SAM

562 133 30
                                    


- Tudo que pediu está nesta pasta. - Muriel se pronunciou assim que adentrou a minha sala. Ele era um detetive que de vez em quando eu contratava, dependendo do tipo de situação que os clientes se submetiam, uma investigação no caso era sempre bem- vinda e poderia salvá-los perante o júri.

- Minha suspeita estava certa? - Abri os botões das mangas da camisa social, as dobrei até a altura dos cotovelos, antes de voltar minha atenção ao homem de cabelos grisalhos sentado na minha frente, que expressava um semblante que eu conhecia muito bem.

- Estava. - Ele apenas murmurou assentindo, mudando sua posição na cadeira. - Se eu fosse você não ficaria feliz por estar certo dessa vez, isso aqui é uma completa bola de neve. Leia detalhadamente todos esses documentos. - Depositou a pasta amarela ao lado do computador, ela era grossa, indicando que haviam muitos papeis ali dentro. - Mas o que te fez querer investigar isso só depois de dois anos?


Flashback - onn


Quando Victor me ligou naquele dia, era mais do que nítido que alguma coisa de errado havia acontecido. Três horas da manhã foi o horário que o meu celular tocou, do outro lado da linha ele sibilava palavras incoerentes, palavras que não conseguiam ser formadas devido ao excesso de choro.

Sua tristeza o permitiu exclamar apenas duas palavras '' Ben morreu '' e isso foi mais do que suficiente para me fazer pegar o primeiro voo sem escalas até Portland.

Nunca vivi um relacionamento e nem ao menos me permiti a isso, mas eu sabia o quanto aqueles dois se amavam e o quanto a morte de Ben arruinaria o meu amigo.

Barulhos estridentes e gritos de raiva, era tudo que se escutava do lado de fora da mansão em que ambos moravam. Quando abri a porta tudo estava uma completa desordem, móveis destruídos, quadros estraçalhados, roupas rasgadas, variados tipos de pedaços de vidro jogados pelo chão...... o significado de caos pairava aquele ambiente

Victor, não estava diferente, o encontrei no chão de frente para lareira, abraçado a um porta-retrato, soluçando derradeiramente pela constante crise de choro. Aquela foi a primeira vez que o vi  tão destruído.

Não existia nenhuma palavra no mundo que pudesse lhe trazer algum tipo de reconforto, passei horas o abraçando, estendendo meu ombro para que ele chorasse tudo que sua alma necessitasse e mesmo assim não foi o suficiente, nunca foi, foram dias e dias em que ele passou agarrado pela tristeza. Severas crises de choro e pesadelos constantes, foi dessa maneira que as semanas dele foram resumidas. Somente depois de muita terapia ele conseguiu se reerguer.

Fui eu quem organizou o enterro, já que Victor não tinha força alguma para fazer isso. E esse dia foi o pior de todos, ele se agarrou ao caixão, gritando que Ben não havia falecido e que tudo aquilo era uma grande mentira. Quando a terra começou a ser jogada por cima do caixão, ele desmaiou. Foi uma cena de partir de partir o coração.

O que me chamou atenção naquele dia, foi que havia uma mulher loira de olhos esverdeados, olhando diretamente para o enterro, com uma certa distância ela se esgueirava por de trás das sepulturas, tentando se manter escondida, ela chorava na mesma intensidade que Victor, ou talvez até mais. Fui o único que notou isso e aquilo me intrigou, porque ela não era uma parente e também não era amiga do casal.

Então, quem era ela?

Por um bom tempo me refiz essa pergunta, mas não obtive uma resposta clara, algo me dizia que aquilo era mais do que uma simples coincidência......

Segunda Chance (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora