𝐈𝐕

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{DEMETRYS DELYON}

Estou no esconderijo da Corte das Sombras, conversando com Barata. Fantasma observa a conversa enquanto Bomba está fazendo algo em seu canto.
Falo sobre a carta e sobre o que minha mãe falou para mim.

- Rainha Alhena está envolvida em tudo o que suspeitamos. Os sinais deixam claro. - Falo.

Olho para o bilhete.
Dádiva a aqueles que a recuperam.

- Balekin e Alhena serão um problema.- diz Barata corrigindo a frase que o mesmo disse a alguns dias atrás.

- Eles são o problema.- Digo.

{JUDE DUARTE}

Cubro minha boca com a minha mão machucada como se fosse para segurar um grito que não vem.
Eu amaldiçoo você. Três vezes, eu amaldiçoo você. Como você me assassinou, que suas mãos estejam sempre sujas de sangue. Que a morte seja sua única companheira.
Conforme os minutos vão se passando, permaneço ali, sentada ao de Valéria, vendo a pele de seu rosto fucar cada vez mais pálida pela falta de bombeamento de sangue, vendo os lábios ganharem um tom azul-esverdeado. Ele não morre de um jeito tão diferente dos mortais, mas tenho certeza de que detestaria saber disso. Se não fosse por mim, Valéria poderia ter vivido mil anos.
Minha mão dói mais do que nunca. Devo ter batido o ferimento durante a luta.
Olha ao redor e vejo meu reflexo no espelho do outro lado do quarto: uma garota humana, descabelada, os olhos febris, um poça de sangue se formando ao seus pés.
Fantasma e Delyon estão chegando. Eles saberiam o que fazer, ou talvez apenas Fantasma saberia. Certamente já matou gente antes. Mas o príncipe Dain já está doido de raiva de mim só esfaqueei o filho de um membro bem-visto de sua Corte. O fato de eu ter matado esse mesmo filho na noite anterior à coroação de Dain não pegaria nada bem. As últimas pessoas que preciso que saibam disso estão na Corte das Sombra. Mas por outro lado, Delyon parece saber guardar segredos desse tipo, mas não posso confiar, não agora.
Não, eu mesma preciso esconder o corpo.

{•••}

Durante a noite, Fantasma me mostra como subir mais alto do que o patamar onde o Taryn e eu ficamos na última vez. Delyon me ajuda no equilíbrio. Subimos até os caibros acima do grande salão e nos acomodamos nas enormes vigas de madeira. Estão cobertas de uma teia de raízes que às vezes enveredam no formato de gaiolas, às vezes de Sacadas, e às vezes mais parecem cordas bambas. Abaixo de nós estão sendo feitos os preparativos para a coroação. Toalhas de mesa em veludo azui, prata martelada e dourado trançado estão sendo estendidas, cada uma delas decorada com brasão da casa de Greenbriar, uma árvore florida com espinhos e raízes.

- Vocês acham que as coisas vão melhorar depois que p príncipe Dain se tornar o Grande Rei? - Pergunto.

Fantasma dá um sorriso vago e balança a cabeça com tristeza, enquanto Delyon suspira.

- As coisas serão iguais ao que sempre foram - Diz Fantasma.- Só que mais.

- Ou seja, continuará sendo a mesma merda, mas uma merda arrumada. - Diz Delyon rindo da própria piada, enquanto Fantasma a encara sério.

Não sei o que isso quer dizer, mas é uma resposta feérica o suficiente para eu saber que é improvável que eu consiga arrancar mais alguma coisa deles. Penso no corpo de Valerian embaixo da minha cama. Os feéricos não apodrecem do mesmo jeito que os mortais. Às vezes seus corpos são cobertos por líquen ou por cogumelos. Já ouvi histórias sobre os campos de batalhas que viraram colinas verdejantes. Eu adoraria voltar e descobrir que Valerian virou planta, mas duvido que tenha tanta sorte assim.
Eu não devia estar pensando no corpo dele; devia estar pensando Nele. Devia estar preocupada com mais do que ser presa.
Caminhamos pelas raízes e vigas, despercebidas, saltitando silenciosamente acima de grupos de servos uniformizados. Eu me viro para Fanstama, observo o rosto calmo e a maneira experiente com que ele posiciona os pés. Delyon também parece experiente, mas não tanto quanto Fantasma. Pelo pequeno tempo que a conheço, parece que esse não é o ponto forte dela. Tento imita-los. Tento não usar a mão machucada para nada além de equilíbrio. Fantasma parece perceber, mas não faz perguntas. Talvez já saiba o que aconteceu.

- Agora espere. - Ordena Fantasma quando nos acomodamos em uma viga grossa.

- Por alguma coisa específica? - Pergunto.

- Fomos informados de que tem um mensageiro vindo da propriedade de Balekin, disfarçado com o uniforme do Grande Rei - Diz Delyon.

