Assim que acordou, Akk percebeu que tinha passado dos limites. Já havia desmaiado na escola algumas vezes durante o ensino médio devido a sua rotina exaustiva de estudos e má alimentação, mas aquilo era totalmente diferente. Suas notas já estavam garantidas desde o primeiro semestre e fazia quase duas semanas que ele não virava as noites estudando, então era impossível que estivesse cansado por estudar demais. E ele já estava acostumado com o calor da sala de aula há dois anos, justificar o desmaio com uma queda de pressão também não fazia sentido. Mas ele não queria explicar seus motivos para a enfermeira, então quando ela disse que ele havia desmaiado por conta do clima, Akk apenas assentiu e perguntou se poderia voltar para a sala de aula.
Enquanto andava pelos corredores, Akk percebeu que sua premonição estava se tornando realidade. Antes do acontecido daquela manhã, ele se sentia um fantasma enquanto andava pela escola, ninguém o via, ninguém o cumprimentava, às vezes os alunos até esbarravam nele e seguiam andando como se nada tivesse acontecido. Mas agora ele percebia os olhares em si, os burburinhos e a falação exagerada. Ele queria acreditar que era tudo uma grande coincidência e que aquilo não passava de um engano. Mas assim que adentrou a sala de aula percebeu que não importava o quanto tentasse, todos os alunos agora sabiam quem ele era.
Dois anos atrás
(1º ano do ensino médio)
"O prédio era mais escuro do que Akk imaginava, mesmo com as janelas abertas e a lanterna do celular era difícil enxergar bem à luz do dia. Ele queria sair dali. Pensou em todas as coisas que perderia se fosse embora e fingisse que nada havia acontecido, mas ele já tinha ido longe demais para amarrar agora. Ele não era criança, podia vencer o medo do escuro.
A cada passo que dava, Akk sentia um pedaço do seu corpo se esvaindo, mas ele precisava ser forte, precisava descobrir o que o esperava no final daquele corredor. "
Presente
Ignorar a presença de Ayan era a melhor das soluções a curto prazo para os problemas de Akk, o problema é que se tornou impossível evitá-lo após descobrir que ele havia salvado sua vida.
Obviamente que Akk não teria morrido caso Ayan não o tivesse carregado até a enfermaria, mas todos os alunos estavam convictos de que o pior teria acontecido e ansiavam pela primeira interação dos dois após o ato heroico do novato. Akk temia que, caso não o fizesse logo, receberia tanta atenção negativa quanto Ayan por ser mal educado ao ponto de não agradecer à pessoa que salvou sua vida. Ele já tinha coisas demais para se preocupar naquele momento, precisava agir rapido.
– Então... – Akk limpou a garganta para chamar atenção de Ayan e dos alunos que estavam ao seu redor. Queria ter certeza que todos estavam vendo e ouvindo aquela conversa, porque ele não o faria novamente mesmo se Deus voltasse à Terra – Obrigado por me levar até a enfermaria e... – ele fez uma pausa para engolir o orgulho – E me socorrer. Foi muito gentil da sua parte!
– Não há de que! – Ele respondeu com um sorriso
Akk concordou com a cabeça, apenas para deixar claro que a conversa havia terminado e estava prestes a dar essa tarefa como encerrada, quando percebeu que Ayan ainda estava o encarando.
– Pois não? – perguntou, já entrando na defensiva.
– Como eu sou novato aqui, não sei muito bem como é a dinâmica dos professores. – Ayan se virou completamente para Akk, para conseguir olhá-lo nos olhos. – Você se importaria de me emprestar o seu caderno?
Akk ficou um momento em silêncio, tentando processar o que havia acabado de ouvir. Ele sabia que a reputação de Ayan não era muito boa e que talvez nenhum outro aluno iria ajudá-lo voluntariamente a se adaptar à rotina de Suppalo, mas também não seria ele quem faria isso. Ajudar Ayan significava estabelecer uma rotina de diálogos e não levaria muito tempo para que Ayan estivesse andando com ele, almoçando com ele, fazendo os trabalhos acadêmicos com ele e tudo mais. Isso era impensável!
– Eu não sou a melhor pessoa para ajudá-lo – mentiu descaradamente. Akk era um dos melhores alunos da sala, se ele quisesse poderia ser até o tutor de Ayan. Mas a questão era essa, ele não queria. – Porque não conversa com o Thua, ele é o nosso representante de turma e pode te ajudar.
Akk viu a feição animada de Ayan murchar como uma flor seca, sentia que deveria sentir-se mal por recusar ajudá-lo, mas não podia arriscar ser visto com Ayan pela escola. Seria o mesmo que apontar uma arma para sua cabeça.
Enquanto Ayan se levantava para conversar com Thua, Akk voltou seu olhar para a janela que tinha vista para o pátio. Haviam alguns alunos jogando futebol sob o sol escaldante durante a aula de educação física, enquanto outros estavam sentados nos bancos de reserva, atentos ao jogo que acontecia. Por um segundo, ele se imaginou sendo um desses garotos e como seria bom ficar sentado, protegido de qualquer dor enquanto via a vida passar, enquanto apenas aproveitava os privilégios de uma vida calma e sem dificuldades.
Ele desejou não viver em sua própria realidade, desejou não precisar esconder quem era de verdade, seus interesses e seus problemas. Imaginou como seria ótimo não precisar se preocupar com a visão que as pessoas teriam de si, porque existiria um porto seguro. Um local para chamar de seu, uma família para prestar suporte quando necessário.
Seus pensamentos foram dissipados quando Thua parou diante de si, aqueles par de olhos que costumavam ser gentis e passivos, agora pareciam tão cansados que Akk quase se sentiu mal por ser tão egoísta.
– Então... – ele entrelaçou os braços na frente do corpo, parecendo entrar em um modo defensivo e Akk sabia o que aquilo significava. – Eu estava conversando com o Ayan e infelizmente não posso ser tutor dele. Como sou representante de turma, terei que fazer o discurso da formatura, além de todas as obrigações e orientações que já presto. Porque pode parecer absurdo, mas há alunos que estudam aqui desde o início do ano que não sabem sequer o e-mail dos professores. – Ele encarou Ayan, como se pedisse desculpa com o olhar. – Acho que teremos que encontrar um novo tutor para você.
Então os dois posaram os olhos em Akk, como dois cachorros que caíram da mudança e estavam desesperados para encontrar seus donos.
– Então... – Ayan sentou-se na carteira e apoiou o queixo nas mãos – Você estará livre amanhã?
Akk desviou os olhos e encarou no campo de futebol, onde os jogadores ainda corriam por todos os lados em busca da bola. Aquele desejo era apenas um sonho, porque era óbvio que ele não poderia desfrutar de uma vida leve enquanto tivesse Ayan ali, fazendo de tudo para impedi-lo de seguir conforme o planejado.
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O Novato | Akkayan
FanfictionTudo seguia conforme os planos de Akk em Suppalo; suas notas, suas amizades e suas mentiras, todos em uma harmonia milimetricamente forjada para o seu bem-estar. Mas a chegada repentina de Ayan pode ameaça revelar tudo o que Akk levou dois longos an...