𝐀 𝐑𝐀𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐃𝐎𝐒 𝐕𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 - 𝐅𝐚𝐧𝐭𝐚𝐬𝐦𝐚ᴼ ᴾᴼᵛᴼ ᴰᴼ ᴬᴿ

𝐈

Às vezes, eu só queria esquecer que eu sou a Rainha.
A caneta de ouro que estava em minhas mãos pesava, mas não nenhum peso se comparava com a coroa acima de mim. Acho que faz, pelo menos, cinco ou seis meses desde que me tornei a Rainha da Corte dos Ventos - Não consigo me lembrar bem. Esse trabalho me cansa mais que qualquer outro. -, além de estar trabalhando em uma grande missão para o Grande Rei de Elfhame - Cardan.
Tudo parecia tão errado. Tudo parecia fora do lugar. Eu não era mais a mesma. Era como se eu fosse uma peça de quebra-cabeça que está sendo encaixada no lugar errado.
Faz tempos em que não vejo Cardan, ou qualquer pessoa que eu antes via. As únicas pessoas que vejo são: Minha mãe, óbvio. Taryn, Oriana, Madoc, e o povo maluco da Corte dos dentes.
Além disso, eu nunca mais vi Fantasma. Ele desapareceu. É como se ele nunca tivesse existido.
Suspiro de forma pesada, enquanto pouso a minha caneta sobre o pergaminho amarelado sobre a mesa de madeira. Coloco minhas mão sobre minhas têmporas, exausta. Sinto que minha cabeça irá explodir a qualquer momento, e eu imploro que isso aconteça. Eu não aguento mais tudo isso.

- Quanto mais descansar, mais vai ter trabalho para terminar - Disse minha mãe, ajeitando o casaco de pele sobre mim. Estava frio, como qualquer dia. Madoc é idiota o suficiente de encontrar um esconderijo no meio da neve.

- E quanto eu mais trabalho, mais me dá vontade de morrer - Falo, sorrindo de forma irônica. Não era mentira o que eu estava falando. Tudo estava acabando comigo.

- Você tinha a opção de negar - Ela diz, se referindo na carta onde Madoc pedia a união de cortes.

- Você sabe que, quando eu coloco algo em minha cabeça, ela não sai até que esteja terminado - Digo, a olhando. - E eu nunca deixo uma missão para trás. Nunca.

- Demetrys, você é a Rainha - Falou minha mãe, de forma que deixava a mesma parecer extremamente sábia, mesmo que de sábia ela não tenha nada.

- Eu sei - Respondi, ríspida. - Eu sou a Rainha. Sou a Rainha, mas eu nunca deixei de ser uma espiã.

Minha mãe não respondeu. Ela continuou me encarando séria, antes de respirar fundo, e desviar o seu olhar para o lado.

- Se prepare para o jantar - Disse ela. - Hoje iremos jantar na cabana da Corte dos Dentes.

Suspirei, tendo que pensar novamente em conversar com aquele povo estranho. Sei que é ruim pensar dessa forma, mas eles me dão medo, principalmente, a Rainha deles.

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Suspiro, me olhando no espelho improvisado de minha barraca. Nesses tempos, eu uso apenas um tipo de roupa; vestidos e mais vestidos. Agora, eu uso um de veludo bordo, que lembra sangue. Ele não é aberto, e não tem fendas da forma que eu gosto, já que está frio demais para sair mostrando tanta pele. Por cima dele, eu uso o casaco de pele que minha mãe me deu.
Por mais que minha aparência seja de uma própria rainha, eu não me reconheço no espelho. Meus cabelos azuis, que antes eram completamente curtos, batem abaixo de meu ombro, com alguém mechas feitas em tranças pequenas. E o rosto que antes sempre tinha um sorriso, agora está sério, como se a felicidade nunca fosse algo costumeiro para mim. Eu havia me perdido em mim mesma.

- Está linda - Falou minha mãe, me olhando.

- Eu sei - Falei, suspirando. Eu ajeito a minha coroa na cabeça, deixando-a reta.

- Vamos? - Perguntou minha mãe.

Eu respirei fundo, olhando em meus próprios olhos pelo espelho. Eu não sabia até quando eu iria aguentar, mas tenho que ser forte. Tenho que acabar com isso, por Jude e por Cardan.

- Vamos.

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Quando entramos na barraca, estavam lá todos os soldados, e o povo da Corte do Dentes, e dos aliados de Madoc. Eu já estava acostumada com o ambiente, era normal eles marcarem jantares assim algumas vezes na semana. Mas, mesmo assim, não deixava de ser irritante de os ver tão animados em trair o Reino de Elfhame. Porém, assim como eu disse antes para minha mãe, eu nunca deixei de ser uma espiã. Eu não posso fazer com que a confiança que eu criei entre mim e eles seja quebrada tão facilmente.

- Rainha Demetrys - Escutei a voz que eu tanto odeio soar próxima à mim.

Eu me viro, forçando um sorriso - Nesse meio tempo, aprendi a como forçar um sorriso de forma certa.

- Madoc - Eu cumprimentei, curvando minha cabeça.

- Que bom vê-la aqui - Madoc falou, sorrindo, também forçado. Ele não gosta de mim, mas tenta simpatizar pelo bem de seu plano.

- Ah, eu não podia perder um jantar - Digo, ainda sorrindo. - Além do mais, eu estou com fome.

Madoc soltou uma risada forçada.

- Ah, certo - Ele falou. Ele olhou para o lado, querendo sair dessa conversa constrangedora o mais rápido possível. - Tenho que ir cumprimentar os outros...

Eu apenas concordei com a cabeça, o vendo se afastar. Suspirei aliviada.

- Bem, não foi pior que a última - Falou minha mãe, se aproximando. - Já está melhorando.

Concordei com a cabeça, olhando ao redor de toda a multidão.

- Há pessoas novas aqui? - Perguntei simplista.

- Sim - Comentou minha mãe. - Parece que Taryn, irmã de Jude, foi acusada de assassinar o próprio marido. Então, Madoc a tirou do julgamento. Ela está aqui agora.

Eu apenas respondi com um: "Hum", desinteressada. Eu não ligava para Taryn. E, pelo pouco que Jude me contou, ela era uma pessoa ridícula.
Volto a olhar ao redor, porém, meus olhos param sobre Lady Nore, Lorde Jarel, e Rainha Suren. Engulo seco, nervoso. Eu já falei, e repito: Tenho medo deles.
Eu me aproximo, ficando pouco perto dos tronos de gelo em que eles estavam. Eu me curvo em um movimento rápido. Tanto a Lady, quanto o Lorde, se curvam também, enquanto a criança apenas me encarava com o olhar amedrontador de sempre. Respiro fundo, me afastando dos mesmo. Eu realmente tenho medo de Suren.
Quando voltei ao lugar em que eu antes estava, percebi algo que meus olhos não haviam captado antes; Taryn. Ela estava junto de Oriana, conversando. Porém, algo esquisito faz meu coração bater e bater mais forte ainda. A aparência de Taryn estava diferente. Ela era diferente. Eu demorei a perceber que aquela não era Taryn, e sim, Jude.

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