CAPÍTULO 14: A MÃE DE AYAN

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Olá, raios de sol!
Tudo bem?

Vocês devem estar se perguntando: O quê essa doida está fazendo aqui hoje?

Então, acontece que  esse final de semana terei um compromisso e não vou conseguir atualizar no sábado. Então, por já estar com tudo pronto, preferi adiantar do que atrasar o 14° capítulo.

Mais uma informação importante: Percebam que esse episódio terá um detalhamento de dia e horário e isso ocorrerá em muitos episódios daqui para frente, porque vai ajudar muito na compreensão dos fatos.

Sem mais delongas, boa leitura e um ótimo final de semana!

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Há alguns dias Pete estava tendo comportamentos diferentes do habitual. Ficava horas na presença do irmão quando ele ia ao seu quarto, dormia abraçado com ele e resmungava quando Ayan tentava ir embora. Porém, houve um momento, após acordar subitamente no meio da noite, que Ayan pensou ter visto Pete andando pelo corredor principal da casa em direção ao seu quarto.

Aquele incidente tirou seu sono pelo resto da noite, mesmo que ao piscar os olhos novamente, tenha visto Pete parado em frente a cama, sem sequer olhá-lo nos olhos.

Há anos Pete não saia de seu quarto e imaginar que o irmão havia tentado entrar no quarto de Ayan durante a madrugada era o mesmo que acreditar que milagres aconteciam.

Na manhã seguinte quando acordou, Ayan apenas afastou aquela sensação confusa em seu peito e seguiu com sua rotina. Sequer se deu ao trabalho de perguntar a Pete se ele realmente havia perdido o medo de caminhar pela casa. Apenas essa hipótese era  irreal demais para o irmão.

(...)

Quinta- feira
20:38 PM

– Então, Ayan, passarei mais três dias em Tokyo e depois voltarei para Bangkok - sua mãe disse do outro lado da linha, como se estivesse repassando a agenda com sua secretária.

– Entendi, vai ficar quantos dias em casa? - foi direto ao ponto, buscando decifrar o enigma que era conversar com sua mãe.

– Talvez uma semana, depende de como as coisas na filial de Bangkok vão seguir.

Ayan ouviu a mulher que dizia ser sua mãe falar e sentiu seu queixo caindo. Mesmo que fosse uma parcela muito efêmera, queria acreditar que ela se importava com ele e com Pete, mas a razão de voltar para casa depois de meses fora, era porque a empresa da  Tailândia precisava da sua presença. Perguntava a si mesmo se a mulher também se daria ao trabalho de passar em casa se a empresa pagasse um hotel, assim como fazia nos outros países.

– Entendi… Obrigado por avisar, mãe, talvez possamos ter ao menos uma refeição juntos.

Sentiu seu humor esquentando. Mesmo que tentasse não se estressar, era impossível quando só recebia ligações dela para saber sobre Pete ou para ocasionais atualizações da sua estadia em casa.

– Tentarei deixar o seu quarto limpo, mas não garanto, a escola nova é muito mais puxada do que eu imaginava.

– Não se preocupe com as minhas coisas, posso dormir no sofá ou com o Pete.

O fato da mãe citar o nome do irmão fez com que o sangue de Ayan entrasse em erupção, foi a gota d'água para que sua paciência se esgotasse.

Desde o acidente, tudo o que a mulher fazia era enviar cheques mensais que cobriam as despesas de ambos os filhos e da casa, mas quando Ayan sentia-se sufocado, quando não aguentava mais a rotina pesada de cuidar de si mesmo e do irmão ou quando sofria de crises de ansiedade, tudo o que tinha para consolar sua dor era a si mesmo. Pete fazia o que podia, mas não conseguia dizer palavras de consolo como antigamente. E a mãe, estava ocupada demais fugindo de suas responsabilidades e usando o trabalho como zona de escape.

– Mãe, sou eu quem dorme com o Pete todas as noites desde quando a senhora começou a viajar a trabalho.

Sentiu as primeiras lágrimas vindo e correu para o quintal. Não queria que Pete ouvisse aquela conversa. Quando percebeu que estava longe o suficiente da casa, voltou a aproximar a boca do telefone.

