VICTOR

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O fim de semana maravilhoso havia se encerrado. Agora era hora de despertar do conto de fadas e abrir os olhos para encarar a realidade, por mais difícil que ela possa parece.

Retornamos na segunda pela manhã, gostaria ter ficado ao menos uma semana, porém Cristian tinha seu restaurante para administrar e por mais tentador que fosse ficar agarrado em seus braços, precisávamos voltar.

Cristian insistiu muito para que eu o acompanhasse no trabalho, inclusive tentou me subornar com bobo de chocolate, mas o restaurante ficava literalmente em frente ao hospital Miller e só de pensar naquele lugar já sinto um grande desconforto remetendo meu corpo. Preferi passar a noite em casa, desfazendo a mala enquanto arrumava o guarda-roupa bagunçado.

- Preciso urgentemente fazer uma doação. De onde surgiram todas essas roupas? - Exclamei admirado com tantas pilhas de roupa espalhadas pelo tapete do quarto.

No fundo do roupeiro duas caixas chamaram minha atenção, demorei poucos segundos para lembrar do conteúdo que havia dentro delas.... Roupas de Ben.... Por um tempo me esqueci completamente da existência delas. Sentei no chão, cruzando as pernas e vagarosamente comecei a retirar as fitas presas envolta das caixas de papelão. A situação inusitada da foto que Cristian encontrou me fez pensar sobre algumas coisas que tenho evitado.

Amo Cristian e estou mais do que do disposto a seguir em frente com ele, mas pra que isso aconteça preciso dar alguns passos.

- Como eu odiava essa camiseta...- Sorri de lado, observando a camiseta cinza estampada com a cara do Frajola que Ben costumava usar quase todas as noites pra dormir. - Olha, vocês estão aí. - Exclamei notando os globos de neve que estavam escondidos atrás das calças sociais. Sempre que viajávamos ele comprava um globo e colocava na prateleira de cima da lareira, passávamos as noites de Natal comendo pipoca e relembrando as viagens. - Já tá mais do que na hora de todos vocês encontrarem um novo lar...

Essa deve ser a primeira vez que não sinto vontade de chorar, ao invés disso estou sorrindo. Não se trata de uma falsa alegria como muitas vezes fingi sentir para esconder a tristeza.... Era uma alegria verdadeira e pura, porque depois de tanto tempo eu finalmente estava me permitindo ser feliz.

- Demorou, mas estou pronto. Vou doar essas coisas. - Sibilei baixinho, porém convicto.

Minha concentração retornou novamente ao escutar o barulho abafado que o celular emitia, provavelmente devido ao fato de estar escondido na cama por de baixo de uma pilha de roupas. Procurar qualquer coisa no meio de uma bagunça é uma missão árdua e frustrante.

- Achei...- Exclamei feliz como se tivesse ganhado um prêmio. Verifiquei rapidamente quem estava me ligando e para minha surpresa se tratava do meu primo Daniel. - Oi, Dan....

- Vic.... Faz tempo que estou te ligando seu cretino. - Ditou irritado. Sorri levemente, porque de certa forma era engraçado demais quando Daniel falhava na tentativa de parecer bravo. Ele era um rapaz baixinho de cabelos castanhos claros e que conseguia exalar fofura por onde passava.

Ao contrario de Cristian que possuía um primo oportunista, eu tinha um que era muito inteligente e esforçado. Meu pai e meu tio eram os verdadeiros donos da empresa, mas ambos pretendiam se aposentar em breve então tinham incumbido o cargo da presidência para Daniel e obviamente isso não me surpreendeu em nada, pois se tinha uma pessoa capaz de administrar com destreza... essa pessoa com certeza era o meu primo.

- Desculpe. Não tinha escutado ele tocar antes. Aconteceu alguma coisa pra ter me ligado essa hora? - Questionei curioso.

- Mais ou menos...Falei com Sam essa semana, ele me contou o que aconteceu e eu queria saber como você está. - Murmurou verdadeiramente preocupado. - Por favor, não fique bravo com ele por ter me contado, acontece que toda vez que te ligo você está ocupado, então quando quero saber noticias suas acabo ligando para ele. - Sua fala me deixou com a consciência pesada, realmente passava tanto tempo no hospital que diariamente acabava ignorando mensagens e ligações.

Segunda Chance (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora