capítulo: 17

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Anahí recobrou totalmente a consciência no segundo dia, na ala dos pacientes cardíacos, e seu primeiro pensamento foi para a pobre gatinha, sozinha no apartamento. Ela e a enfermeira deram duas voltas na ala enquanto se torturava a respeito da gatinha, esquecida sob os efeitos da anestesia.

Christopher passou para visitá-la e esperou até ela deitar e ser novamente ligada ao oxigênio, ao soro e ao monitor cardíaco.

— Minha gatinha... — disse queixosa. — Ela está sozinha no apartamento há dias sem comida nem água. Assim vai morrer.

— Ah, a gatinha. Bem, pelo que sei, tornou-se uma lenda. Ela está morando com o Dr. Herrera.

O coração dela quase parou. Fitou-o boquiaberta.

— Com Alfonso?

— O próprio. Imagine só. Achei que ele odiasse bichos.

— Eu também.

— Você não vai acreditar como ele fala da gatinha. Comprou uma coleira, todo tipo de brinquedos e dorme com ela.

— Você tem razão. Eu não acredito. Você está de gozação.

— Pergunte a ele.

Anahí ouviu a novidade com desconfiança. Certa vez, Diana contara que Alfonso odiava animais domésticos e não queria saber de nada com pelos e unhas por perto. Também contara que ele não gostava de crianças e não pretendia ter filhos. Ele gostava de festas, eventos sociais e tinha mania de limpeza, acrescentou descuidadamente.

Anahí não tinha essa impressão, mas não o conhecia direito. Ele fazia questão disso. A única pessoa que conseguira se aproximar dele havia sido Diana e, desde o seu falecimento, vivia completamente isolado. Nem namorava.

Isso não surpreendeu Anahí, pois sabia de sua obsessão por Diana. Durante toda a vida, ela fora a menina dos olhos de todo mundo. Para Anahí, não sobrava amor na casa dos vásquez, pois ele era todo dedicado à prima. E nada mudara, embora Diana tivesse morrido anos antes.

A Srta. Plimm fora à cafeteria almoçar. Anahí, momentaneamente sozinha, de tão perdida nos próprios pensamentos não ouviu Alfonso entrar. Ele curvava-se sobre ela com um estetoscópio quando o viu e sobressaltou-se.

— Não faça isso — murmurou impaciente, passando o metal frio em seu peito por baixo da camisola larga. — Respire normalmente.

Isso era difícil com o rosto dele tão perto. Ela manteve os olhos fechados, para não precisar ver aquela pele morena, os fartos cabelos lisos pretos, os olhos verdes. Não ousava fitá-lo. Doía demais.

Ele se afastou e observou-a abrir os olhos, que não fitaram os seus.

— Estou bem — informou.

— Eu sei. — Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Como está seu apetite?

— Como tudo que põem na minha frente.

— Não é verdade. Você toma a sopa, come a gelatina e deixa todo o resto. Assim não dá. Precisa comer proteínas.

— Estou com gases — respondeu com certa beligerância. — Não sobra espaço para a comida.

— Vou prescrever um remédio para resolver isso. — Ele fez uma anotação na ficha. — Coma ou serei obrigado a lhe dar alimentação intravenosa.

— Está bem — disse, irritada. — Fitou-o e desviou novamente o olhar. — Como vai minha gatinha?

Ele sorriu os olhos brilhando.

A paciente (Adaptada) ayaOnde histórias criam vida. Descubra agora