Ayan não era nenhum idiota, assim que pisou na sala de aula naquela manhã percebeu que havia feito uma má escolha ao se mudar para Suppalo. Porque quando respondeu a professora sentiu o medo pairando nos olhos dos alunos, como se ele tivesse cometido o maior dos crimes.
Suppalo era uma escola regrada e ele sabia disso, essa era uma das razões para ter adiado a transferência por quase dois anos, mas havia chegado o momento em que ele não podia mais se dar ao luxo de estudar em uma escola longe de casa. Suas obrigações eram cada vez mais intensas e mesmo que odiasse admitir, não havia ninguém com quem pudesse contar além de si mesmo para cuidar de tudo.
Claro, tomar uma decisão como aquela era difícil, afinal, as relações que havia estabelecido em sua antiga escola não seriam refeitas em Suppalo. Ninguém naquela escola iria fazer amizade com alguém como ele, isso era fato. Então, quando adentrou os portões de Suppalo naquela manhã, seu único objetivo era cumprir com suas obrigações pelo resto do ano letivo e passar despercebido por todos, ao ponto de quando aquele semestre acabasse, os alunos sequer lembrarem que um garoto chamado Ayan estudou naquela escola.
Mas vejam só, como foi dito, Ayan não teve tanta sorte assim. Porque mesmo que desejasse ser invisível para os alunos da escola, os professores pareciam muito interessados em impor regras sem sentido para alguém que sequer foi informado da existência delas. Quer dizer, se uma educação conservadora e moralizante é tão importante em Suppalo, Ayan deveria ter recebido ao menos um manual com todas as regras da escola, para que tivesse ciência de tudo o que deveria ser feito para manter-se longe de encrencas.
O horário do intervalo foi sem dúvidas o mais estressante. Nenhum dos alunos teve coragem de abordá-lo para entender o seu lado da história, mas a cada corredor que passava, ouvia seu nome sendo proferido pela boca de pessoas que ele sequer conhecia. Ayan não tinha dúvidas que aquele seria os piores seis meses de sua vida.
Assim como não havia recebido orientação quanto às diretrizes da escola, Ayan também não entendeu a lógica dos três sinais que tocaram durante o intervalo. Ele estava recostado em uma árvore quando ouviu o primeiro e imaginou que era hora de voltar para sala, mas apenas um pequeno grupo de alunos se levantou e correu em direção ao campo de futebol que ficava na extremidade do prédio, então ele entendeu que também deveria ignorá-lo e voltou a folhear o livro que estava lendo. O segundo sinal tocou depois de aproximadamente dez minutos e metade dos alunos que estavam no refeitório começaram a arrumar suas coisas e subir as escadas que dava acesso às salas de aula. Dessa forma, Ayan imaginou que deveria fazer o mesmo.
Um terceiro sinal tocou assim que ele cruzou o corredor da sala de aula. Houve um pequeno momento de silêncio assim que o barulho estridente cessou, mas Ayan ouviu um burburinho seguido de alguns gritos e alunos correndo desesperadamente para fora da sala.
– Alguém desmaiou. Chame a enfermeira! – um garoto passou gritando ao seu lado, seu rosto estava tão pálido que parecia ter mergulhado em um pote de farinha.
Assim que ouviu aquilo, Ayan tentou correr até a sala de aula, mas havia uma multidão de alunos correndo em sua direção. Mesmo que estivesse tomado pelo desespero, começou a se questionar porque havia tantas pessoas na sala, aquele cômodo mal comportava os alunos que estudavam nela, então o que eles faziam ali?
Se era um costume de Suppalo os alunos encontrarem seus amigos durante o intervalo, porque não o faziam no pátio ou no campo externo, onde claramente era mais confortável e refrigerado do que aquela sala abafada e sem ventilação. Aquilo não fazia sentido algum.
Ayan adentrou a sala assim que a maioria dos alunos saiu correndo, a tempo de encontrar o corpo caído ao lado da carteira onde ele se sentava. Dois alunos estavam tentando reanimá-lo, mas era óbvio que aquilo não ajudaria em nada. Ayan empurrou os dois para longe para ver em que estado estava o garoto e naquele momento reconheceu o rosto imediatamente. Era Akk quem havia desmaiado.
Três semanas atrás
"Minha mãe estava me olhando nos olhos. Não, minha mãe estava olhando para a câmera do seu celular para que eu achasse que ela estava me olhando, mas pela sua expressão era óbvio que ela estava esperando que eu tomasse uma decisão para simplesmente encerrar aquela chamada e voltar ao trabalho.
– Então, você decidiu se vai mudar de escola, Ayan? – ela me chamou pelo meu nome novamente, eu já deveria estar acostumado, já que ela nunca se referiu a mim de outra forma, mas ainda dói todas as vezes.
– Eu preciso, mas não queria deixar os meus amigos – me permito ser franco desta vez, apenas para que ela entenda o meu lado. Quer dizer, apenas para deixar claro que eu também tenho uma vida fora de casa – Faltam apenas seis meses para terminar o ano, mãe. Será que não conseguimos esperar um pouco mais?
– Todos nós abdicamos de alguma coisa nos últimos anos, Ayan – consigo ouvir as unhas dela batucando na mesa, um claro sinal de impaciência – Faça o que achar melhor,mas o seu irmão precisa de você.
Essa foi a última frase que eu ouvi da minha mãe, porque tivemos que encerrar a chamada porque assim como ela disse, o meu irmão precisava de mim."
Presente
Enquanto Ayan carregava Akk nos braços até a enfermaria, os corredores pareciam borrões brancos e os alunos, pequenos pontos de cor. Quando se mudou para Suppalo queria tranquilidade, mas o que havia recebido até aquele momento era o completo oposto.
Assim que chegou na sala, a enfermeira já estava a postos e Akk foi atendido imediatamente. Segundo a mulher, foi uma queda de pressão que ocasionou o desmaio, mas Ayan sabia que não foi a temperatura da sala que deixou Akk inconsciente e começava a se sentir culpado por isso.
<3
Raios de sol, como vão?
Quero pedir desculpas pela demora em trazer uma nova atualização.
As coisas na minha vida se tornaram uma bagunça enorme e não tive tempo de vir aqui postar a história, porém, tenho grande parte das atts escritas, então recompensarei o tempo perdido.
Que o sol abençoe vocês!
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O Novato | Akkayan
FanfictionTudo seguia conforme os planos de Akk em Suppalo; suas notas, suas amizades e suas mentiras, todos em uma harmonia milimetricamente forjada para o seu bem-estar. Mas a chegada repentina de Ayan pode ameaça revelar tudo o que Akk levou dois longos an...