- Temos que mata-lo antes que entre nós aposentos reais. - Completa Fantasma.

Percebo isso agora, mas Delyon e Fantasma aparentam ser um dupla. Eles se completam, de certa forma.
Os dois falaram sobre isso sem nenhuma emoção em específico, apenas Delyon que falou com uma careta. Eu me pergunto a quanto tempo eles trabalham para Dain.
E me pergunto se Dain já pediu para eles enfiarem uma faca na própria mão, se testa todos da mesma forma, ou se foi um teste especial, só para os mortais.

- O mensageiro vai assassinar o príncipe Dain? - Pergunto.

- Não vamos esperar para descobrir. - Diz Fantasma.

- Vamos arregaça-lo antes dele Arregaçar o príncipe Dain! - Diz Delyon sorrindo orgulhosa.

Abaixo de mim, esculturas com fios de açúcar são finalizadas em torres cristalinas e altas. Maçãs pintada de nuncamais são empilhadas nas mesas de banquete, em quantidade tal para entorpecer metade da Corte.

- Tem certeza de que ele vai passar por aqui?

- Tenho. - Delyon e Fantasma Falam em Uníssono.

Eles se encaram por um tempo, mas Delyon faz uma careta e desvia o olhar de Fantasma.
Então esperamos, e tento não me agitar quando os minutos viram hora, mudando de posição apenas o suficiente para os músculos não ficarem doloridos. Isso é parte do meu treinamento, provavelmente o aspecto que Fantasma acha mais essencial depois da capacidade de ser sorrateiro. Ele sempre diz que a maior parte do tempo de um assassino e ladrão se resume em esperar. A coisa mais difícil, de acordo com ele, é não deixar a mente vagar para outras coisas. Ele parece estar quieto. Lá em cima, olhando a movimentação dos servos, meus pensamentos logo se voltam para a coroação, para a garota afogada, para Cardan chegando a cavalo quando eu estava fugindo da Mansão Hollow para o sorriso congelado e morto de Valerian.
Arrasto os pensamentos de volta ao presente. Abaixo de mim, uma criatura com calda comprida e sem pêlos se arrasta na sujeira e atravessa o aposento
Olho para Fantasma.

- Ótimo - Diz ele. - Agora dispare.

Minhas mãos estão tremendo quando pego a besta em miniatura, procurando firmá-la no braço. Cresci em uma casa que é um verdadeiro matadouro. Fui treinada para isso. Minha lembrança principal da infância envolve derramamento de sangue. E até já matei esta noite. Mas, por um momento, não tenho certeza se sou capaz.
Você não é assassina.
Sinto uma mão em meu ombro. Delyon me olhava com um tipo de olhar acolhedor.
Respiro fundo e disparo. Meu braço tem um espasmo devido ao coice.
A criatura cai, um braço trêmulo lançando uma pirâmide de maçãs dourada para tudo que é lado no chão. Eu me recosto em um amontoado denso de raízes, tal como me ensinaram. Servos iniciam uma gritarias, procurando pelo autor do disparo.
Delyon, ainda com a mão em meu ombro, dá um aperto fraco no mesmo. Parece estar demonstrando apoio.
Ao meu lado, Fantasma ostenta um sorriso de canto na boca.

- Foi o seu primeiro? - Pergunta. E quando eu olho para ele, sem entender, ele esclarece: - Você já matou alguém?

Que a morte seja sua única companheira.
Balanço a cabeça, sem confiar em mim mesma para dizer a mentira em voz alta de forma convincente.

- Às vezes, os mortais vomitam, Ou choram - Diz ele, claramente satisfeito por eu não estar fazendo nenhuma dessas coisas. - Não é vergonha nenhuma.

- Mas seria engraçado se acontecesse. - Delyon comenta, me fazendo a olhar.- Sem ofensa.

Ignoro o comentário.

- Estou ótima. - Comento, respirando fundo e encaixando uma nova flecha na besta.

O que sinto é uma espécie de prontidão meio tensa, encharcada de adrenalina. Parece que ultrapassei algum tipo de limiar. Antes, eu nunca sabia até onde seria capaz de ir. Agora, acredito ter a resposta. Vou até onde tiver que ir. Vou longe demais.
Fantasma ergue as sobrancelhas.

- Você é boa nisso. Boa de mira e com estômago para violência.

Fico surpresa. Fantasma não costuma fazer elogios.
Olho para Delyon e ela concorda com a cabeça.

- Ele não mentiu. - Ela diz.

{•••}

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𝐀 𝐑𝐀𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐃𝐎𝐒 𝐕𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 - 𝐅𝐚𝐧𝐭𝐚𝐬𝐦𝐚ᴼ ᴾᴼᵛᴼ ᴰᴼ ᴬᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora