CRISTIAN

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Ter uma conversa sucinta e esclarecedora com minha mãe é quase tão complicado quanto fugir de um leão na Savana.

Estou tentando convencê-la a me escutar desde o primeiro minuto que cheguei na cafeteria local do bairro onde ela mora. Não é necessário olhar o relógio para perceber a mudança drástica das horas. O pôr-do-sol lá fora já me deixou ciente disso ao terminar de enaltecer seus últimos raios.

- Vou dizer isso pela milésima vez, mãe. O Matt sempre foi um ser humano desprezível, entenda isso de uma vez por todas. - Supliquei, esperando não precisar repetir. Ela respirou fundo, se mantendo cabisbaixa.

- Sim, eu já compreendi tudo, não precisa falar outra vez. - Pronunciou com um olhar entristecido. - Criei vocês três com tanto amor e carinho...Eu só queria que fôssemos uma família normal e feliz.

Fiquei triste, entendia o quanto ela se preocupava e sempre tentava fazer o melhor para todos, mas era mais do que necessário enxergar a verdade. Já era na hora de abrir os olhos e perceber que nossa família estava longe de ser perfeita.

- Sinto muito, mas essa é a verdade nua e crua. Matt nunca prestou, Sophia matou o marido de Victor e Leonard acobertou tudo, pra preservar sua própria imagem e do hospital. - Segurei sua mão delicadamente. - Mãe, nada que aconteceu é culpa sua. Você não pode prever tudo que vai acontecer.

- É...sei disso. Cada dia que passa as coisas estão se tornando mais confusas. Não aguento mais o surgimento de tanta surpresa desagradável. - Murmurou melancólica apertando minha mão ainda mais. - Seria incrível se tudo fosse diferente.

- Infelizmente, essa é a realidade.

Ela assentiu, parecendo pensativa.

- O velório dele vai ser amanhã, consegui organizar algo simples e familiar. Ele será enterrado ao lado dos pais. - Sua voz estava embargada de tristeza, exclamando cada palavra com uma dose alta de sofrimento. Era compressível, afinal ela o criou como um de seus filhos.

- Não irei comparecer e espero que entenda. - Diretamente falei.

- Óbvio que entendo. Cristian, fico triste por toda essa situação infeliz, mas também estou alegre por saber que você está bem. Já pensou como eu ficaria sem o meu mini chefe? - Disse carinhosamente, me fazendo sorrir ao relembrar aquele velho apelido de infância.

- Te amo muito, dona Hellen. - Respondi verdadeiramente. - Como estão as coisas em casa? Leonard, deve ter mudado o comportamento dele drasticamente. - Pensei em contar á ela sobre as ameaças que aquele canalha fez, porém achei melhor poupá-la de mais um desapontamento.

- Seu pai sempre me tratou bem, só que ultimamente acabou se tornando um poço de mau-humor. Ele está irritado com a continuidade desse julgamento, pela morte recente do Matt e também porque suas viagens pra Nova York foram interrompidas. - Em apenas um gole, ingeriu todo o chá de ervas, depositando a xícara sobre o pires novamente.

- O que ele faz em Nova York ? - Questionei curioso, ficando surpreso ao perceber que ela iria pedir mais uma xicara de chá. Aquela já seria a quarta. - Mãe...

- Ajuda a ficar tranquila, acredite, ajuda muito... - Disse se referindo ao excesso da bebida quente servida em sua xicara. - Já faz uns anos que ele construiu uma clinica em Manhattan e... nunca entendi direito o que aquele lugar tem pra atrair tanto ele.

- Ele vai ficar sem viajar por um bom tempo. - Murmurei pra mim mesmo. - Você anda trabalhando muito?

Ela fez um simples sinal de negação.

- Tirei uma féria indeterminadas. Preciso saber o que irá acontecer com seu pai e Sophia. Faltam apenas três dias.

- Victor, resolveu falar com ela hoje. Ele conseguiu perdoar. - Senti uma pitada de orgulho por ele ter conseguido se libertar das amarras que o impediam de ser feliz e ao mesmo tempo fiquei receoso, imaginando como aquela conversa deveria ter sido dolorosa para ele.

Segunda Chance (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora