Já passava das onze horas da manhã e eu continuava sentado no gramado do jardim do hospital, os enormes arbustos me escondiam por inteiro, servindo dessa forma como um esconderijo provisório. Eu poderia estar lá dentro adiantando algum trabalho ou então oferecendo ajuda caso fosse necessário. Mas ou invés disso, eu estava aqui me remoendo por pensamentos contraditórios.
Ele não tomou inciativa, eu tomei. Os beijos foram maravilhosos e os toques me dispuseram de sensações inimagináveis. Foi tudo perfeito. Então por que sinto como se estivesse cometendo um crime?
- O que está acontecendo? - Questionei a mim mesmo, apertando os dedos devido ao nervosismo, enquanto meus olhos não se desviavam dos raminhos verdes da grama.
- Sem os dedos, você vai deixar de ser cirurgião, Vic. - Uma voz amigável soou ao meu lado.
Minha mente estava tão perdida que não percebeu a chegada de Elisa, ela era uma pediatra muito doce, o tipo de pessoa que esbanja gentileza por onde passava. O jaleco repleto de ursinhos pendurados e as manchas de tinta no rosto, indicavam que provavelmente ela tinha passado a manhã inteira na ala do câncer infantil.
- To nervoso com umas coisas que estão acontecendo comigo. - Desabafei soltando um leve suspiro. Ela me lançou um olhar terno, prontamente ergueu seus cabelos castanhos, os prendendo em um rabo de cavalo e se acomodou sentando perto de mim com as pernas cruzadas.
- Sou toda ouvidos. Pode desabafar se quiser. - Elisa deitou a cabeça no meu ombro.
Normalmente quem escutava meus problemas diários era Sam, mas ele estava do outro lado da cidade trabalhando e não era uma opção ir até lá. E mesmo que ele estivesse aqui tenho certeza que seu concelho motivacional seria: Seja ousado e faça sexo.
- Por onde posso começar? - Nem eu mesmo sabia como explicar aquela situação, tudo parecia tão confuso. - Bem....você é a única pessoa nesse hospital que sabe o verdadeiro motivo da minha mudança, certo? - Ela assentiu, entrelaçando nossos dedos, apertando minha mão ao tentar passar conforto.
Quando cheguei aqui, basicamente coloquei a '' máscara da alegria '', toda vez que alguém me perguntava porque havia deixado o Oregon, eu sempre inventava alguma desculpa, e atrás de sorrisos falsos a tristeza verdadeira se escondia. Era uma forma de não me obrigar a falar sobre um assunto que até então era delicado demais para mim. Elisa somente descobriu, pois uma vez me presenciou chorando em um dos consultórios, e dessa forma acabei lhe contando tudo.
- Tem uns três dias mais ou menos, que conheci um cara que tem me deixado confuso. - Respirei fundo. - Sei que se passou pouco tempo e nem ao menos o conheço direito, mas ele me provoca sensações estranhas. Sensações que pensei que nunca mais sentiria. - Constatei.
- Que tipo de sensações?
- Meu corpo esquenta, como se estivesse pegando fogo. - Ela soltou uma risada baixa. - O coração acelera e é possível se perder em pequenos detalhes. Como quando ele sorri ou a forma que arruma o cabelo, deixando o rosto mais visível. - Provavelmente quem estava sorrindo como bobo agora era eu.
- Você se sente atraído por ele. Qual é o problema? - Indagou de forma confusa.
- Por que sinto como se estivesse cometendo um crime? - Dentro de mim um debate interno ocorria, enquanto um lado dizia para dar uma chance aquele homem atrapalhado, o outro lado avisava que isso tudo era um erro.
- Querido, não é crime nenhum querer ser feliz. - Elisa me abraçou de lado, o que foi tranquilizador naquele momento. - É totalmente normal se sentir assim, afinal ele é o primeiro homem por quem você senti algo forte, desde que o seu marido faleceu. Tudo que está sentindo é natural, não precisa ter medo. Faça tudo no seu tempo, permita sentir essa gama de emoções que só o amor nos proporciona. - Disse docemente.
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Segunda Chance (Romance Gay)
RomanceVictor é um jovem neurocirurgião que a exato dois anos mora na ensolarada Califórnia, vivendo apenas para o trabalho e mantendo assim o coração longe de qualquer vestígio de amor. A dolorosa perda de seu marido fez com que o rapaz dos olhos de safir...