Segunda Chance (Romance Gay)

VICTOR

Dois anos depois

Como é bom retornar para casa depois de um plantão exaustivo. Depois de quatorze horas vou enfim poder descansar, meu corpo precisa urgentemente de um bom banho e uma cama quentinha. Sabe, apesar de reclamar diariamente da exaustão eu amo demais o meu trabalho. Desde criança o sonho da minha vida era me tornar médico, devido a isso no meu aniversário de dez anos minha mãe me deu um jaleco branco com os dizeres '' Doutor Harris '' bordado, esse foi certamente o melhor presente que já ganhei, guardo ele com muito carinho até hoje.

O bom humor matinal logo tratou de ir embora quando virei a esquina. Isso só pode ser brincadeira.

- Quem foi o infeliz que fez isso? - O motivo de tanta raiva era que havia centenas de caixas em frente a minha garagem me impossibilitando de guardar o carro. Provavelmente algum abusado havia se mudado recentemente. Normalmente eu não costumo ser um vizinho antipático ou autoritário, pra falar a verdade passo tanto tempo fora de casa que nem conheço direito os meus vizinhos, mas existem pessoas que possuem o dom de me tirar do sério.

Respirei fundo, peguei a mochila que estava no banco ao lado, mentalizei alguns pensamentos positivos e decidi que o melhor mesmo era tomar um banho relaxante e dormir antes de discutir com o infeliz.

Depois de trancar o carro e pegar minhas coisas, andei quase me arrastando até a entrada da casa, realmente o meu cansaço era nítido, porém não pude deixar de prestar atenção na música que vinha da casa ao lado. O som que emanava no ar era Yesterday, dos Beatles, era sem dúvida a minha canção preferida. Pelo menos o vizinho abusado possuía bom gosto.

Meu corpo gritava por um banho, mas ao mesmo tempo ele queria se atirar no sofá, dormir e acordar somente na próxima vida. Resolvi que por enquanto o melhor era seguir a segunda opção. Sendo assim joguei a gravata longe, abri alguns botões da camisa social e me atirei por cima daquele enorme sofá de estofado preto. Coloquei uma almofada em baixo da cabeça para melhorar a comodidade do sono. Todavia existem aqueles dias onde o universo não parece muito a favor da sua existência, porque no segundo em que fechei os olhos o celular começou a tocar.

Com tremenda irritabilidade retirei o aparelho do bolso. Só existe uma pessoa em todo esse mundo que adora me perturbar tão cedo. O meu melhor amigo idiota.

- São sete horas agora e eu to louco de sono, é bom que seja importante se não vou te matar. - Falei ainda de olhos fechados com a voz embargada de sono. Escutei do outro lado da linha o que parecia ser o som de um champanhe sendo estourado e umas risadas ao fundo. - Fala logo Sam, eu quero dormir.

- Nossa que mau humor. Só vou te perdoar porque a gentileza é uma das minhas qualidades, além da beleza é lógico. - Revirei os olhos o ouvido falar em falsa modéstia. - Meu bom homem, você está falando com o novo sócio do escritório. Também, eu não esperava por menos, sou o melhor advogado que a Califórnia já teve.

Eu e Sam éramos melhores amigos desde criança. Ele é um ser humano dissimulado mas é aquele tipo de pessoa que sempre vai estar do seu lado não importa o que aconteça. Se não fosse o apoio dessa criatura doida eu provavelmente não teria conseguido recomeçar.

Sam trabalha em uma das melhores empresas advocatícias do país. Quando estávamos no ensino médio, ele destruía as pessoas nas competições de debate, então não foi nenhuma surpresa quando decidiu estudar direito. Estive presente em sua primeira audiência, ele parecia um monstro perante o júri, não se abalava e nem demonstrava medo.

- Ás vezes eu sinto inveja da sua humildade. - Passei a mão na têmpora tentando miseravelmente me concentrar na conversa. - Meus parabéns amigo, fico feliz demais por você. Mas o que aconteceu com a ideia de abrir o seu próprio escritório?