capítulo: 08

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Por favor — sussurrara, constrangida — você não devia me contar isso.

— Por que não? — perguntara ele, irritado. — Vou contar a quem mais? Não tenho amigos íntimos, irmãos, meus pais morreram... Não há um único ser humano na Terra que tenha conseguido se aproximar de mim até o momento. — Ele a fitara com olhos irados. — O diabo que a carregue, Anahí — sussurrara ensandecido. — O diabo que a carregue!

Ele, enfim, soltara seu braço e saíra a passos largos, deixando-a trêmula e pálida. Realmente a odiava. Quando a máscara caíra, ela pudera constatar a verdade em seus olhos, em seu rosto. Não sabia por que ele a odiava. Talvez Diana tivesse contado alguma coisa a ele...

À noite, fora para o apartamento deles, segura de que Alfonso já tinha viajado. Encontrara a empregada histérica e Diana sentada na varanda, usando uma camisola transparente, em plena noite fria e chuvosa. Ela estava ali, contara a pobre empregada, desde que o marido deixara o apartamento. Não sabia o que eles haviam conversado, mas ouvira as vozes altas e descontroladas no quarto, Uma discussão violenta.

Logo depois que o médico saíra, a patroa tirara o robe e se sentara na chuva. Nada a convencia a entrar. Tossia sem parar e a febre subira muito, mas ela proibira a empregada de contar ao patrão.
Anahí imediatamente fora até a varanda e, com a ajuda da empregada, arrastara Diana para dentro. Mudaram-lhe a roupa, mas o esforço fizera o coração de Anahí, sempre fraco, bater descompassado.

Enquanto recuperava o fôlego, a empregada anunciara que seu marido já havia telefonado duas vezes, furioso. Ela precisava ir embora. Anahí relutara em deixá-la partir, já se sentindo mal, mas a pobre moça estava aos prantos. Dera permissão para que ela fosse embora e escutara o peito da prima, que respirava com dificuldade, estava inconsciente e com febre altíssima. Precisava chamar uma ambulância. Ao pegar o aparelho, ouvira um som estranho. O telefone estava mudo. Furiosa, fora até o corredor pedir ajuda a um vizinho. De repente, tudo escurecera. Sentira-se aterrorizada e o coração começara a bater descompassado. Descera o corredor, tentando achar os elevadores, mas eles não estavam funcionando. Havia uma escada. Só quatro lances de escada a subir. Não era tanto.

Tinha a terrível sensação de que o pulmão de Diana parara de funcionar. Ela podia morrer... Num esforço supremo, arrastara-se pelas escadas apoiando-se no corrimão quando a respiração começara a falhar e as batidas do coração, a doer.

Não se lembrava do que havia acontecido, apenas de que, de repente, perdera o equilíbrio e a consciência, tudo ao mesmo tempo. Recuperara os sentidos no hospital, tentando explicar a um estranho de jaleco branco a urgência de voltar para ficar com a prima. O homem apenas lhe dera um tapinha no braço e uma injeção.

Apenas no dia seguinte conseguira sair do hospital e voltar para o apartamento de Alfonso. Àquela altura, a empregada encontrara Diana morta e Alfonso e os sogros haviam sido avisados. Anahí chegara ao apartamento no exato momento em que os atendentes da ambulância saíam com o corpo de Diana. Quando encontrara Alfonso, ele questionara tudo, num espanhol chulo: desde os pais de Anahí até seu futuro imediato.

— Oh, por favor, deixe-me explicar — ela implorara aos prantos, ao imaginar o que devia ter acontecido com Diana, pobre Diana, sozinha e gravemente doente. — Por favor, não foi culpa minha. Deixe-me falar!

— Saia do meu apartamento! — ele vociferara, após ter esgotado a lista de insultos em espanhol. — Vou odiá-la por isso até o dia da sua morte. Nunca a perdoarei enquanto viver. Você a deixou morrer! — gritara o rosto lívido e exausto.

Ela ficara ali, paralisada pelo choque e pela fraqueza. Mais tarde, no cemitério, Anahí tentara falar com os tios, mas a tia a esbofeteara e o tio recusara-se a fitá-la. Alfonso exigira que ela fosse retirada e proibira seu retorno.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora