VICTOR

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Cristian parecia ter quase a mesma idade das crianças, brincando na terra como se não houvesse amanhã. Nestor por outro lado, estava detestando tudo e todos, recendo muitos abraços sufocantes de cada um que o pegava no colo. Essas visitas me faziam tão bem, e pelo largo sorriso do meu namorado, posso ariscar dizer que ele se sente da mesma forma.

Ele ficou transtornado ao receber aquela inusitada noticia, muito abalado emocionalmente e de modo visível qualquer um entenderia o motivo. Durante a noite enquanto dormíamos em sua casa, agarrados em uma conchinha quente, pude escutá-lo chorando baixinho com o rosto preso em meu pescoço, enquanto murmurava palavras confusas. Foi de partir o coração....Sequei as intensas lágrimas derramadas e depositei beijos em todos os cantos de seu rosto, não dissemos palavra alguma sobre isso. Respeitei a dor dele e me dispus a ficar ali em seus braços por quanto tempo fosse preciso.

Havia conversado seriamente com Daniel quando estávamos sozinhos, e até agora, estou em choque. Escutei tudo que ele tinha pra falar, sem acreditar na tamanha coincidência que o universo colocou na nossa frente. Fiquei com um pouco de pena dele, realmente parecia ter se apaixonado, só não sei dizer se em algum dia o sentimento foi recíproco por parte de Leonard...Infelizmente, o amor as vezes pode ser cego mesmo. Nem ao menos o nome verdadeiro do homem com quem estava se relacionando durante esse tempo ele sabia. Aparentemente, ele acabou se apaixonando por um homem que não existe. E mais uma vez, Daniel não me deu ouvidos, resolveu que amanhã iria comparecer no julgamento. Não entendi ao certo qual seria a intenção pretendida com isso, talvez, olhar dentro dos olhos de Leonard e tentar encontrar algum misero vestígio de verdade, mesmo que tudo indicasse ser inexistente.

- Ei...tio Vic. - Tom, chamou por mim do outro lado da mesinha. - Olha, acabei. - Disse com aquele sorriso banguelinha, tão meigo. Eu e ele estávamos sentados desenhando com giz de cera, enquanto Cristian estava participando da gincana com o restante das crianças do outro lado do pátio.

Uma das educadoras, nos disse que essa era a semana de uma gincana recheada de brincadeiras, dava pra ver como eles gostavam disso. O único que não gostava muito de se enturmar era o Tom, desde o momento em que chegamos ele estava desenhando de baixo da macieira.

- Deixa eu ver, amor. - Ele pareceu meio incerto com o meu pedido, mas mesmo assim ergueu a folha, tapando o rosto. Diferente de mim, que não sabia desenhar nada além de bonequinhos feito de palitos, o dele estava lindo e regado de detalhes. Se tratava do Nestor roendo o cadarço do tênis de Cristian.

Olhei por cima dos ombros, a cena era real. Nestor além de roer o cadarço, também se enfiou dentro do calçado, mordiscando e conseguindo fazer um buraco. Acho que deveria ser sua maneira de demonstrar vingança por termos lhe trazido. Todos estavam descalços devido a próxima brincadeira que participariam, á medida em que as crianças iam fazendo uma roda, Cristian foi pegar o bambolê para a atividade. Ele exalava mais felicidade do que as crianças, isso porque ainda não tinha percebido o estrago do tênis.

- Você quer ser artista quando crescer, querido? - Perguntei voltando a observar Tom, o mesmo folheava os papéis em sua mão, parecendo procurar por algo específico.

Ele negou, ainda de cabeça baixa.

- Quero ser um médico de coelhos.

- Um veterinário? - Questionei confuso.

Mais uma vez se prontificou á negar.

- Vou ser dono de uma fazendinha, cheia de coelhos, e vou ser o médico que cuida deles. - Respondeu de forma séria e convicta. - Eu posso ser um médico de coelhos, né? - Sorri de lado, pela plenitude que ele remetia em falar sobre aquilo. Me fez lembrar de mim mesmo nessa idade e do meu sonho de viajar até a Lua em um trem, pelo menos o dele tinha mais possibilidade de acontecer.

Segunda Chance (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora