𝐕𝐈

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{JUDE DUARTE}

Na Corte das Sombras. Penso nas possíveis jogadas.
Matar Balekin. Mikkel não se enganou quando insinuou que sem ele seria mais difícil o Reino Submarino arrancar a coroa da cabeça do Grande Rei.
Casar Cardan com outra pessoa. Penso na Mãe Marrow e quase me arrependo de ter interferido. Se a filha da bruxa tivesse se tornado noiva de Cardan, talvez Orlagh não iniciasse essa tentativa casamenteira.
Mas é claro que eu teria outros problemas.
Sinto uma dor de cabeça começando por trás dos olhos. Passo os dedos no alto do nariz.
Penso em mais milhares de coisas. Lembro-me da última vez que vi Balekin, e também, da mulher. A mulher que falou sobre minha mãe. Ela está lá esse tempo todo, e se está disposta a vender um tipo de informação em troca de liberdade, talvez esteja disposta a vender outro.
Enquanto penso no que gostaria de saber, me dou conta do quanto seria útil enviar informações para Balekin, em vez de ficar tentando descobrir o que ele está tramando.
Se eu fizer aquela prisioneira acreditar que a estou libertando temporariamente para me contar sobre minha mãe, posso também soltar alguma informação para ela ouvir. Algo sobre Oak, sobre o paradeiro dele ou sua vulnerabilidade. Ela não estaria mentindo ao produzir a informação; acreditaria que ouviu e falou a verdade.
Peço mais um pouco e decido que não, é cedo demais para isso. O que preciso agora é dar a prisioneira uma informação simples que ela possa passar adiante, uma informação que eu possa controlar e verificar, para ter certeza de que ela é uma boa fonte.
Balekin quer enviar um recado a Cardan. Vou arrumar um jeito de permitir.
Há algum tempo a corte das sombras começou a formalizar o registro de documentos sobre os cidadãos de Elfhame, mas nenhum dos pergaminhos tem informações sobre os prisioneiros da Torre, apenas sobre Balekin. Enquanto ando pelo corredor, vou até o novo escritório de Bomba.
Ela está lá, junto de Demetrys, jogando adagas em um quadro de pôr do sol.

- Não gostou? - Pergunto, apontando para a tela.

- Gostei muito - afirma Bomba.- Agora, gosto mais.

- Preciso de uma prisioneira da Torre do Esquecimento. Temos uniformes suficientes para alguns dos nossos novos recrutas? Os cavaleiros de lá já viram meu rosto. Vulciber pode ajudar, mas prefiro não arriscar. É melhor falsificar papéis e tirá-la de lá com poucas perguntas.

Bomba Franze o cenho em concentração e Demetrys levanta uma das sombrancelhas.

- Quem você quer? - Bomba questiona.

- E qual é o motivo em específico? - Demetrys também pergunta. Acho que é por pura curiosadade essa pergunta. Ignoro sua pergunta.

- Tem uma mulher. - Pego um papel e desenho o piso inferior da melhor maneira que consigo. - Ela estava na escada. Aqui. Sozinha.

Bomba franze ainda mais o cenho. Já Demetrys, abaixa sua sombrancelha e suaviza a expressão.

- Como ela é? - Demetrys pergunta.

- Você é capaz de descrevê-la? - Bomba também pergunta.

São muitas perguntas.

- Rosto fino, chifres. Bonita, acho. Vocês são todos bonitos.

- Que tipo de chifres? - Pergunta Bomba, novamente. Ela enclina a cabeça para o lado como se estivesse pensando em algo.

- São curvados? Retos? - Questiona Demetrys.

Mostro a posição que lembro na minha cabeça.

- Pequenos. Tipo de bode. E ela tinha uma cauda.

- Não tem muitos feéricos na Torre. - Explica Bomba. - Essa mulher que você está descrevendo...

- Só pode ser uma pessoa. - Completa Demetrys

- Vocês a conhecem?

- Nunca troquei uma palavra com ela - Informa Bomba. - Mas sei quem é... ou melhor: uma das amante de Eldred, e ela lhe deu um filho.

