Segunda Chance (Romance Gay)

VICTOR

Já passava das três da manhã e eu ainda não havia parado para comer, minha última refeição tinha sido feita horas trás e o estômago já estava gritando desesperadamente por algo que não fosse café. Não tive tempo para tirar um descanso, pois até então a emergência estava um completo desastre. Normalmente as coisas eram organizadas, porém o enfermeiro que deveria manter a ordem e administrar o alvoroço aparentemente era muito tímido, sua voz mau era ouvida e dessa forma só dificultava o trabalho dos paramédicos que chegavam desesperados a procura de orientação. Aposto como todos ali sentiam falta do Mark, ele era um senhor carrancudo e um tanto ranzinza, mas se dedicava o máximo possível em seu trabalho e uma desorganização nunca era vista, o mesmo administrava a emergência melhor do que ninguém, independentemente da situação. Tem apenas um mês que ele se aposentou e o seu substituto não é nem um pouco parecido com ele, além de tímido o rapaz também era atrapalhado e vivia vagando no mundo da Lua.  

- Por que raios deram um cargo de chefia pra esse rapaz? - Perguntei abismado ao notar o desespero que o enfermeiro parecia ficar toda vez que o telefone tocava. - Deveriam ter colocado alguém mais experiente.

- Ele deu umas boas chupadas no Matt e ganhou a promoção, simples - Elisa disse dando de ombros, encostada na máquina de salgadinhos. O cabelo amarrado em um rabo de cavalo desgrenhado e as marcas leves das olheiras denunciavam seu cansaço. Fazia cerca de poucos minutos que havia finalizado uma cirurgia de criptorquidia em um menino de cinco meses, fora os outros procedimentos infantis que tinha sido chamada para auxiliar, estava sendo um plantão corriqueiro para ela.

- Não vamos julgar, Eli. Talvez, ele possa ser competente e ainda não tenha se acostumado com a pressão de trabalhar na emergência. - Ela balançou a cabeça em negação, apontando com o dedo indicador para a frente, enquanto mastigava mais uma bolinha de queijo. - Isso só pode ser brincadeira. Por favor, me diz que ele tá brincando? - Murmurei totalmente indignado e Elisa apenas sorria. Meus olhos poderiam queimar com aquela cena, o rapaz estava segurando dois raio X de cabeça para baixo, conversando com uma paciente e pelo semblante confuso que o rosto da senhora expressava eu poderia confirmar que ela não deveria estar entendo nada. - Onde foi que essa criatura se formou? 

- O pior de tudo foi o discursinho hipócrita que o Matt fez quando promoveu o garoto. - Ela colocou a mão no peito, levantou o nariz e fez uma cara de entojada. - O George é formado em enfermagem radiológica, tenho absoluta certeza que dentre todos os enfermeiros ele é o mais apto a ser promovido... - Falou com a voz esganiçada, sua imitação de Matt sempre me fazia rir. - Na semana passada eu peguei os dois no estacionamento e foi aí que entendi a verdadeira aptidão do garoto. - Disse em tom de indignação.

E pensar que esse filho da mãe uma vez fez uma falsa denuncia sobre mim.

E por falar no demônio. Lá estava ele, desfilando pelo enorme corredor de braços cruzados, desferindo seu olhar de arrogância pra variar, parecia um carrasco. Ele possuía algumas características semelhante as de Cristian, como a cor os olhos, o tom de loiro escuro do cabelo e o formato do rosto. Mas em termos de personalidade, eles não tinham absolutamente nada em comum.

- Preciso falar com você, agora. - Me encarando friamente, com os olhos semicerrados, em sua estupida tentativa de intimidação ele se pronunciou. - Temos um assunto pendente pra tratar.

- Meu Deus. - A pediatra que estava do meu lado se manifestou. Um dos paramédicos demonstrava estar bem impaciente ao tentar explicar algo para George. - Vou aproveitar que as coisas estão mais calmas e irei ajudar o nosso digníssimo enfermeiro chefe, antes que ele faça alguma besteira. - Elisa murmurou de forma ácida e saiu andando. Matt bufou irritado, revirando os olhos, pois assim como eu, ela também não era de lamber o chão por onde ele passava e isso de certa forma o incomodava bastante