Já passava das dez da manhã quando Akk acordou, seu quarto ainda estava escuro devido as cortinas grossas que sua mãe instalara para que tivesse boas noites de sono. A senhora de meia idade insistia que tais coisas supérfluas iriam ajudar o filho a dormir, mesmo tendo ciência que apenas os remédios que tomava tinham a capacidade de fazê-lo pregar os olhos.
Akk se espreguiçou na cama e massageou a cabeça que doía, sentindo sua consciência retomando à medida que despertava. O barulho sutil das notificações em seu celular chegou até seus ouvidos, mas ele ignorou totalmente o som e seguiu para suas funções do dia.
Por ser sábado, ele precisava organizar o seu dormitório e se restasse algum tempo, iria até a livraria no centro da cidade para comprar alguns livros que precisava estudar para o vestibular. Havia feito as contas e até aquele momento faltava apenas um livro para concluir as leituras obrigatórias para o vestibular de ciências sociais, então, mesmo que faltasse pouco menos de seis meses, ainda tinha tempo para se preparar.
Akk abriu as janelas e deixou o sol entrar pela porta de vidro que dava acesso a uma pequena sacada. O ar fresco da manhã lhe trouxe uma leve sensação de conforto, mas o barulho de um grito de guerra o atingiu com toda a força.
Ele se aproximou da sacada para ver o que estava acontecendo. Havia cerca de vinte alunos parados em frente a entrada principal dos dormitórios e a metade erguia cartazes pedindo pela revisão do toque de recolher, que até para os mais puritanos, era inviável. Há anos os alunos faziam manifestações em prol da liberdade de circulação no prédio, mas nunca receberam alguma resposta positiva.
Akk se pegou questionando o que diferenciava as manifestações que realizava enquanto membro do protesto estudantil e as realizadas pelos alunos no pátio do dormitório. Aqueles rostos expostos tinham algo de diferente se comparados às máscaras que ele e os membros do movimento utilizavam em suas manifestações?!
Aqueles alunos reivindicavam pela liberdade de circulação no prédio em que moravam e ele pela liberdade de expressão e segurança de alunos em diversas instituições de ensino, mas as lutas por direitos deveriam ser comparadas umas às outras?!
Independente das razões e das condições dos movimentos, Akk sabia que o que havia em comum em todos eles era a falta de respostas. Há anos aqueles mesmos rostos lutavam pelo fim do toque de recolher e ele há três anos reivindica os direitos básicos dos alunos, mas todos eles eram ignorados igualmente pelos superiores.
Mas, mesmo com a falta de retorno dos movimentos, Akk sabia que não podia ficar em silêncio. A inércia, quando se trata de reivindicação de direitos, não é uma escolha.
Ele virou as costas para o movimento dos alunos e voltou aos seus afazeres. Precisava correr para conseguir ir à livraria e voltar antes do fim do toque de recolher. Mesmo que soubesse onde ficava a entrada secreta dos dormitórios, ser pego entrando ali aos finais de semana era uma passagem só de ida para a sala do diretor e aquilo era tudo o que ele menos queria.
(...)
O centro da cidade estava cheio de grupos de jovens e crianças passeando com seus pais. Devido ao calor do verão, todos pareciam animados para aproveitar o final de semana realizando atividades em conjunto. Por alguns minutos, enquanto via alguns adolescentes com seus amigos, pensou em Khanlong e Wat e imaginou se os amigos aceitariam caso ele tivesse convidado para lhe fazer companhia.
Os três tinham um forte senso de companheirismo enquanto estavam na escola, passavam tempo juntos e se conheciam tão bem que sabiam quando uma coisa ou outra estava em desarmonia. Mas quando o sinal tocava no final do dia, as coisas mudavam de figura. Isso porque, Khanlong sempre treinava basquete depois das aulas, Wat vivia contando as horas para voltar aos seus jogos online e Akk não podia se dar o luxo de receber companhia até o dormitório, porque vivia estudando. No começo, gostava da ideia de passar um tempo sozinho depois de viver no caos que era a sua sala de aula e estudar compulsivamente não era apenas uma escolha, quando precisaria de bolsa de estudos para entrar em uma universidade. Mas havia momentos em que desejava ter alguém gentil e amigável para estudar consigo, para complementar a companhia dos livros didáticos.
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O Novato | Akkayan
FanfictionTudo seguia conforme os planos de Akk em Suppalo; suas notas, suas amizades e suas mentiras, todos em uma harmonia milimetricamente forjada para o seu bem-estar. Mas a chegada repentina de Ayan pode ameaça revelar tudo o que Akk levou dois longos an...