- Ela é a mãe de Cardan. - Demetrys diz.

- A prisioneira é a mãe de Cardan. - Diz Bomba.

{•••}

{DEMETRYS DELYON}

Chego na minha antiga casa, fortaleza de minha mãe. Bato na porta com a intenção de um dos servos a abrir. É aberta, mas por minha mãe. Ela me olha como se eu fosse o pior de seus pesadelos.

- O que faz aqui?! - Ela faz uma cara feia.

Suspiro

- Precisamos conversar. - Falo.

Ela respira fundo e dá espaço para que eu possa entrar.
Entro e olho ao redor, tentando notar algum detalhe diferente desde a última vez que vim aqui. Reparo em um. Um quadro enorme de meu pai perto de um divã estofado de um tecido vinho.
Me sento no divã, esperando que Alhena se sente a meu lado. Algo que ela não faz. Ela continua me olhando de cara feia.

- Sobre o que quer conversar? - Ela pergunta.- Sobre sua traição? Sobre tornar Rei seu "antigo futuro marido"?

- Papai me disse que iriam me casar com Balekin - Falo. Ela me ignora.

- Desde quando é espiã? - Questiona.- Desde quando anda com aqueles criminosos?

- Você traiu o reino. Você, papai, Madoc e Balekin Traíram o reino. - Retruco cruzando minhas pernas. - Vocês que são os criminosos.

Ela finca suas unhas na mão.

- Seu pai queria te tornar a Rainha - Ela continua.- Queria te tornar dona de tudo.

- Foi para isso que eu vim - Me levanto do divã. Ela me olha confusa. - Não foi eu quem matei o papai. Não foi eu quem enfiou aquela espada na garganta dele. Não foi eu quem traí o reino. Foi você. Você matou ele.

Respiro fundo antes e continuar.

- Acho que o mínimo que possa ser feito, é me tornar a Rainha. Posso não ter o matado, mas quero honrá-lo. Nosso desafio foi: quem se machucasse primeiro, tomaria as consequências. Eu me machuquei primeiro, e tinha que me casar com Balekin. Mas ele morreu primeiro.

Ela cerra seus punhos. Ela levanta sua mão com intensão de me tapear, mas antes que o ocorrido ocorresse, eu seguro seu pulso com força. Força o suficiente para desloca-lo.

- Você é uma cretina - Ela diz. Sua voz embargada de choro. - Você matou o seu pai. Você é a assassina. Você é a decepção e a razão dessa família estar quebrada em pedaços.

Engulo seco as palavras que vieram como pedras em meus sapatos para mim. Meus olhos se enche de lágrimas. Solto o pulso dela.

- Não. - Falo. A olho nos olhos.- Não. Esta família já estava rachada, Você apenas a rachou mais e mais, até que não aguentou. Se quebrou. E o momento que se quebrou foi quando você decidiu roubar aquela maldita coroa. Você é a morte dessa família. Você matou o papai. Você matou a todos. Só não tira a sua própria vida porque é medrosa. Tão medrosa que tem medo da sua própria sombra. A sombra que esconde tantas mortes. Você quem me enfasqueou no banquete. Você que me fez ser assim. Por isso, você vai sim me fazer ser a Rainha.

Tento me recompor respirando mais fundo. Puxo o ar com rapidez, e o solto mais rápido ainda. Volto a olhar para minha mãe. Ela se senta no divã, que antes eu estava sentada.
Coloco minha mão sobre sua cabeça.

- Eu disse tudo o que tinha que dizer - Falo. - Pense bem. Tenho que ir.

Vou me distanciando. Quando chego à poucos centímetros da porta de saída, me viro para ver Alhena novamente. Olho para o quadro, e depois para minha mãe.

- Sinto muito pela perda.

Saio pela porta, e finalmente, desabo.

{•••}

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𝐀 𝐑𝐀𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐃𝐎𝐒 𝐕𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 - 𝐅𝐚𝐧𝐭𝐚𝐬𝐦𝐚ᴼ ᴾᴼᵛᴼ ᴰᴼ ᴬᴿOnde histórias criam vida. Descubra agora