– Sou eu quem supervisiona o banho dele todos os dias, com medo de que ele caia e se machuque ainda mais. Sou eu quem prepara a comida dele e toma o cuidado de usar apenas os ingredientes que respeitem sua dieta vegana. Sou eu quem organiza os remédios e o leva às consultas, mesmo quando os médicos afirmam que eu como irmão faço muito mais do que o necessário para o bem estar dele…

As lágrimas cortavam a voz de Ayan, ao ponto que nem ele conseguia distinguir o que estava falando. Tudo estava se tornando uma mistura horrenda de soluços, gritos e palavras desconexas, mas ele precisava desabafar, mesmo que a mãe não o escutasse.

– Então, por favor, mãe. Se ainda tem um pingo de amor no seu coração, permita que eu permaneça ao lado do meu irmão, porque ele é a única pessoa na Terra que faz com que eu tenha forças para lutar.

– Ayan… eu… - A mãe tentou formular frases, mas Ayan sentia em sua voz que nada do que ele havia falado tinha surtido efeito. Ela tinha ficado sem palavras, mas seu ego permanecia intacto.

– Quando chegar em casa, no sábado, seu quarto estará limpo, então deite-se na sua cama e permita que eu durma com o meu irmão. Se você tiver sorte, talvez ele ainda se lembre do seu rosto quando te vir depois de tanto tempo. Boa noite, mãe!

Ayan desligou o telefone e voltou para dentro da casa. Aquelas cômodos repletos de móveis planejados um dia já significaram muito para si, mas naquele momento eram apenas paredes frias enfeitadas com o dinheiro que sua mãe gastava para recompensar a falta de amor.

Sabia que tinha passado dos limites ao despejar toda aquela frustração na mãe. Todos estavam lidando com as complicações de Pete à sua maneira, mas o mínimo que ele esperava era que a mulher reconhecesse o seu esforço ao cuidar do irmão doente.

Ele subiu as escadas devagar, tomando tempo para limpar as lágrimas que ainda molhavam seu rosto. Teria que usar alguma maquiagem para esconder as bolsas d'água que se formariam embaixo de seus olhos no dia seguinte, mas isso era assunto para o outro dia. Naquele momento, Ayan precisava engolir suas lágrimas e fingir que nada havia acontecido, não podia deixar que Pete percebesse que ele estava triste por causa da mãe.

Uma coisa era ele chorar por sentir-se rejeitado ou sozinho enquanto era consolado por Pete, outra seria se debulhar em lágrimas porque a mãe não correspondia aos seus esforços.

Dia após dia, Ayan fazia o possível para esconder o peso das responsabilidades de cuidar do irmão, porque ele não tinha culpa de precisar de cuidados especiais. Portanto, enquanto Ayan vivesse, poderia pedir o colo de Pete para todas as dores do mundo, mas nunca derramaria uma lágrima por sentir que o irmão era um fardo.

Felizmente, as luzes do quarto estavam apagadas e tudo que Ayan precisou fazer foi descalçar as pantufas e se aninhar debaixo das cobertas de Pete, que já roncava baixinho enquanto dormia. As mãos pequenas  de Ayan correram pelos fios grossos do irmão e fizeram um carinho ali, usando aquele contato sutil para renovar suas energias.

Suas inseguranças vinham a nota sempre que conversava com a mãe, porque a mulher não facilitava a convivência entre eles. Diversas foram as vezes em que ela sugeriu que Ayan colocasse uma profissional aos cuidados de Pete, usará o dinheiro como argumento outras milhares de vezes, mas o que ganhariam com isso?

Pedir para que uma total desconhecida cuidasse do irmão enquanto ele vivia a própria vida sem se importar com o bem estar de Pete, era se rebaixar ao nível da mãe. Usar o dinheiro para pagar por amor, afeto e carinho e agir como se um completo estranho pudesse proporcionar a mesma proteção que a família.

Ayan jamais faria isso, mesmo que para isso precisasse abdicar de diversos aspectos de sua vida.

O sono venceu a luta com sua mente pelo cansaço, seus olhos ficaram ainda mais pesados após as lágrimas que derramou ao conversar com a mãe e pegar no sono foi uma tarefa fácil.

No meio da noite, Ayan ouviu um barulho estranho vindo de fora do quarto, como se algo estivesse se chocando contra madeira, mas seu corpo estava exausto demais para despertar totalmente. Ele resmungou uma ou duas vezes e voltou a dormir, se agarrando às cobertas como porto seguro.

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