capítulo: 24

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Ela não queria responder. Alfonso estava disposto a deixá-la partir, então aparentemente cansara de sua presença. Devia ser um tormento para ele. Ela recusou-se a pensar naqueles beijos. Provavelmente ele estava a tanto tempo sozinho que qualquer mulher, não importa em que condições, provocaria a mesma reação nele.

Reclinou-se nos travesseiros. Teria que deixar a Srta. Plimm acompanhá-la e dar um jeito de lhe pagar o salário.

— Pergunte a ele quando posso ir embora — disse, afinal.

O rosto de Alfonso não traiu nenhum sinal de emoção quando Christopher fez a pergunta.

— Tomarei as devidas providências — disse, acompanhando Christopher até a porta. — Eu aviso. Quanto antes, melhor.

Christopher assentiu.

— Obrigado. Acho que ela vai se recuperar mais rápido num ambiente familiar. A gente pode estar num lugar muito confortável, mas nada como a casa da gente.

— Entendo. — Alfonso fechou a porta e hesitou antes de ir ao quarto de Anahí. Encontrou-a tensa, recostada nos travesseiros, as mãos cruzadas no colo. A enfermeira sairá para almoçar, ir ao banco e fazer umas compras, pois era sexta-feira. Ele foi direto ao ponto.

— Pode ir embora amanhã de manhã, se quiser. Eu aviso a Srta. Plimm. Só mais uma coisa — disse, gesticulando para a gatinha enrascada em seus pés sobre a colcha. — Você não pode levar Mosquito.

— Eu sei — disse triste. Ela se apegara demais ao bichinho. Mas regras eram regras e ela não poderia esconder a gata. Afinal, o proprietário e a mulher freqüentariam o apartamento, sendo o tipo de pessoas que se dedicam aos doentes.

— Eu cuidarei bem dela.

Ela assentiu. Alfonso emitiu um som irritado.

— Olhe, por que não fica? Tem tudo à disposição. Christopher a visita sempre que quer. Por que está tão ansiosa em voltar para aquele apartamento solitário?

Ela o fitou com o rosto cansado, exausto.

— Porque é meu. É tudo que tenho. — Ele ficou abalado.

— Como assim?

— Eu vivo sozinha. Gosto de viver sozinha. Não me sinto à vontade com outras pessoas.

— Comigo, quer dizer. — Ela contraiu a mandíbula.

— Isso.

Ele aproximou-se da cama, olhando-a fixamente.

— Eu não a deixo à vontade. — Ela desviou os olhos. O coração batia alucinado, traindo sua excitação. — Fale isso comigo.

Anahí apertou as mãos como se disso dependesse sua vida.

Trincou os dentes. Não o fitaria.

Ele enfiou as mãos nos bolsos para evitar segurá-la. Como sempre, ela lhe despertava fortes emoções. Mas agora estava menos armado do que de hábito.

— Não é que não aprecie o que fez por mim — disse, passado um minuto. — Sou muito grata a você. Salvou minha vida. Não precisava sacrificar sua privacidade por minha causa.

— Minha privacidade, como você chama, é muito solitária — confessou, surpreendendo-a tanto que ela fitou-lhe o rosto magro e bonito. — Não recebo ninguém. Achei que soubesse.

— Mas você sempre...

— Quando Diana era viva — concordou. Ele procurou-lhe o rosto exausto. — Ela dava as festas. Só conseguia viver cercada de gente e música. Eu passava mais tempo no consultório, pois não tinha sossego para ler meus jornais médicos ou escrever artigos. Ela se ressentia do meu trabalho, desde o início de nosso relacionamento. Ela queria que eu abrisse mão da minha profissão, sabia?

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora