VICTOR

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Quando criança, eu costumava dizer a mim mesmo que um dia viajaria até a Lua. Porém o medo de altura percorria minhas veias, então qual era a solução mais óbvia? Ir pra Lua em um trem. Isso mesmo, um trem. Com sete anos peguei uma folha de papel e desenhei trilhos que percorreriam da minha casa até a Lua. Era uma ideia simples e que naquela época fazia o maior sentido do mundo, mas ela foi destruída assim que compartilhei com um coleguinha da escola. O menino riu da minha cara e ainda por cima me chamou de burro, em contrapartida, Sam me defendeu dando um soco no garoto e o obrigando a me pedir desculpas, porém já era tarde demais e de nada adiantava. O sonho de ir pra Lua de trem, tinha sido totalmente destruído.

Me lembrei deste fato, pois já se passou duas semanas desde que comecei a ter uma espécie de relação indefinida com Cristian. Nesse meio tempo tivemos vários encontros, assistimos alguns filmes no cinema e posso dizer que ele é uma verdadeira manteiga derretida quando se trata de romance, ele me levou ao parque de diversões, conseguindo conquistar um urso que batizou de Oliver. No terceiro encontro houve um piquenique no quintal da casa dele, contendo todas ás minhas comidas preferidas, e no último encontro, que na minha opinião foi o melhor de todos, Cristian simplesmente me levou para a praia durante a noite, ficamos sentados na areia, sentindo o vento salgado que a maresia carregava enquanto observávamos as ondas que se quebravam quando colidiam ao chegar perto das rochas. Foi simples e maravilhoso.....e acabei percebendo o inevitável.....encontrei novos trilhos, mas esses não estão me levando até a Lua, estão me levando para algo melhor, pra algo que achei que nunca mais encontraria....... pra felicidade.

Até o momento, todos os encontros foram escolhidos por Cristian, porém eu também queria surpreendê-lo com algo maravilhoso, por isso tive a péssima ideia de '' tentar '' preparar um jantar romântico pra ele, deveria ser fácil, se obviamente as minhas habilidades culinárias não fossem inexistentes.

Por que inventei de fazer isso? Também não sei. Acho que a insanidade me fez acreditar no impossível

Existem centenas de boas ideias para encontros, mas inventei de fazer justo aquilo que sou péssimo.

- Ok. Você consegue, é só seguir as instruções. Vamos lá, não é um bicho de sete cabeças. - Respirei profundamente, tentando me concentrar no preparo da carne assada. - É só temperar e colocar no forno, nada vai dar errado. - Passei os olhos pelo livro de receita pela milésima vez, torcendo para estar fazendo tudo certo.

- Gatinho, deixa eu te ajudar. - Pela quinta vez naquela noite Cristian batia na porta da cozinha, devidamente preocupado com a demora do jantar. - Já tem quase três horas que está trancado aí dentro.

- Não. - Ditei, ficando impaciente com o molho que estava grudando cada vez mais na panela. - Eu disse que iria fazer um jantar romântico pra você, e é isso que vou fazer. Agora, volte pra sala e me espere terminar. Não tem nada de errado acontecendo aqui, não se preocupe.

- Então, que barulho foi aquele? - Questionou desconfiado.

- Apenas um prato que escorregou da minha mão, nada demais. - Com a colher de pau em mãos, peguei um pouco do molho, experimentei e logo o arrependimento surgiu.

Estou com vontade de chorar. A cozinha estava totalmente irreconhecível, parecia uma cena de guerra e pra completar a comida estava com um gosto questionável.

- Você cortou a mão? Está machucado? - Ele automaticamente voltou a sacudir a maçaneta da porta, parecendo estar ainda mais aflito. - Gatinho, por favor não seja teimoso.

- Não estou sendo teimoso. Vai dar tudo certo. - Falei sem a mínima confiança em mim mesmo. - Por favor, confie em mim.

- Pelo menos me diga o que está cozinhando.

Segunda Chance (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora