CAPITULO 02: O CAUSADOR DE PROBLEMAS

394 45 6
                                    

- E então... - Ayan tentava chamar a atenção de Akk pela milésima vez, mas seus olhos continuavam a mirar o chão. Era como se estivesse tentando encontrar ouro no piso de concreto. - Você não vai tirar a sua bolsa para que eu me sente?!

E novamente sua tentativa de diálogo foi ignorada. Ayan não era o tipo de garoto que estourava primeiro, costumava ser cordial e gentil até a outra pessoa pisar em seu calo, mas a sala toda estava o observando enquanto fazia papel de idiota. Suas pernas já estavam cansadas de esperar pela atitude de Akk em tirar sua mochila da cadeira para liberar espaço, mas era como se ele estivesse em outra dimensão e seus ouvidos não captassem uma palavra que saia de sua boca. Por isso, Ayan torceu a cabeça para o lado, puxou a cadeira em um ato brusco e jogou a mochila de Akk no chão, da mesma forma que afastaria uma mosca se ela estivesse pousada sob sua comida.

O silêncio que antes era causado apenas pela expectativa dos alunos, agora tinha uma pitada de constrangimento. Ao atingir o chão, a bolsa de Akk derrubou alguns dos livros acadêmicos que estavam guardados e no meio deles, surgiu um tecido vermelho sangue, que facilmente foi identificado como um bracelete. Ayan não esperava que aquilo aconteceria, apenas queria arrumar um lugar para sentar-se antes que a professora o mandasse ir embora da sala de uma vez por todas. Seus olhos pequenos se arregalaram diante daquilo. Estava tão constrangido que mal podia abrir a boca, mas suas mãos foram ágeis em empurrar os objetos para dentro da mochila novamente.

- O que está acontecendo, Ayan? - A professora indagou depois de um breve silêncio. - Você não consegue nem sentar em sua mesa sem fazer escândalos. O que há de errado com você?!

- Me desculpe, professora! - Dessa vez foi Akk quem respondeu, Ayan o encarou confuso. Ele havia ficado parado como uma múmia quando deveria agir, mas agora que a conversa não tinha nada a ver com ele, se pronunciava. - Esqueci de fechar minha mochila, sinto muito. Não vai se repetir!

A mulher torceu o nariz e caminhou lentamente até a porta, batendo a madeira no trinco com a sutileza da explosão de uma bomba. Os alunos que ainda estavam distraídos pelo ocorrido entre Akk e Ayan estremeceram de susto, mas os dois sequer notaram a peça encenada pela mulher.

- Você não precisava ter respondido por mim! - Ayan falou em um sussurro quase inaudível.

- Pouco me importa o que você acha, novato. Considere isso como um favor e não comente a ninguém sobre o que você viu na mochila! - Akk retrucou, puxando o objeto preto para perto de si e o colocando entre as pernas. - Você não vai querer problemas no seu primeiro dia!

Akk não o encarou diretamente, mas sentiu que os olhos de Ayan ficarem ainda mais finos, no que parecia a evidência de um sorriso malicioso.

Ele olhou para baixo, no mesmo lugar em que a mochila de Akk estava caída, agora estava repousada confortavelmente sua própria bolsa. Seus olhos então subiram até o corpo de Akk, que parecia tão tenso quanto um bloco de concreto.

De repente, Ayan se perguntou se sua presença era a causadora de tanto desconforto ou se o bracelete que cairá da mochila de Akk era a razão para aquele clima tenso pairando no ar.

O Novato | AkkayanOnde histórias criam vida. Descubra agora