobrou o corredor em direção a cantina, Khanlong e Wat o abordaram em busca de respostas. Os dois grudaram, cada em uma lateral de seu corpo, e o bombardearam de todo o tipo de perguntas.

"E então, o garoto novo sentou-se ao seu lado. O que será que ele está tramando?"

"Se ele busca encrenca deveria ter sentado ao lado do Khanlong, ele é quem tem a cabeça quente aqui!"

"Você viu a forma como ele enfrentou a professora, esse cara está querendo ser expulso logo no primeiro dia"

"O Ayan é tão bonito. Você viu o tamanho dos lábios dele?! Que inveja!"

Todos os tipos de comentários foram feitos, Akk estava quase erguendo as mãos aos céus e pedindo para que um raio caísse sob sua cabeça, tudo era melhor do que se manter naquela conversa. Ele estava pagando de uma vez só todos os pecados que cometeu ao longo dos seus dezoito anos de vida. Aquilo era muito papo furado para apenas um ouvido.

- Vocês podem, por favor, me deixar comer em paz?! - ele bravejou ainda com a comida na boca, os olhos tão estressados que mal aguentava olhar para cima.

Foi nesse momento que Khanlong e Wat perceberam que talvez estivessem passando dos limites e se calaram. Mas a culpa não era deles, o novato havia literalmente enfrentado a professora em seu primeiro dia, além de chegar atrasado. Em uma escola normal agir de tal maneira não surtiria tanto efeito, mas em Suppalo os feitos de Ayan eram tão absurdos que poderiam manchar sua imagem durante o resto do ano escolar.

Mesmo que seus amigos houvessem parado de falar, Akk percebeu que o garoto novo havia nutrido todas as rodas de conversa por no mínimo duas horas, porque não havia um aluno que não estivesse comentando sobre ele. Se era a popularidade negativa que Ayan almejava, então poderia se dar como a maior celebridade da escola.

- Você sabe... esse garoto novo pode ter algum envolvimento com gangues, ninguém sem contatos age com tanta segurança hoje em dia. - um garoto baixinho falou na mesa ao lado, o que chamou atenção de Akk.

- Hey, você está exagerado. Basta saber um ou dois movimentos de luta para falar com toda aquela convicção. - um outro aluno retrucou, puxando o amigo pelo pescoço para falar mais baixo. - Mas veja bem, você sabe o que dizem de garotos transferidos...não sabe?!

Akk arregalou os olhos. É óbvio que garotos transferidos tem uma fama de encrenqueiros e tecnicamente Ayan já havia confirmado a hipótese de ser um causador de problemas, mas ele precisava reunir a maior quantidade de informações para poder usar contra Ayan caso ele resolvesse abrir o bico.

- Primeiro: o novato pode ter arrumado uma briga na escola antiga e foi expulso, o que não seria tão chocante, já que ele afrontou a professora de matemática... - o garoto falou o óbvio, o que deixou Akk frustrado. Mas então limpou a garganta e mandou os amigos se aproximarem, como se fosse contar um segredo ainda mais profundo. - Ou ele escolheu Suppalo de propósito e está procurando por alguém que estuda aqui!

Akk ouviu os amigos do garoto gritarem em reprovação e depois saírem da mesa, como se ele fosse o maior contador de histórias que já haviam visto. Aos poucos, os alunos foram saindo do refeitório e Akk fez o mesmo, não poderia mais desperdiçar o seu tempo.

O primeiro sinal do intervalo tocou quando ele estava a caminho do banheiro dos fundos do prédio, ainda faltavam mais dois, sendo o último o sinal com o som mais estridente, responsável por avisar aos alunos que os professores já estavam a caminho das salas de aula. Então qualquer que fosse o seu próximo passo para reunir informações sobre Ayan, deveria ser rápido e certeiro. Akk não podia se dar ao luxo de levantar suspeitas.

As cabines do banheiro estavam quase todas vazias, exceto pela última, que tinha sua porta fechada e uma mochila caída no chão. Ele entrou na cabine ao lado e entrecostou a porta, precisava ser convivente em seu disfarce, mas também deveria ter visão ampla do corredor para saber exatamente quando seu alvo sairia da cabine. Akk sentou-se no vaso sanitário com a tampa abaixada, ninguém teria a coragem de olhar diretamente para o banheiro ocupado, então ele não precisava se preocupar em convencê-lo do que estava fazendo ali dentro. Apenas sentar-se e aguardar o garoto já era o suficiente.

A princípio o alvo não notou a presença de Akk devido a pouca iluminação no cômodo, então agiu com naturalidade ao lavar as mãos e gastar alguns minutos checando o celular. Essa era a parte que Akk mais odiava de suas ações, ter que esperar o momento certo para abordar as pessoas, seria mais fácil interrogá-lo logo, sem toda aquela baboseira da discrição, mas ele precisava disso. Precisava ser sutil.

Quando percebeu que já estava dentro da cabine a tempo suficiente para soar convincente, Akk saiu com as mãos no cinto da calça, como se o tivesse afivelado. Olhou sutilmente para o rapaz, que percebeu sua presença no mesmo momento e agilizou suas ações para sair logo dali, assim como Akk previa.

- Eu não sei porque eles ainda pedem para usarmos esses cintos... - tentou puxar assunto, antes de perguntar o que realmente importava. - Quer dizer, esse uniforme no geral não é muito prático. Há momentos em que eu queria simplesmente não usar esse terno... é desconfortável! - ele passou as mãos pela barra do tecido grosso na altura de sua cintura e puxou para baixo, arrumando a postura.

- Eu te entendo, quando cheguei aqui demorei para me habituar ao terno. É tão quente e pegajoso, no verão é praticamente impossível usá-lo! - o rapaz entrou na conversa e Akk agradeceu mentalmente por ele ser uma presa tão fácil. - Hey, você não é aluno daquela turma que entrou um garoto novo?

Akk o olhou nos olhos e tentou expressar certa indiferença, não podia deixar óbvio que estava feliz pelo rapaz o ter reconhecido. Aquele aluno havia poupado metade do seu trabalho de persuasão.

- É...sou seu! - sorriu meio sem graça - As coisas estão meio conturbadas hoje. Para ser sincero, eu não entendi muito bem o que aconteceu. - mentiu, na tentativa de fazê-lo falar.

- Você sabe... - o garoto se aproximou - Dizem por aí que esse novato pode ser um causador de problemas. Quer dizer, se ele fosse um bom aluno não teria mudado de escola no meio do semestre. Ainda mais estando no terceiro ano.

- Você acha? Pensando por esse lado, eu não fazia ideia! - fez sua melhor cara de chocado e deu um passo em direção ao garoto, uma brecha para que lhe contasse mais.

- Eu acho que ele é um aluno infiltrado, deve estar buscando alguém que estuda aqui. Ninguém que é como ele viria para uma escola tão regrada como Suppalo. Isso realmente não faz sentido! - O rapaz balançou as mãos, como se tentasse afastar um inseto. - O que você acha?

- Eu não faço ideia, tudo aconteceu tão rápido que eu não pude processar. - Akk se afastou, percebendo que não conseguiria mais informações do aluno. - Preciso ir agora... - ele se virou para se afastar, mas voltou para perguntar algo essencial. - Qual o seu nome mesmo?

- É Namo. E o seu?

- Meu Deus, me desculpe. Eu realmente preciso ir! - Akk olhou disfarçadamente o relógio, fingindo estar atrasado e correu em direção ao prédio principal, só parou quando teve certeza que não estava sendo seguido por Namo.

O Novato | AkkayanOnde histórias criam vida. Descubra agora