Ele havia entendido a que ela se referia.
— E um orfanato teria sido muito pior?
A pergunta a perseguia sem cessar. Era como se ele soubesse como era a sua vida com os vásquez, o irmão e a cunhada de seu pai, e a linda Diana. Ridículo, claro, imaginar que ele compreendia. Por outro lado, se questionava se Diana algum dia o compreendera e como a infância dele o moldara no homem que era hoje. Ele nunca recusava um paciente pobre ou dava as costas a alguém necessitado de ajuda. Era o homem mais generoso que ela conhecia. Diana odiava essa faceta de sua personalidade.
— Ele dá dinheiro aos mendigos na rua, acredita? — ela perguntara no Natal, quando tinham dois anos de casados. — Tivemos uma discussão horrorosa por causa disso. Eles são uns vagabundos. Não se dá dinheiro a esse tipo de gente.
Anahí nada dissera. Com freqüência, contribuía com o pouco que tinha para comprar alimentos para os sem-teto, até mesmo trabalhando como voluntária nos feriados para distribuir comida.Um dia, num feriado, para sua surpresa, vira Alfonso colocando um avental sobre o terno para unir-se a ela na fila de distribuição.
— Não fique tão chocada — dissera, ao ver-lhe a expressão. — Metade dos funcionários dão uma escapada quando podem para ajudar. — Ela distribuíra sopa ao lado dele durante uma hora no ambiente lotado, cheia de gratidão por ter um salário e um teto, enquanto os pobres da cidade aglomeravam-se no corredor quente em busca de um prato quente de comida. Lágrimas brotaram de seus olhos quando uma mulher com dois filhos pequenos sorrira e agradecera pela única refeição do dia.
A mão de Alfonso colocara um lenço na sua.
— No lo hagas! — sussurrara em espanhol. — Não faça isso.
— Aposto que você nunca derrama lágrimas — murmurara, enxugando os olhos com o imaculado lenço branco de perfume delicado.
Ele rira baixinho.
Ela o fitara curiosa.
— Gosto dos meus pacientes. Não sou de pedra. Sofro quando perco um deles.
Ela desviara os olhos para a sopa e concentrara-se em encher as tigelas.
— Dizem que os latinos são muito passionais em tudo que fazem — murmurara num impulso.
— Em tudo — ele repetira, num tom que, inexplicavelmente, a fizera tremer.
Ela tentara devolver-lhe o lenço, mas, a princípio, ele o recusara. Os olhos dele demonstravam crueldade ao encontrarem os seus.
— Ponha debaixo do travesseiro — debochara. — Talvez ele inspire sonhos que compensem o vazio de sua vida.
O soluço alarmado que ela liberara parecera ter feito Alfonso recobrar o bom-senso.
— Sinto muito — murmurara tenso, pegando o lenço e enfiando-o no bolso das calças como se sua simples visão o irritasse.
Ao longo dos anos, houvera outros incidentes. Uma vez, fora convocada por Diana para levá-la ao centro da cidade, pois Alfonso não lhe permitira usar o Jaguar. Mal a empregada esbaforida a deixara entrar, ouvira vozes furiosas na sala de estar.
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A paciente (Adaptada) aya
RomansAlfonso é o último homem de quem Anahí aceitaria ajuda, mas ela estava doente. Como médico, era dever de Alfonso buscar a cura de seus pacientes. Como homem, ele tinha de encontrar um meio de cuidar do coração da mulher que assombrava seus sonhos. S...